A recuperação econômica pós pandemia já começou, segundo a OCDE.
De acordo com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a economia global deverá crescer quase 6% em 2021, uma reação vigorosa após a contração de 3,5% ocorrida em 2020, ano em que, como todos sabemos, o mundo inteiro foi atingido pela pandemia de Covid-19.
Essa recuperação é a maior expansão econômica desde 1973, e tem como principais vetores a vacinação em larga escala que ocorre em vários países do mundo, principalmente os mais ricos e desenvolvidos, e o recente estímulo fiscal promovidos pelos Estados Unidos.
Temos razões para comemorar?
O número por si só é exuberante. E merece ser comemorado depois de tanto tempo de notícias ruins, não somente no aspecto econômico e comercial, como no humano.
Mas se sempre cabe uma dose de cautela quando falamos de previsões e estimativas, mesmo vindas de uma entidade com credibilidade, essa dose de prevenção deve ser redobrada quando falamos do cenário criado pela pandemia de Covid-19. Não somente pela previsão depender de diversas variáveis se confirmarem, como o controle da pandemia nas principais economias, como do não surgimento novos contratempos ou ameaças no horizonte.
Posto isso, devemos lembrar que esse número alto é uma média mundial. E médias, mesmo quando são números animadores, podem ser formadas por números bons, e outros que podem não dar margem a tanto otimismo. Ainda não é hora de soltar os fogos de artifício.
A própria OCDE, em seu estudo, alerta que os maiores riscos a essa projeção otimista se confirmar estão ligados às imprevisibilidades da própria pandemia e às condições dos países emergentes, como Brasil, Índia e África do Sul, que não tem conseguido impor um ritmo de vacinação tão rápido quanto o dos países desenvolvidos.
A Recuperação dos Países Emergentes
A OCDE considera preocupante a falta de vacinas para as economias emergentes e de baixa renda, o que as expõe a uma ameaça fundamental, pois elas têm menos capacidade de apoiar a atividade do que os países desenvolvidos. Um crescimento mais fraco, causado pela pandemia, é mais difícil de superar, resultando aumento de pobreza e problemas de financiamento.
A desestabilização das economias emergentes é uma realidade, exacerbando as desigualdades não somente entre países ricos e em desenvolvimento, mas também entre ricos e pobres dentro dos próprios países.
As cadeias de fornecimento
As disrupções das cadeias de fornecimento, que em certos momentos de 2020, pareciam que iam colocar a globalização econômica em xeque, devem começar a melhorar no final de 2021 e no início de 2022, à medida que a oferta e demanda dos insumos e o consumo se normalize.
A recuperação econômica pós pandemia das principais economias do mundo
Estados Unidos – Previsão de crescimento do PIB dos EUA é de 7%em 2021 e de 3,5% em 2022.
Japão – A terceira maior economia do mundo teve contração do PIB no primeiro trimestre, e acredita-se que haverá uma retomada gradual, com a previsão de crescimento de 2,5% em 2021.
União Europeia – Nós países da Zona do Euro, o PIB caiu no primeiro trimestre, mas a forte demanda externa está alavancando a atividade industrial. A expectativa de crescimento é de 4,3% em 2021
China – No gigante asiático, o crescimento deve alcançar a 8,5% em 2021 e 5,8% em 2022. O comércio exterior chinês é muito dinâmico.
Índia – No outro gigante asiático, a perspectiva não é tão animadora. A Índia, em função da pandemia, deve ter uma retração do seu PIB em cerca de 10% em 2021.
A recuperação econômica pós pandemia do Brasil
No Brasil, a previsão é que, se a pandemia for controlada e o ritmo da vacinação melhorar, o PIB poderá crescer 3,7% em 2021, abaixo da estimativa dos 4,5% feita pelos bancos privados e 2,5% em 2022.
Entretanto, no início de 2021 o crescimento da economia brasileira superou as previsões, com O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro crescendo 1,2% em comparação com o trimestre anterior e 1% em relação ao mesmo período de 2020, chegando a R$ 2,048 trilhões.
Com esse surpreendente resultado do primeiro trimestre, o PIB brasileiro voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, um período pré-pandemia.
Esse resultado deve ser comemorado? Sem dúvida que sim. O mesmo critério que usamos para analisar a economia mundial cabe para o Brasil. Depois de um período como uma sequência de incertezas e uma avalanche de notícias ruins, o crescimento econômico acima do esperado é mais do que bem-vindo. Mas isso não significa que a crise tenha acabado e já seja o momento de soltar os fogos de artifício.
O próprio IBGE aponta que a economia já vinha em recuperação desde os dois trimestres anteriores, ainda em 2020, e que mesmo com a perda de ritmo causada pela segunda onda de contaminações ocorrida no Brasil, foi o suficiente para conseguir um bom resultado.
