O Índice de Atratividade Global ( Global Attractiveness Index) 2020, publicado pelo fórum The European House – Ambrosetti, que faz um ranking que mede a atratividade para receber investimentos de 144 economias no mundo, colocou apenas 3 países latino-americanos entre os 50 mais atrativas em 2020, sendo o Brasil o mais bem colocado da região, em 41º lugar no ranking geral. México, em 43º lugar e o Chile, em 45º são os outros 2 latino-americanos.
Entre as posições 50 e 100, encontramos vários outros latino americanos, como o Uruguai (66º), Panamá (70º), República Dominicana (74º), Peru (82º) Equador (84º), Costa Rica (88º), Colômbia (91º), Argentina (92º) e Paraguai (95º). Outros paíises latino americanos se encontram nas piores posições do ranking, como a Guatemala (104º), Bolívia (116º), Honduras (120º), El Salvador (122º), Nicarágua (130º), Venezuela (137º) e Haiti (141º).
Para entender o que esse ranking e o posicionamento do Brasil e das demais economias latino-americanas significa, faremos algumas contextualizações.
O que é o Forum European House – Ambrosetti
European House – Ambrosetti é uma conceituada agência de consultoria italiana fundada em 1965, que tem entre seus valores a seguinte crença: Sem empreendedores, não há crescimento e sem crescimento, não há futuro. Anualmente, a empresa realiza o Fórum European House- Ambrosetti, em que participam homens e mulheres relevantes da política, dos negócios.
Entre os participantes desse fórum ao longo dos anos ,já estiveram figuras como Bill Gates, Henry Kissinger, José Maria Aznar, Cardeal Joseph Ratzinger (o Papa Emérito Bento XVI), José Manuel Durão Barroso, a Rainha Rania Al Abdullah, da Jordânia, o ex-candidato republicano à Casa Branca, Senador John McCain e o atual postulante ao cargo pelo Partido Democrata e vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden e o Papa Francisco.
Nos últimos 5 anos, após o evento é lançado o Global Attractiveness Index, a lista das 144 economias mais atrativas para receber investimentos em todo o mundo.
Como é feito o ranking GAI – Indice de Atratividade Global European House – Ambrosetti
O GAI (Global Attractiveness Index) leva em conta quatro critérios: abertura, inovação, talento e eficiência. 144 economias mundiais são avaliadas de uma perspectiva ampla, em que são analisadas de maneira comparativa naquele período fatores econômicos, sociais, culturais, de inovação, eficiência, abertura e diálogo com os países estrangeiros e o talento humano de cada uma delas.
A economia mais bem avaliada do período recebem a pontuação 100, e as demais economias recebem pontuações comparadas àquela que recebeu a pontuação máxima. O interessante desse critério é que se permite analisar não somente fatores perenes de competitividade de cada país, mas também ações e fatos recentes, que o tornaram mais atrativo para receber investimentos.
Os 10 melhores ranqueados são classificados como alta atração, enquanto são considerados de atração média os países classificados até 50. A partir da 51ª posição, os países são considerados de baixa atração, o que significa que há pouco interesse em fazer negócios com eles ou investir em suas economias.
As 10 economias mais atrativas do mundo segundo o ranking GIA
- Alemanha – 100 pontos
- Estados Unidos – 99,61 pontos
- Cingapura – 90,51 pontos
- Japão – 90,06 pontos
- Reino Unido – 89,17 pontos
- Hong Kong – 87,89 pontos
- China – 82,13 pontos
- Canadá – 80,75 pontos
- Coréia do Sul – 80,06 pontos
- Holanda – 79,86 pontos.
Análise:
Esse ranking deve ser visto como se estivéssemos comparando os tempos de corredores que disputam a final olímpica de uma prova de velocidade. Todos eles são rápidos, mas alguns são simplesmente muito mais rápidos que os outros.
A Alemanha foi a grande campeã de atratividade do período, superando por muito pouco os Estados Unidos. O segundo bloco seria formado pelas economias em torno de 90 pontos, Cingapura, Japão, Reino Unido e Hong Kong e o terceiro por aquelas próximas de 80 pontos, China, Canadá, Coréia do Sul e Holanda.
