Oportunidades e ameaças do Brexit

Brexit – O que as empresas brasileiras precisam saber

Brexit, uma abreviação para British Exit, ou “saída britânica” é como foi batizada a saída do Reino Unido (Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales) da União Europeia (EU), decidida em um plebiscito realizado em 23 de junho de 2016. Só permaneceu ligada ao Bloco Europeu, também por decisão de seus eleitores, referendada por seu parlamento, a Escócia que é um território britânico semiautônomo.

 

A decisão dos eleitores britânicos, que surpreendeu muita gente, foi formalmente comunicada à União Europeia em março de 2017. Mas, contrariando o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que regula casos como esse e previa uma saída em dois anos, portanto em março de 2019, o Brexit só foi concretizado no 31 de janeiro de 2020, às 23h, horário de Brasília.

 

Foi a primeira saída de um país membro desde que, em 1957 o Tratado de Roma criou a Comunidade Econômica Europeia, um acordo alfandegário entre França, Itália, a então Alemanha Ocidental e os três países do BENELUX (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), que seria a origem do Mercado Comum Europeu, inspirador de muitos acordos semelhantes, como o Mercosul, e finalmente, da União Europeia.

 

As razões do Brexit

 

Apontar as razões do Brexit não é uma tarefa das mais simples, principalmente por ter sido resultado de um referendo, em que cada eleitor pesa, usando a emoção e a razão, seus próprios motivos econômicos e político-ideológicos.

 

O que se pode afirmar com certeza é que o “casamento” entre o Reino Unido e a União Europeia nunca foi harmonioso. Da mesma maneira que uma parte dos cidadãos britânicos tinha um certo ressentimento da grande presença de estrangeiros no país, muitos políticos locais denunciavam constantemente uma suposta “crescente interferência de Bruxelas” em assuntos que só deveriam dizer respeito aos britânicos.

 

Por razões como essas, a Grã-Bretanha nunca adotou a moeda única, o Euro, sempre colocou obstáculos à circulação de estrangeiros, constantemente pedia redução de sua participação no orçamento europeu e recusava uma integração política maior.

 

Na opinião de alguns analistas, quando o então Primeiro Ministro David Cameron, um entusiasta da União Europeia, convocou um plebiscito para decidir sobre a questão, ele esperava enterrar de vez a questão. Entretanto, com alguns políticos britânicos levantando a bandeira do Brexit e uma campanha nas mídias sociais que até hoje gera discussões sobre os métodos utilizados, a questão do livre trânsito de pessoas e da interferência de Bruxelas engajou mais eleitores britânicos do que a ameaça de grandes perdas econômicas. E o Brexit acabou vencendo.

 

As consequências do Brexit para o Reino Unido.

 

Independentemente do viés político do analista, é inegável que as primeiras consequências do Brexit para o Reino Unido são negativas. Durante o período de transição, que dura até 31 de dezembro de 2020, o país terá de pagar o valor de 30 bilhões de Libras Esterlinas à União Europeia. Seus cidadãos deixam de pertencer à Comunidade Europeia e suas empresas deixam de ter acesso a um enorme mercado consumidor praticamente cativo, e sem tarifas alfandegárias. Uma questão que terá de ser tratada por Reino Unido e União Europeia com novos acordos comerciais, e nada indica que eles serão fáceis.

 

Tudo isso obviamente terá um impacto no crescimento econômico do Reino Unido. O FMI, Fundo Monetário Internacional, prevê um efeito recessivo no país, com um encolhimento mínimo de 1,5%, podendo chegar a 9,5%, o que equivaleria a uma brutal depressão econômica.

 

Por outro lado, há quem acredite que com o Brexit, o Reino Unido terá mais liberdade para efetuar acordos econômicos com outros países, gerando resultados positivos na economia local em poucos anos. Tudo dependerá de como esses acordos serão negociados e quais serão as contrapartidas, não só econômicas, mas trabalhistas e ambientais.

 

Na visão dos entusiastas do Brexit, os grandes players do mundo, como Estados Unidos, China e Rússia, demonstram força e desenvoltura nas arenas do comércio e da geopolítica mundiais porque suas decisões dependem somente deles mesmos, não precisando levar em conta os interesses de pessoas, empresas e organizações políticas fora de suas fronteiras. A promessa do Brexit, para essas pessoas, é que sem estar submetido à “burocracia de Bruxelas”, o Reino Unido venha a demonstrar força e desenvoltura semelhantes. A conferir.

 

Como o Brexit afeta a (EU) União Europeia

 

Não sobrou outra opção à União Europeia além de aceitar a decisão dos eleitores britânicos. Para qualquer bloco econômico, a saída de uma das dez maiores economias do mundo é uma perda no sentido da quantidade de riqueza e do tamanho do mercado consumidor que ele representa.

Mas a maior ameaça potencial à UE seria se, em outros países do Bloco, grupos políticos com viés ultranacionalista, inclusive aqueles que tentam disfarçar uma atitude xenófoba sob o discurso da defesa da soberania e da cultura nacionais, se sentissem tentados a imitar a experiência britânica.

Se as previsões de retração da economia do Reino Unido, com a consequente queda de padrão de vida da população, se confirmarem, o discurso contra a União Europeia perderá muito de sua força. Mais um cenário que deverá ser observado daqui para frente. Inclusive se, no médio prazo, a economia britânica tiver um boom e isso for relacionado ao Brexit.

