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Entrevista de Michel Alaby no Jornal O Tempo

Especialistas não acreditam em 3ª guerra mundial por causa de ataque ao Irã

No Brasil, uma chuva de memes na internet mostrou que a população está dividida entre fazer piada da situação e sentir medo de um conflito mundial

Por RAQUEL PENAFORTE

03/01/20 – 17h55

General iraniano Qassim Suleimani morto em ataque dos EUA

Foto: KHAMENEI.IR / AFP

A notícia do assassinato do general iraniano Qassem Suleimani, em um ataque americano na madrugada desta sexta-feira (3), em Bagdá, provocou reações em todo o mundo.

Aqui no Brasil, uma chuva de memes na internet mostrou que a população está dividida entre fazer piada da situação e sentir medo de uma possível terceira guerra mundial. Especialistas em relações internacionais, entretanto, afirmam que ainda é cedo para falar em um conflito mundial.

“No cenário político, o evento ainda está em escala regional. No contexto europeu, os principais aliados dos EUA foram os que apresentaram maior preocupação. No contexto mundial, ainda é um pouco incerto. Ambos os lados demonstraram não ter o desejo de conflito direto”, afirmou o doutor em relações internacionais Pedro Neves.

O consultor em comércio exterior Michel Alaby também disse que ainda é cedo para pensar em guerra. “Acredito que é mais uma guerra de twitters entre o Trump e o 1o. Ministro iraniano. Devemos esperar o desenrolar dos acontecimentos. Rússia, China e os países europeus estão colocando panos tentando apaziguar os ânimos”, disse.

A principal preocupação é o aumento do preço do combustível, tendo em vista que o Iraque é uma das principais regiões petrolíferas do mundo. “Já podemos observar que o preço do petróleo subiu, o real se desvalorizou, as bolsas de valores caíram no mundo. O perigo maior será o Irã fechar a passagem do estreito de Ormuz , onde passa todo o petróleo proveniente do golfo arábico (pérsico) . A consequência principal é aumentar a instabilidade da região já tão conturbada”, alertou Alaby.

Entre especulações e incertezas sobre os próximos eventos após o ataque, a preocupação dos especialistas é sobre a resposta dada pelo Irã que prometeu vingança sobre o assassinato.

“Se a gente observar o padrão de comportamento das retaliações, a gente pode esperar algo vinculado à embaixadas ou representação diplomática dos EUA, tanto na região, quanto fora. Se a gente pensar na representação do EUA, os alvos podem ser executados por aliados iranianos”, afirmou Neves.

 

Confira as entrevistas na ítegra; 

(Pedro Neves – Doutor em relações internanacionais
Michel Alaby – Consultor de comércio exterior)

Quais as principais consequências do ataque para os brasileiros?

PEDRO NEVES: Desde as primeiras horas do dia tenho acompanhado o que as pessoas aqui tem falado sobre o ataque. Nos últimos anos não tivemos nada tão significativo entre EUA e Irã, e é claro que as pessoas estão ansiosas sobre o que pode acontecer.

Dois comentários me chamaram a atenção: aumento do preço dos combustíveis, que, apesar de ser especulativo ainda, há o risco de aumento.

No cenário político, o evento ainda está em escala regional. No contexto europeu, os principais aliados dos EUA foram os que apresentaram maior preocupação

No contexto mundial, ainda é um pouco incerto. Ambos os lados demonstraram não ter o desejo de conflito direto.

MICHEL ALABY: Acredito que é mais uma guerra de twitters entre o Trump e o 1o. Ministro iraniano. Devemos esperar o desenrolar dos acontecimentos. Rússia, China e os países europeus estão colocando panos tentando apaziguar os ânimos.

Com a notícia do ataque, milhares de meme começaram a surgir na internet e brasileiros pedindo Ao Bolsonaro para que não “fale bobagem”. Um posicionamento político do líder brasileiro podem trazer algum tipo de consequência para o Brasil?

 

PEDRO NEVES: A gente está vivendo um momento que pode ser entendido como guerra cinzenta, ou período de interpretações equivocadas. Se um dos lados faz uma interpretação errada sobre o que os EUA declaram ou sobre o que o Irã declara, corre o risco das decisões que podem ser tomadas tanto pelo Trump ou ministro das relações exteriores do Irã, Javad Zarif, não terem condições de segurar os tipos de desdobramento que podem, acontecer para fora da região.

Ou seja, apoiar um conflito, defender ou condenar, podem aumentar o risco para ambos os estados. O que tem sido mais falado no mundo é termo de escalada. Desde que assumiu a presidência, Trump começou a regredir nos acordos internacionais.

Quando o Trump se retira, começa apresentar nova proposta para região que é, pressionar o governo do Irã e aguarda uma contradição.

Precisamos pensar qual é a razão desse evento: assassinar um braço dentro do Iraque. Por que só agora ele foi assassinado? Qual trunfo de informação que o governo dos EUA tem diante da possível retaliação do Irã que poderia aumentar a vulnerabilidade do estado Iraniano? É um cálculo difícil. Nós, do outro lado do mundo só acompanhamos, mas podemos dizer que os EUA estão tentando criar um espaço para que o Irã se contradiga em possível retaliação. Mas é um risco alto.

MICHEL ALABY: O Irã é um grande comprador de proteínas e açúcar. Vendemos mais de 1 bilhão de dólares para o Irã. Não acredito que um posicionamento a favor de Trump possa trazer consequências imediatas para o Brasil. Não esqueçamos que o presidente Trump e candidato à reeleição e criou um fato que o ajuda internamente.

Quais possíveis alvos de ataques do Irã?

PEDRO NEVES: Não dá para apresentar certezas sobre os próximos movimentos. O que foi pontuado pela liderança iraniana é que haverá retaliação. Se a gente observar o padrão de comportamento das retaliações, a gente pode esperar algo vinculado à embaixadas ou representação diplomática dos EUA, tanto na região, quanto fora. Se a gente pensar na representação do EUA, os alvos podem ser executados por aliados iranianos.

MICHEL ALABY: Acredito que podem ser as  bases americanas nos países próximos, tais como a Arábia Saudita, Bahrain e Catar. Mas são hipóteses. Não convém adiantar os fatos.

O ataque pode provocar o fechamento o Ormuz e trazer consequências para a produção e distribuição de petróleo no mundo?

PEDRO NEVES: O que acompanhei foi movimentação de tropas, nenhum tipo de circulação de navios, não teve nenhum tipo de manifestação iraniana neste contexto. Mas há um risco. Estamos todos em stand by, acompanhando.Agora é tudo especulativo, a produção e distribuição de petróleo é constante e este ataque faz com que principais investidores atuem de forma ofensiva, tanto que, se observarmos os índices vemos uma variação desigual. Esta é uma questão sensível para todos, pode gerar efeitos negativos inclusive para os envolvidos.

MICHEL ALABY: Traria problemas para a passagem dos navios. O preço do petróleo dispararia. O Brasil e produtor também, a Venezuela, a Rússia, a Nigéria, entre outros países fora do conflito. Logicamente, traria consequências para o preço do combustível no Brasil, principalmente do diesel e da gasolina.

https://www.otempo.com.br/mundo/especialistas-nao-acreditam-em-3-guerra-mundial-por-causa-de-ataque-ao-ira-1.2280732

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