O agronegócio brasileiro é um dos mais competitivos do mundo. Há algum tempo não só é a principal locomotiva econômica e fonte de recursos do país, como é também um setor do comércio internacional em que, ao contrário da indústria, aberturas de mercado nos beneficiariam enormemente, pois os produtos agrícolas e pecuários brasileiros têm preço e qualidade para disputar qualquer mercado do planeta.
Mesmo tendo uma grande produtividade, a da soja brasileira, por exemplo, é de 3.379 kg/ha, a competitividade do nosso agronegócio não vem de somente de fatores naturais, como um clima especialmente favorável, ou de uma grande disponibilidade de espaço para lavouras e pastos. Muito menos depende de desmatamento e queimadas para aumentar sua produção. Ela vem de investimentos em pesquisa, inovação e tecnologia, realizados desde a década de 1970.
E cabe destacar que esse sucesso nos investimentos em pesquisa e inovação foram feitos em conjunto pela EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, uma das raras estatais brasileiras cuja eficiência não pode ser contestada, departamentos de Pesquisa de diversas universidades e empresas privadas.
O agronegócio é parte importante da economia de vários estados brasileiros, inclusive de São Paulo, o mais industrializado. Mas talvez o melhor exemplo para explicar o sucesso do agronegócio brasileiro seja o estado de Mato Grosso.
Investimento em pesquisa, inovação e tecnologia explicam o sucesso de Mato Grosso
O estado do Mato Grosso é maior produtor de soja do Brasil. Dos 125 milhões de toneladas de soja produzidos pelo Brasil na safra 2019/2020, o maior estado da Região Centro Oeste foi o responsável por 35 milhões de toneladas. E isso é o resultado de anos de investimento em pesquisas, inovação e tecnologia
Mas, no início da década de setenta, o Mato Grosso , que hoje também é um grande produtor de milho, girassol e algodão, além de ter um enorme rebanho de cabeças de gado bovino, não era especialmente relevante para a produção agrícola ou pecuária. E a razão disso é que a maior parte das terras de Mato Grosso eram consideradas improdutivas, em função da acidez do solo.
A transformação do Mato Grosso em um case de sucesso do agronegócio se deveu às pesquisas agropecuárias realizadas pela Embrapa, por diversas universidades, e pelos próprios produtores agropecuários, gerando avanços tecnológicos que permitiram a correção da acidez do solo e engenharia genética, para a criação de culturas adaptadas às condições tropicais.
Um exemplo de avanço tecnológico que gerou produtividade foi na cultura da soja, com a fixação biológica de nitrogênio, feita por bactérias, que permitiu que os agricultores brasileiros economizem muito dinheiro na compra de adubos nitrogenados.
O Peso do agronegócio no comércio internacional brasileiro
O Instituto Millenium compilou dados da FAO – Organização para as Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que comprovam que o Brasil está entre os cinco maiores exportadores mundiais, em valor, de aproximadamente 30 produtos agrícolas.
Maior exportador mundial de cana de açúcar, soja, laranja, café verde, caju, fibras, sisal, castanhas do Brasil e culturas oleaginosos – Farelo equivalente.
Segundo maior exportador mundial de oleaginosos, culturas oleaginosas e óleo equivalente.
Terceiro maior exportador mundial de: Frutas cítricas, feijão, abacaxi, mamão papaia e pimenta.
Quarto maior exportador mundial de milho, frutas, tabaco e culturas de fibras primárias.
Quinto maior exportador mundial de cereais, mandioca, semente de algodão, banana, coco, melancia e semente de mamona.
De acordo com o estudo, a colheita de todas as lavouras anuais e perenes atingiu cerca de 1,24 bilhão de toneladas em 2020, não sendo prejudicada pela desvalorização da moeda brasileira em relação ao Dólar.
Efeitos da desvalorização cambial no agronegócio brasileiro
A desvalorização cambial prejudicou diversos setores, como o industrial, que depende muito de peças e insumos importados, cotados em moeda estrangeira, especialmente o Dólar. No caso do agronegócio, aconteceu o contrário. A desvalorização da moeda brasileira barateou os produtos agropecuários do Brasil, que tinha como simplesmente produzir mais, se aproveitando do aumento do poder de compra de outros países.
Uso intensivo de tecnologia
Outra razão que explica o sucesso do Agronegócio Brasileiro é o uso mais intensivo de tecnologia, que pode ser avaliado pelo emprego de máquinas e equipamentos inovadores. Entre 2006 e 2017, o número de estabelecimentos agrícolas que utilizam tratores, por exemplo, aumentou 50%. Em 45 anos, desde 1975, o crescimento foi de 391%.
Acesso a crédito
Ao contrário de muitos concorrentes estrangeiros, O agronegócio brasileiro não precisa de subsídios. Além de competitivo, ele é fortemente capitalizado. Mas cabe observar que apenas 784 mil estabelecimentos agropecuários brasileiros, de um total de mais de 5 milhões, buscaram algum tipo de financiamento para suas atividades.
Origem dos recursos investidos no agronegócio
Um dado interessante é que, dos recursos que foram emprestados por instituições financeiras ao agronegócio, 53% tiveram origem pública e 47% privada. Esse apetite pelo risco demonstrado por instituições financeiras e fundos de investimento privados chama a atenção porque o que costumamos ver em outros setores da economia brasileira é uma excessiva aversão ao risco, que dificulta o investimento, além de exigir uma série de isenções e condições especiais que acabam por onerar o tesouro, e em ultima instância, o contribuinte.
Oportunidades geradas pelo agronegócio brasileiro
O agronegócio brasileiro conseguiu ser extremamente competitivo, e principal categoria de produto brasileiro no comércio internacional, mesmo com o Brasil sofrendo com uma infraestrutura precária de portos e estradas ferro, além de não ter havido grandes investimentos de empresas brasileiras na criação de marcas brasileiras relacionadas ao agronegócio.
Então, existem oportunidades relacionadas ao agronegócio brasileiro, mesmo para quem não planta uma única semente ou cria uma cabeça de boi sequer, que é no investimento em infraestrutura dentro do Brasil e em Marketing fora de nossas fronteiras.
Conclusão
Conforme demonstramos, o sucesso do agronegócio brasileiro dependeu muito menos de um determinismo geográfico ou de uma imensa disponibilidade de mão de obra pouco qualificada no campo. Ele é resultado de investimentos feitos ao longo de décadas em tecnologia, pesquisa e educação, e é um exemplo que deve ser imitado por outros setores, para que o brasil pare de perder indústrias e empregos.