 

 

Efeitos do Brexit para os países e blocos fora da União Europeia

 

Hoje, há 750 acordos que abrangem 168 países não pertencentes à União Europeia que deverão ser adaptados à nova realidade. Esses acordos compreendem todos os países-membros, que devem respeitar a unicidade como se houvesse para cada um deles acordos individuais.

Muitos dos acordos que foram feitos levando em consideração o Reino Unido como parte da UE talvez tenham de ser revistos e retificados. Sem falar dos novos acordos que precisarão ser feitos entre esses países e o próprio Reino Unido.

 

Oportunidades e ameaças do Brexit para o Mercosul

 

O acordo entre Mercosul e União Europeia foi assinado em 2019, depois de quase 20 anos de negociações. Ele garante o acesso de empresas de ambos os blocos a diversos segmentos de serviços, abre o mercado de licitações da UE para empresas brasileiras e agiliza e reduz custos de importações, exportações e trânsito de bens.

Do mesmo modo que o Mercosul terá de retificar seu acordo com a União Europeia, terá de fazer novos acordos com o Reino Unido para ter condições vantajosas naquele mercado. A princípio, os britânicos dificilmente terão razões para se opor a um novo acordo com o Mercosul. Afinal, uma das razões do Brexit foi justamente a possibilidade de celebrar as alianças comerciais que fizessem mais sentido para o Reino Unido.

A ameaça a um bom entendimento entre as partes pode estar deste lado do Atlântico, em nossa vizinha Argentina. Buenos Aires tem relações conturbadas com Londres desde a Guerra das Malvinas, e essa questão, que apela ao orgulho nacional argentino, já foi levantada no passado mais ou menos recente, quando serviu como distração para situações políticas e econômicas difíceis. Nos resta torcer para que os responsáveis por tratar dessa questão tenham bom-senso.

De qualquer forma, a questão está colocada e teremos de esperar para ver quanto tempo levará para se negociar um acordo Mercosul-Reino Unido. A tendência é de normalização e uma sequência positiva para o comercio internacional, de maneira geral.

 

O comércio bilateral Brasil – Reino Unido após o Brexit

 

É provável que as consequências do Brexit para o Brasil não sejam tão negativas, mesmo com a queda do PIB britânico em um primeiro momento. Alguns setores, como o agronegócio, têm potencial de crescimento. Cerca de 50% de tudo o que o Reino Unido consome de alimentos e bebidas é importado. Mas de acordo com o governo britânico, somente 4% dos alimentos consumidos pela população vêm da América do Sul, principalmente do Brasil. Ou seja, fazendo bons acordos entre produtores brasileiros e compradores britânicos, há muito mercado para disputar e espaço para crescer.

Mas é lógico que há um trabalho a ser feito para isso, como a necessidade de se conhecer e dominar novos trâmites, leis e regras, bem como a questão logística entre os dois países. Para ajudar os produtores e empresas interessados naquele mercado, o governo Brasileiro lançou a plataforma Brazil Brexit Watch, Observatório Brasileiro do Brexit, com esclarecimentos gerais sobre o Brexit, atualizado de acordo com as informações divulgadas pelo governo britânico.

 

O Brexit muda a relação Brasil União Europeia?

 

A relação comercial entre União Europeia e Brasil não muda quase nada, porque apesar de o Brasil ter um fluxo comercial relevante com o bloco, US$ 48,2 bilhões, cerca de 20% de nossas exportações, o Reino Unido não era nosso principal parceiro econômico no Velho Mundo.

 

Os principais destinos das exportações brasileiras para a Europa são os seguintes:

– Países Baixos (Holanda)

– Alemanha

– Espanha

– Itália

– Bélgica

 

Esses e os demais países da União Europeia importam principalmente:

– Farelos e resíduos da extração de Óleo de soja

– Minérios de ferro e seus concentrados

– Soja

– Café cru em grãos

– Celulose

 

Em contrapartida, o Brasil importa de países da Europa cerca de US$ 42 bilhões/ano, ou mais de 23% de tudo o que entra no País. Notadamente, são:

– Medicamentos para medicina humana e veterinária

– Produtos manufaturados em geral

– Partes e peças para veículos, automóveis e tratores

– Compostos heterocíclicos, seus sais e sulfonamidas

– Naftas

 

 

 

As oportunidades do Brexit para empresas brasileiras

 

Se como vimos, os impactos negativos do Brexit para o Brasil deverão ser mínimos, já que o Reino Unido representa somente 6,2% de todas as nossas exportações para a Europa, as oportunidades serão enormes. Mesmo que em um primeiro momento a economia britânica sofra uma retração, ainda é uma das 10 maiores do mundo, e isso não é pouca coisa.

 

Mas mais importante que o tamanho do mercado, é o momento histórico único que ele vive. O Reino Unido e seus cidadãos atravessaram um período complicado e penoso, que desde o resultado do plebiscito de 2016 incluiu idas, vindas e trocas de governo, com David Cameron, Thereza May e finalmente Boris Johnson no cargo de Primeiro Ministro.

Os súditos de Elizabeth II passaram por tudo isso para ter o direito de, entre outras coisas, poderem celebrar os acordos comerciais que quiserem, de acordo com seus melhores interesses.

 

Será uma omissão imperdoável das empresas brasileiras se elas não estiverem entre as primeiras da fila para aproveitar as oportunidades.

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