Uma das principais características do modelo chinês de crescimento é o seu planejamento estratégico, que é feito pensando nos próximos 5, 10, 15 e até 50 anos. E mesmo em um momento como o atual, em que a pandemia de Covid-19 torna todas as variáveis que influem no planejamento estratégico ainda mais voláteis, isso não é diferente.
Em seu 14º Plano Quinquenal, a China apresentou seus objetivos de crescimento até 2035, que além de ambicioso, reforça os pilares, ou acrescenta novos, ao modelo que trouxe a China ao seu estágio atual de potência em ascensão.
Como foi o crescimento chinês até hoje
O crescimento chinês começou na década de 1970, tendo como marco a visita do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, que normalizou as relações entre americanos e chineses, para que empresas americanas, e depois de outros países do mundo, pudessem investir no país e produzir lá, atraídas pela abundância e baixo custo de mão de obra.
A entrada de capital estrangeiro levou a China a se transformar na grande fábrica das principais marcas globais, que montaram suas plantas industriais lá para produzir e exportar para os principais mercados consumidores do planeta.
Essa estratégia evoluiu para a criação de marcas chinesas globais, percebidas como valiosas pelos consumidores do mundo inteiro e distantes da reputação de falsificações, ou cópias de baixa qualidade, que os produtos chineses já tiveram, capazes de disputar os mercados mundiais.
A nova estratégia chinesa
A nova estratégia chinesa pode ser resumida em se manter olhando para fora, mas também olhar para dentro, para a imensa classe média de 400 milhões de pessoas, ávidas por mais qualidade de vida e melhor padrão de consumo.
Por isso, a estratégia proposta pelos principais líderes da China para o desenvolvimento econômico e social do país nos próximos cinco anos, que está sendo chamada de Dupla Circulação, é criar um ciclo de demanda e inovação interna como propulsor da economia, o que implica em governança e reforma estrutural do lado da oferta, e manter os mercados e investidores externos como um segundo propulsor econômico.
A estratégia da dupla circulação consiste em tornar a economia chinesa mais dependente da circulação interna, ao mesmo tempo em que é apoiada pela circulação externa, que se relaciona com o comércio e investimentos internacionais.
Como a China pretende estimular seu mercado interno
Esse novo foco econômico da China no seu mercado interno implica em atentar a pontos para os quais nunca deu tanta importância, como o combate à poluição, melhora da estrutura industrial, mudança para um modelo de crescimento impulsionado pelo consumo, redução das desigualdades econômicas e atenção ao declínio da força de trabalho e envelhecimento da população.
Com sua estratégia de dupla circulação, a China está preocupada com um crescimento de melhor qualidade, que proporcione o aumento da renda e do consumo das famílias e de sua qualidade de vida. Só a título de comparação, segundo a OCDE, o gasto das famílias chinesas representa somente 38,5% do PIB, enquanto nos EUA é de 67,9% e no Brasil, 64,5%.
A meta do 14º Plano Quinquenal da China é alcançar uma renda percápita anual de US$ 20 mil em 2035, o que significa dobrar a atual. Se esse objetivo for alcançado, a classe-média chinesa passaria dos atuais 400 milhões para a casa das 700 milhões de pessoas
Como a China pretende atuar no comércio internacional
Obviamente, a China não pretende abdicar do pilar que a colocou na posição de destaque em que está hoje, o comércio internacional, mas tornar a sua participação mais sofisticada, por assim dizer, também priorizando um crescimento qualitativo, visando o enfrentamento da Guerra Comercial com os Estados Unidos.
Todas as estratégias a serem desenvolvidas estão centradas para construir a plena soberania tecnológica, de modo a permitir o domínio tecnológico pleno de setores chave, como a cadeia de produção dos semicondutores e a questão do momento, a internet 5G.
Em resumo, a China pretende ser tecnologicamente autossuficiente, e um plano de investimentos na casa de US$.1,5 trilhão ,já em execução, mostra que o gigante asiático não está para brincadeiras para enfrentar esse desafio, e deverá garantir ampla presença nas cadeias globais de valor.
Oportunidades de negócios para as empresas brasileiras
A concretização desse plano vai fazer com que a China compre ainda mais do que já compra do Brasil, como por exemplo, produtos do agronegócio. Mas significa também uma oportunidade para exportar produtos de maior valor agregado, inclusive manufaturados.
Essas 700 milhões de pessoas que atingirão o padrão de consumo da classe média não somente comerão mais, e melhor. Elas irão vestir, calçar e usar uma grande gama de produtos melhores, em grande quantidade. E ao contrário do que muitos acreditam, a China já é hoje uma grande importadora de manufaturados, além de exportadora.
As empresas brasileiras devem se preparar para aproveitar essa oportunidade, acelerando seus processos de internacionalização e elaborando estratégias de marketing ousadas e agressivas, não somente para as suas marcas, especificamente, mas para a marca Brasil como sinônimo de qualidade na fabricação de diversos produtos.
Então, se estão todos preocupados com qual será a estratégia para o Brasil, e as empresas brasileiras, retomarem o caminho do crescimento no incerto cenário pós-pandemia, a exportação para a China se coloca como opção.
Mas para aproveitar essa oportunidade, é preciso se preparar para isso. O Brasil, e as empresas brasileiras não podem se dar ao luxo de perder mais uma chance de crescimento.
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