como será o mundo em 2030 para o comércio internacional

Como será o mundo em 2030 para o comércio internacional

Como será  mundo em 2030? Hoje, a situação da economia mundial inspira preocupação em função dos efeitos da pandemia de Covid-19. O Brasil, em especial, é motivo de preocupação, já que atravessamos um período de crise desde 2014, e o crescimento mais robusto que parecia estar se apresentando para 2020  foi adiado, fazendo com que a maioria das empresas brasileiras se concentre na sobrevivência de curto e médio prazos, esperando crescer em 2021.

Apesar do cenário de lutar pela sobrevivência no curtíssimo prazo, as empresas realmente vencedoras serão aquelas que se  planejarem para o longo prazo, se preparando não somente para competir no mercado brasileiro, onde podem ter de enfrentar uma concorrência cada vez maior de competidores estrangeiros, como nos diversos mercados internacionais. Em ambos os casos, acreditamos que as que ainda não se internacionalizarem devem fazê-lo o quanto antes.

Existem vários possíveis cenários para o comércio mundial, que podem variar de um aumento do protecionismo à regionalização continental, para evitar a dependência da produção centralizada na China como vimos nas últimas décadas. A única certeza que temos é que o mundo de 2030 será o resultado da disputa acirrada que vemos hoje entre China e Estados Unidos pela liderança política, econômica e científica do planeta.

Prever o futuro continua sendo uma arte ingrata, e nossa bola de cristal funciona tão bem, ou tão mal, quanto todas as outras. Mas existem tendências com grandes chances de se concretizar, que podem ser as grandes oportunidades para as empresas que se prepararem, planejando seus movimentos para elas.

Essas tendências, tanto para o Brasil como para outras regiões do mundo, foram apresentadas em um estudo muito bem elaborado Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que agora analisamos.

 

Como será o Brasil em 2030

 

Dizer que o Brasil de 2030 será o resultado das escolhas que fizermos hoje chega a ser de uma ridícula obviedade. Mas o fato é que o Brasil passa por um momento em que as escolhas estão se apresentando. Se elas forem corretas, proporcionarão o aumento da riqueza do país e a consequente melhora do padrão de vida dos brasileiros. Se não forem, perpetuaremos a situação brasileira de ser um eterno país do futuro, com um enorme potencial que jamais se concretiza.

Para indicar quais seriam, na nossa opinião, as escolhas corretas,  analisamos tanto os setores em que o Brasil é competitivo, como aqueles em que precisa se tornar, ou até mesmo, voltar a ser.

Energia limpa, sustentável e renovável.

O resultado dos esforços que se fazem hoje no mundo por sustentabilidade, como por exemplo tornar os carros elétricos mais eficientes e acessíveis, talvez ainda demore para chegar ao Brasil com a mesma força que se apresenta na Europa e Estados Unidos, mantendo esse tipo de veículo como um privilégio para poucos, um nicho de mercado. No Brasil, esse nicho será maior, mas dificilmente deixará de ser um nicho.

Mas isso não significará que não iremos fazer esforços por uma matriz energética que tenha menos impacto ambiental, trocando os combustíveis fósseis, por uma matriz energética mais sustentável que incluirá energias limpas e renováveis como etanol, biodiesel, gás, energia hidrelétrica e solar. Essa matriz energética mundial será muito variada, com cada região aderindo à forma de geração e distribuição mais economicamente viável para a sua realidade e suas vantagens competitivas naturais.

Agronegócio

Motor da economia brasileira há um bom tempo, o agronegócio deve manter essa posição de destaque, mas isso com certeza não significa que poderá deitar sobre louros passados e abrir mão de investir em desenvolvimento tecnológico para manter padrões de sustentabilidade, se mantendo capaz de preservar o meio ambiente e atender à crescente demanda que virá de regiões do mundo cuja população crescerá e se tornará mais rica, consumindo mais alimentos.

Em 2030, veremos a alta tecnologia fazer cada vez mais parte do agronegócio, com a adoção da agricultura de precisão, biotecnologia genômica, nanotecnologia, automação e robótica para digitalização do campo. O consumidor de 2030 pedirá alimentos funcionais, que possam entregar mais do que suas funções nutricionais básicas, contribuindo, por exemplo, para a prevenção de doenças. Ao mesmo tempo, eles terão de ser mais duráveis, com datas de validade estendidas, o que pede embalagens inteligentes.

É importante lembrar que hoje, em 2020, muitos consumidores associam o surgimento da COVID-19 à interferência do ser humano sobre a natureza e à cuidados sanitários insuficientes em relação à produção e manipulação de alimentos. E essa percepção deve perdurar. Então, além do baixo impacto ambiental, o agronegócio em 2030 terá de ter garantias ainda maiores em relação à segurança sanitária.

Setor Industrial

O setor industrial brasileiro terá um desafio duplo para chegar competitivo a 2030. Não somente terá de desenvolver e implantar tecnologias não poluentes e ter rígidos controles ambientais, como terá de investir em qualidade e tecnologia e processos para entregar produtos melhores e de menor custo, para poder disputar o mercado brasileiro, do Mercosul e internacional.

Sem esse investimento em competitividade, a indústria brasileira continuará dependendo de proteção de mercado e acordos comerciais para ser competitiva. E não custa lembrar que estes são arranjos políticos que podem mudar de acordo com as circunstâncias, não vantagens sistêmicas.

Infraestrutura

Mais do que nunca a questão de que o Brasil é um país continental que precisa de uma infraestrutura de acordo está posta. Segundo Cláudio Frichak, presidente da Inter B consultoria de negócios, o custo da logística no Brasil atinge entre 11 a 11,5% do PIB, enquanto nos países em desenvolvimento o máximo é de 8% a 9%, inclusive na Rússia, pais de maior extensão territorial do mundo. Segundo ele, o transporte de cargas por caminhão, que no Brasil chega a ter rotas de milhares de quilômetros, só é rentável até 500 ou 600 kms.

