pode faltar alimentos no mundo

Pode faltar alimentos no mundo por causa da guerra e barreiras às exportações agrícolas

A frase pode faltar alimentos no mundo causa preocupação desde que Thomas Malthus escreveu, em 1797, que essa possibilidade existia porque a população do planet

a, que crescia em escala geométrica, aumentava muito mais rápido que a produção de alimentos, que crescia em escala aritmética.

 

O desenvolvimento da tecnologia, e consequente aumento da produtividade agrícola e pecuária desde então, desmentiram não somente Malthus, como os Neomalthusianos, corrente de pensamento surgida na segunda metade do Século XX, preocupada com a explosão populacional depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente na China.

 

Embora em momentos, e lugares, específicos da história tenha havido episódios de falta de alimentos, isso sempre se deveu a questões que impediam que o excedente de alimentos de um local chegasse  a outro. E com o grande crescimento da produção mundial de alimentos desde então, levantar essa possibilidade parecia um grande exagero, alarmismo.

 

Porque existe o risco de falta de alimentos em muitos países do mundo

 

A Pandemia iniciada em 2020 causou a paralisação de muitas economias e um caos logístico que desnudou as fragilidades e vulnerabilidades de uma economia globalizada, em que portos abarrotados pelo verdadeiro efeito funil que a paralisação das atividades causou, não davam conta de embarcar e desembarcar todas as mercadorias necessárias, causando escassez.

 

Essa situação se soma a uma alta de preços de soja, milho, trigo e óleos vegetais, que ocorre desde meados de 2020. A volatilidade acentua a incerteza econômica, reduz o investimento das empresas e consequentemente, o crescimento econômico. A inflação acelerada em todo o mundo sintetiza o elevado custo social das transformações em curso, muito maior para os países emergentes.

 

Entretanto, uma série de situações que vão de quebras de safra devido a questões climáticas, até a guerra na Ucrânia, que já ultrapassou 3 meses de duração e não dá sinais de que veremos seu fim tão cedo tem comprometido a produção e o transporte de alimentos.

 

O medo de uma eventual falta de alimentos causada por essa situação fez com que mais de 20 países restringissem as exportações, o que traz preocupações para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Vamos entender o que está acontecendo, e se existe a possibilidade real de uma crise global de fome.

 

 

Questões climáticas e guerra Rússia e Ucrânia diminuem a oferta de trigo no mundo.

 

Índia e Indonésia foram atingidas por uma forte onda de calor, que prejudicou a produção de Óleo de Palma da primeira e de trigo da segunda, que passou a limitar as exportações. Com uma produção anual de 107 milhões de toneladas, a Índia é o segundo produtor mundial de trigo, sendo responsável por 13,5 da oferta da comoditie no planeta.

 

Uma quebra de safra em um player tão importante já seria razão de preocupação. Mas essa se torna maior ainda quando lembramos que Rússia e Ucrânia são, respectivamente, o primeiro e quarto maiores produtores de trigo no mundo. A inevitável escassez de trigo fez com que os preços do produto disparassem na Bolsa de Chicago, que é a referência para as comodities em todo o mundo.

 

Como a guerra afetou as exportações da Ucrânia

 

A Ucrânia é uma grande produtora de cereais, mas como no momento seus principais portos, como Odessa e Mariupol, são palco de combates, foram ocupados pela Rússia, ou sofrem bloqueio marítimo, os ucranianos estão impossibilitados de escoar suas exportações por mar, o que inclui os grãos.

 

A Ucrânia só está conseguindo escoar suas exportações por terra, para a Europa Ocidental, através de transporte ferroviário, mas é um modal de transporte muito mais caro que a via marítima, o que piora o problema. O programa alimentar mundial das Nações Unidas estima que cerca de 800 milhões de pessoas sofram cotidianamente de fome, visto que o programa compra 50% de seus grãos na Ucrânia.

 

 

Como a guerra afetou as exportações e importações da Rússia.

 

A Rússia, como todos sabem, sofre sanções econômicas que incluem congelamento de ativos do Banco Central russo, fechamento do espaço aéreo e restrições comerciais diversas. O mercado interno russo sofre, mas é inegável que a falta de alguns de seus  principais itens de exportação tem consequências graves muito além de suas fronteiras: petróleo,  gás natural, trigo e fertilizantes.

 

Muitas empresas vem usando países do Oriente Médio para importar fertilizantes russos via triangulação  , fugindo das restrições impostas à Rússia e exportar produtos para a Rússia via China, mas existem receios de  se fazer negócios pois há restrições por parte da Europa e dos Estados Unidos, que podem afetar seriamente essas empresas..

 

Petróleo

 

Estados Unidos, Austrália, Reino Unido Canadá pararam de comprar petróleo russo. A União Europeia, por outro lado, tem uma dependência muito maior, mas já trabalha para conseguir novos fornecedores. Entretanto, o efeito da falta do produto russo na maioria dos países, como se esperava, é inflacionário.