A América Latina no Ranking GIA
A posição dos países latino americanos nesse ranking reflete a estagnação econômica que a América Latina como um todo têm atravessado nos últimos anos, e que tende a perdurar, como já apontamos nesse artigo, que fala sobre tendências econômicas do mundo para os próximos 10 anos.
41 – Brasil – 44,76 pontos
43 – México – 43,46 pontos
46 – Chile – 39,80 pontos
66 – Uruguai – 27,56 pontos
70- Panamá – 26,87 pontos
74 – República Dominicana – 26,46 pontos
82 – Peru 24,87 pontos
84- Equador – 24,42 pontos
88 – Costa Rica – 23,17
91 – Colômbia – 22,51 pontos
92 – Argentina – 22,15 pontos
95 – Paraguai – 20,32 pontos
104 – Guatemala – 16,87 pontos
116 – Bolívia – 12,36 pontos
120 – Honduras – 11,13 pontos
122 – El Salvador – 10,88 pontos
130 – Nicarágua – 9,34 pontos
137 – Venezuela – 5,74 pontos
141 – Haiti – 4,35 pontos
Dados adicionais:
Existem apenas três economias menos atraentes para investimentos que o Haiti: Guiné (3,22 pontos), Burundi (2,05 pontos) e Serra Leoa (0,14 pontos). Além desses 3 países, e do próprio Haiti, a Venezuela só está em melhores condições para atrair investimentos do que Gâmbia (5,61 pontos), Malauí (5,29 pontos) e Iêmen (4,41 pontos).
Deve-se levar em conta que todos esses países têm um longo histórico de pobreza, instabilidade política e conflitos armados internos, que desencorajam qualquer investimento externo, independentemente do critério que se use para ranquear sua competitividade. Mas há Venezuela era uma democracia relativamente próspera duas décadas atrás.
A posição do Brasil no Ranking de atratividade de investimentos
Utilizando novamente a metáfora esportiva, exaltar posição brasileira como economia mais atrativa da América Latina equivaleria a colocar o Brasil como uma potência olímpica em função da posição no quadro de medalhas dos Jogos Pan-americanos, quando sempre estamos entre os 3 primeiros colocados e ganhamos medalhas em praticamente todos os esportes. Mas, quando disputamos os Jogos Olímpicos, a realidade da nossa posição mundial se impõe.
Considerando que o Brasil é a maior economia da América Latina, uma das 10 maiores do mundo, e que concentra 40% da população e do mercado consumidor da região,(leia esse artigo para saber mais) não fazemos mais do que a obrigação em estarmos nessa posição. Curioso é o Chile, com um PIB que não chega a 300 bilhões de dólares, e aproximadamente 19 milhões de habitantes, ser quase tão atrativo a investimentos quanto o Brasil.
Como ter uma economia mais atraente para receber investimentos estrangeiros
Para sermos mais competitivos na atração de investimentos estrangeiros, existe uma grande lição de casa a ser feita. Ela passa por uma simplificação e diminuição da carga tributária. Simplificação da legislação como um todo, em especial da parte trabalhista e de proteção aos investimentos estrangeiros, segurança jurídica, governança, e investimentos em infraestrutura e educação. A lista é longa, e inclui ações que terão efeito no curto, médio e longo prazos.
Mas no curtíssimo prazo, o que podemos fazer é ser mais inteligentes, pragmáticos e por que não dizer, profissionais. É preciso passar ao mundo a mensagem de que o Brasil é um destino seguro para investimentos estrangeiros.
Um exemplo de como não estamos fazendo isso é a ameaça da Alemanha, e principalmente da França de não ir em frente com o Acordo União Europeia – Mercosul em função de questões ambientais e sanitárias brasileiras. Apesar de realmente existir um problema e os governos desses países estarem respondendo a uma demanda legítima de eleitores para quem a questão ambiental é relevante, nem todos os motivos são tão puros assim.
Não é segredo para ninguém que os agricultores desses países temem a concorrência dos produtos do agronegócio brasileiro, e pressionam seus governantes. Se a questão das queimadas não fosse o pretexto para atrapalhar o acordo, provavelmente seria algum outro. É justamente por causa disso, para superar esses obstáculos que o Brasil precisa de habilidade e diplomacia. Algo que vem faltando nos últimos tempos.