O cenário ideal de 2030 seria o de modais integrados, dando à logística no Brasil o ganho de escala e a flexibilidade que precisa, utilizando em uma mesma rota estradas de ferro navegação, fluvial e de cabotagem, e transporte por caminhão em estradas modernas e seguras. Esse sistema de logística interna seria conectado a um sistema de logística internacional, com portos e aeroportos modernos.  Só assim reduziríamos os custos de importação e exportação para tornar nossa economia mais competitiva como um todo.

Para isso, são condições sine qua non as privatizações e concessões de portos, aeroportos e todas as demais estruturas logísticas que precisem de investimento. É preciso tomar cuidado com o discurso que coloca o Estado como principal agente desses investimentos, pois uma coisa é injetar dinheiro na economia em um momento de emergência, como esse da pandemia. Outra, completamente diferente é achar que o Estado deva ser o investidor e gestor desses investimentos, onde ele já mostrou suas deficiências e limites.

Tecnologia

Finalmente, temos a questão da tecnologia, que nesse momento o item crucial é a internet 5G. Entre os entusiastas da tecnóloga, fala-se não somente de um download/upload de dados muito mais rápido para serviços que temos hoje, mas de toda uma economia baseada na Internet das coisas, que inclui desde casas inteligentes, que detectam vazamentos de água e panes elétricas antes que eles causem danos até carros e drones autônomos, que seriam uma revolução logística.

A própria medicina, que depois da pandemia começou a aceitar melhor a ideia da telemedicina, poderá ter sua própria revolução, com sensores e chips adesivos ligados ao corpo dos pacientes.

A grande questão é se o Brasil vai trazer essa tecnologia dos Estados Unidos ou da China, que é mais um item da disputa entre os dois gigantes pela liderança econômica e política global. E, nessa situação, o Brasil está na incômoda situação de não ter peso político global para influir na disputa, mas ser um mercado grande demais para ser ignorado, o que o coloca sob pressão de ambos os contendores, que são também os dois principais parceiros comerciais do Brasil.

Não temos o conhecimento técnico para indicar qual acordo traria a melhor relação de custo x benefício ao Brasil, e por isso, não vamos opinar. Mas só podemos esperar que ela seja feita levando em conta os melhores interesses do Brasil, deixando em segundo plano as preferências ideológicas. Independentemente de, no curto prazo, as prioridades sejam reativar a economia depois do baque causado pela pandemia, se beneficiará das tendências futuras quem se preparar para elas. Então, a transformação positiva precisa começar já.

 

Como estarão os principais mercados mundiais em 2030

Considerando que as exportações serão essenciais para a recuperação da economia brasileira no curto prazo e para o seu crescimento nos médio e longo prazos, esse estudo também dividiu o mundo em alguns grupos de países nos quais os exportadores brasileiros têm interesse, e que serão fundamentais para o Brasil nos próximos 10 anos. As regiões são América do Norte e Europa Ocidental, América Latina, Oriente Médio, Leste Asiático, Sul e Sudeste Asiático, África Subsaariana,

 

1) América do Norte e Europa Ocidental.

 

Região mais rica e afluente do mundo, deverá manter uma tendência de baixo crescimento populacional, com crescimento da renda per capita, que indica uma maior demanda por serviços e bens de consumo sofisticados.

 

2) América Latina

Olhando a América Latina como um todo, não se apresenta nos países da região a tendência de grandes mudanças macroeconômicas, indicando para os próximos 10 anos uma tendência de baixo crescimento populacional e econômico, o que deverá manter renda per capita estagnada.

3) Oriente Médio

Englobando Arábia Saudita, Bahrein, Catar Chipre, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Irã, Israel, Iêmen, Jordânia, Kuwait, Líbano, Palestina, Omã, Síria e Turquia. Essa região apresenta uma tendência de crescimento populacional aumentando a demanda por alimentos;

4) Leste Asiático

Considerando Japão, China, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Hong Kong, Taiwan, Mongólia e Macau. Pela presença de tantas economias pujantes como China, Japão e Coréia do Sul, será uma região que experimentará grande crescimento econômico e da renda per capita, e que aumentará a sua participação percentual na riqueza mundial .

5) Sul e Sudeste Asiático

Englobando Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão, Sri Lanka, Brunei, Canbodja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Miamar, Singapura, Tailândia, Timor Leste e Vietnã. A região passará por grande crescimento populacional e econômico, com o aumento da renda per capita puxado pela Índia e pela relação com os países mais ricos do Leste Asiático.

 

6) África Subsaariana

Englobando África do Sul, Angola, Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Camarões, Cabo Verde, Chade, Congo, Costa do Marfim, Djibuti, Guiné Equatorial, Eritreia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Ilhas Comores, Lesoto, Libéria, Madagascar, Ilhas Maurício, Moçambique, Namíbia, Niger, Nigéria, Quênia, República Centro Africana, Ruanda, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Somália, Sudão, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.

É impossível dizer se as disputas políticas e militares que não raro travavam o desenvolvimento econômico africano e penalizavam sua população diminuirão, mas há indicativos de que a região terá crescimento populacional finalmente acompanhado de taxas mais elevadas de crescimento econômico, com aumento da renda per capita e da demanda por bens de consumo e insumos.

Essas são as macro tendências para o Brasil e o mundo. Estão postas oportunidades e ameaças. Caberá a cada empresa se preparar para saber lidar ou até lucra com elas.

 

 

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