 

Gás Natural

 

O gás natural, mais do que um item importante na pauta de exportações russa, se tornou um instrumento de pressão política entre Moscou e o Ocidente. Países como Polônia e Bulgária não aceitaram ter de pagar pelo gás russo em Rublos, e tiveram seu fornecimento cortado.  A Finlândia também teve o fornecimento cortado pelo mesmo motivo alegado, mas o corte ocorreu após o país escandinavo anunciar sua intenção de se filiar À OTAN.

 

Trigo

 

A Rússia é a maior  exportadora de trigo do mundo, e anunciou recentemente uma boa safra de trigo para 2022, de 85 milhões de toneladas, superando os 76 milhões de toneladas de 2021. Isso a princípio seria uma boa notícia, após as más notícias vindas da Índia. O que não se sabe ainda, entretanto, é quanto dessa produção poderá ser exportada.

 

Desde 2021 a Rússia limita suas exportações com impostos e cotas, para tentar conter os preços dos alimentos no mercado interno. E se isso já acontecia antes da invasão da Ucrânia e da imposição das sanções, é razoável supor que haja escassez de alguns itens e a inflação do preço dos alimentos, e de outros itens fundamentais, continue a subir. Mas mesmo assim, consultorias especializadas estimam as exportações russas de trigo para 2022 entre 32 milhões e 41 milhões de toneladas.

 

Fertilizantes

 

Esse é um item das exportações russas que atingirá fortemente a economia brasileira, em um de seus setores mais dinâmicos, o agronegócio. 85% de todos os fertilizantes utilizados na nossa agricultura são importados, e cerca de 24% vêm da Rússia e 3% de Belarus, país aliado de Moscou.

 

Como o Brasil é afetado pela guerra entre Rússia e Ucrânia e como tem reagido

 

A dependência brasileira dos fertilizantes russos é significativa. Por isso, a Ministério da  Agricultura, Pecuária e Abastecimento visitou Irã, Canadá, Marrocos e Egito, entre outros países, para diversificar os fornecedores e encontrar parceiros capazes de suprir a demanda brasileira de fertilizantes. Mas mesmo assim, é esperado que o abastecimento seja comprometido e os preços subam, afetando diretamente os preços dos alimentos e causando inflação no Brasil.

 

O Brasil apresentou na OMC uma proposta para a criação de corredores de transporte para assegurar o fluxo contínuo de alimentos, de matérias-primas essenciais, insumos para a produção de alimentos agrícolas, incluindo fertilizantes. Não sendo da OTAN, o Brasil não tem obrigação de bloquear exportações para Rússia, muito menos para a Ucrânia, mas é evidente que haverá dificuldades quanto ao transporte marítimo.

 

Para o médio e longo prazos, a EMBRAPA está realizando estudos para substituir os fertilizantes importados por soluções domésticas, e dado o histórico de excelência da EMBRAPA, pode-se ter expectativas de bons produtos, mas como tudo que depende de pesquisa e desenvolvimento, existe um tempo para maturação, que não é possível precisar.

 

Efeitos da Guerra na Ucrânia para o agronegócio brasileiro

 

A escassez de fertilizantes sem dúvidas afeta negativamente o agronegócio brasileiros, mas a escassez de alimentos faz aumentar as suas exportações. Principalmente de soja, milho e proteínas animais, pois no momento em que os países se preocupam em aumentar a segurança alimentar, é natural que olhem para o Brasil, que além de grande player desse mercado, não está envolvido no conflito e está geograficamente longe dele.

 

Energias renováveis

 

Não é somente a segurança alimentar que abre uma janela de oportunidade para o agronegócio brasileiro. O mesmo ocorre com a relação à segurança energética. Com a escassez de petróleo no mercado , voltasse a olhar o Etanol com atenção . E o Brasil poderá ser um grande player no mercado internacional, pois os países também procurarão encontrar fontes alternativas aos combustíveis fósseis, além de promover a redução da poluição.

 

Conclusão

 

A conclusão é que não há conclusão, mas um impasse, de um cenário para o comércio internacional que já havia sido afetado pela pandemia, continuou afetado pelo caos logístico, e agora é afetado por uma guerra cujas consequências vão muito além da região onde acontece o conflito. como o baixo crescimento econômico dos países, que o Fundo monetário internacional já havia estimado, e agora, a possibilidade real de uma escassez de alimentos e o risco real de fome em muitos lugares do mundo.

 

E apesar de o cenário apresentar as oportunidades pontuais que citamos acima, porque oportunidades existem em qualquer situação, a torcida de todos é para que o conflito termine logo, para que não somente a tragédia humanitária tenha fim, mas para que se tenha um cenário mais previsível para se planejar investimentos internacionais.

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