A lógica da globalização econômica sempre foi de que empresas e pessoas não estavam restritas ao seu país de origem para buscar a melhor qualidade e o mais baixo custo na hora de comprar. E nem deveriam estar restritas ao mercado de seu próprio país na hora de vender. Para as empresas internacionalizadas, o mercado era o mundo.
O ambientalismo como força política
Emissões de carbono e outros impactos ambientais não fizeram parte das preocupações da maioria das empresas durante muito tempo. Isso começou a mudar a partir da década de 1970, quando, movimentos de defesa da ecologia se tornaram uma força política a ser considerada, liderando protestos contra empresas que degradavam o meio-ambiente.
Esses movimentos ganharam força a ponto de, na década de 1980, se tornarem partidos políticos bastante relevantes em países como Alemanha e Austrália, com influência suficiente para aprovar legislações que obrigavam a utilização de equipamentos e procedimentos que minimizavam o impacto ambiental e puniam as empresas que não seguissem as regras.
Esses procedimentos diminuíam a degradação ambiental, mas também significavam um aumento de custos de produção para essas empresas, que enxergaram na economia globalizada uma solução, transferindo plantas industriais poluentes para países onde a legislação ambiental fosse menos rigorosa.
O aquecimento global e a questão ambiental como consenso mundial
As mudanças climáticas tornaram perceptíveis às pessoas comuns aquilo que antes somente os cientistas percebiam: que a temperatura da Terra está subindo e, na falta de outra explicação plausível, os responsáveis são os gases de efeito estufa, especialmente o CO2, Dióxido de Carbono, liberado na queima de combustíveis fósseis.
Essa percepção fez com que a questão ambiental ultrapassasse os guetos da militância radical e dos partidos verdes do mundo, para se tornar um consenso quase universal, influenciando, as posições e escolhas das pessoas enquanto eleitores e, principalmente, como consumidores.
A postura de empresas e governos na questão ambiental
O fato de a questão ambiental ter se tornado central influenciou fortemente as decisões de empresas e governos. Os governos não somente são cobrados a criar legislações mais severas quanto à emissão de gases de efeito estufa, como cada vez mais empresas adotaram os protocolos ESG – Environmental, Social, and Governance, Ambiental, Social e Governança, em português.
Mais do que isso, o posicionamento ambiental começou a fazer parte da proposta de valor de diversas empresas, desde a montadora de carros elétricos Tesla, até as brasileiras Natura. e Marfrig A primeira porque é a líder de mercado em carros que não emitem CO2, e as outras porque incluem a sustentabilidade em muitas coisas que fazem, inclusive no design de suas embalagens.
E, para o bem e para o mal, vivemos em uma época em que mesmo pessoas que não fazem parte do público-alvo das empresas são stakeholders que devem ser levados em conta na hora em que elas tomam suas decisões. Ter a imagem associada a um escândalo ambiental que pode gerar avalanches de críticas nas redes sociais, os famosos, ou infames, cancelamentos, é o pesadelo de qualquer gestor de marketing.
A globalização do baixo carbono
Nesse contexto, faz todo o sentido que empresas internacionalizadas procurem não somente os menores custos de produção, e a melhor qualidade possível, mas também o menor impacto ambiental, independentemente de que local do mundo elas, e essas condições, se encontrem, já que mudanças climáticas não reconhecem fronteiras políticas, afetando todo o planeta igualmente.
Mas não significa que será fácil, especialmente no curto prazo. A pandemia de Covid 19 desestruturou as estruturas produtiva e logística do mundo, e não foi diferente no caso da energia. Os preços do petróleo subiram quatro vezes, do gás natural sete vezes e do carvão, duas vezes, porque a demanda por energia, qualquer energia, é alta e tende a crescer com a recuperação econômica mundial. Por isso, no curto prazo os preços dificilmente vão baixar.
Mas, mesmo com o preço dessas energias estando muito mais alto que o normal, infelizmente isso não está funcionando como um estímulo a mais para que se busque as energias mais limpas, porque essas, em sua maior parte ainda estão em uma fase de desenvolvimento tecnológico, não estando tão prontas e disponíveis quanto as energias à base de combustível fóssil. E a demanda para a retomada econômica é de curtíssimo prazo.
A transição energética no longo prazo
Além da questão da mudança da matriz energética, existe a questão da mudança da matriz econômica que depende dela.
Para muitos países, que vão desde os grandes produtores de combustíveis fósseis, como Arábia Saudita e Austrália, até os grandes consumidores, como Estados Unidos e China, que também são produtores, a mudança na matriz energética, das fontes de energia poluidoras, para as mais limpas, passam também por mudanças econômicas. E muitas vezes, elas podem ser traumáticas.
As economias de países do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, dependem do petróleo. A do Qatar depende do gás natural. A Austrália, que também é uma grande produtora de gás, é uma das maiores exportadoras de carvão do mundo, com uma indústria ligada a esse setor que gera 50.000 mil empregos direitos, 300.000 indiretos e US$ 36,7 bilhões em exportações todos os anos.
Diminuir as emissões de gases de efeito estufa é um imperativo para tentar reverter, enquanto é tempo, as mudanças climáticas. Mas é um processo que, no longo prazo, deixará alguns “órfãos”, como toda mudança disruptiva. E por isso, demandará habilidade política e planejamento.