Como se deu a recuperação do PIB do Brasil em 2021
Segundo alguns analistas, inclusive na imprensa internacional, como o que foi publicado nesse artigo do respeitado Wall Street Journal, a razão do crescimento seriam as exportações do nosso competitivo agronegócio, especialmente para a China, e a uma decisão de muitos brasileiros de ignorar os apelos dos cientistas para que ficassem em casa e retornassem ao trabalho.
Há sim pessoas que deliberadamente ignoraram os conselhos dos cientistas de ficar em casa. Assim como aquelas que, mesmo cientes dos riscos, escolheram sair de casa porque não tinham outra opção. Não nos cabe fazer esse tipo julgamento em uma situação como a pandemia de Covid-19, que é uma tragédia humana do ponto de vista sanitário, mas também do econômico.
Só nos cabe lamentar que o Brasil seja retratado negativamente em veículos de imprensa influentes ao redor do mundo. E aconselhar às empresas e órgãos diplomáticos brasileiros tenham uma estratégia para tentar remediar os danos que essa percepção, justa ou injusta, pode causar à imagem do país e às nossas empresas, produtos e marcas.
Os setores que impulsionaram o PIB brasileiro
Segundo dados do IBGE apontados nessa reportagem de O Globo, os setores que cresceram, impulsionando o crescimento do PIB brasileiro em 2021 foram os seguintes
- Serviços: 0,4%
- Indústria: 0,7%
- Agropecuária: 5,7%
- Investimentos: 4,6%
- Exportação: 3,7%
- Importação: 11,6%
- Construção civil: 2,1%
Por outro lado, os setores que sofreram retração foram esses:
- Consumo das famílias: -0,1%
- Consumo do governo: -0,8%
Analisando, o Agronegócio, como sempre, é o setor mais competitivo do Brasil, internacionalmente, tendo preço e qualidade para disputar todos os mercados, enquanto a indústria, especialmente de bens manufaturados, continua dependendo de um mercado relativamente fechado para sobreviver.
Mas chamou a atenção o crescimento das importações, mesmo com a economia e o dólar a preços altos. Se por um lado a compra de produtos farmacoquímicos do exterior, para a produção de vacinas, explica essa alta, pelo outro a importação de máquinas e aparelhos elétricos pode sinalizar que algumas indústrias investiram em sua capacidade produtiva, o que é positivo.
Cenários da economia brasileira no curto e médio prazo
O cenário ainda é bastante incerto, apesar da boa notícia. Embora o tamanho do PIB seja o mesmo que no último trimestre de 2019, não podemos esquecer que os fatores que formam esse número mudaram.
Setores como os de serviços, responsáveis por grande parte do PIB brasileiro em épocas normais, e por gerar muitos empregos, foram duramente afetados. E a recuperação de muitos setores da economia pode ser mais demorada do que se imagina, já que a pandemia provocou uma mudança disruptiva em diversos ramos de atividade, que talvez demorem muito para retomar seu antigo ritmo, se é que um dia o farão.
A economia brasileira deslancha em 2021?
A análise que a OCDE fez sobre o aumento da desigualdade nos países emergentes serve bem para entender o momento da economia brasileira.
Por um lado, muitas micro, pequenas e médias empresas sofreram muito e até encerraram atividades durante a pandemia. Quantas dessas, e os empregos que geravam, serão capazes de retornar quando a situação se normalizar é uma questão que está sobre a mesa.
Por outro lado, a crise gerou muitas oportunidades para quem tinha algum capital, o que explica, por exemplo, o recente aquecimento do mercado imobiliário. E, olhando o copo meio cheio, não podemos esquecer que já houve alguma recuperação mesmo com vários setores importantes, como turismo, varejo físico, eventos e outros com um baixíssimo nível de atividade.
A retomada desses setores, com todo o consumo represado de produtos e serviços, sem dúvida gerará oportunidades. É toda uma cadeia econômica que só aguarda uma sinalização positiva para acelerar.
A questão é que durante algum tempo, ainda virão sinais com sentidos opostos. Por um lado, o histórico da pandemia já demonstrou que pequenos aumentos da atividade, quando as medidas restritivas são amenizadas, têm resultado em uma reação rápida da economia. Entretanto, tão rápida quanto a reação econômica é o de novos picos de contaminação, aumentando a quantidade de doentes e colocando o sistema de saúde próximo ao colapso.
Enquanto não tivermos a população vacinada, teremos de conviver com pequenos voos de galinha em termos de aquecimento econômico.
A recuperação da economia brasileira no longo prazo
Finalmente, uma ponderação deve ser colocada. O PIB brasileiro retornar ao tamanho que tinha no último trimestre de 2019 é muito positivo quando analisamos o contexto atual, do mundo atingido por uma pandemia e paralisando suas atividades.
Mas não podemos esquecer que o Brasil em 2019 era um país em compasso de espera, que se preparava para crescer depois de pelo menos meia década de estagnação econômica, que entre os anos de crescimento medíocre, teve dois de recessão profunda.
É preciso analisar o quanto restou do projeto de modernização da economia brasileira que deveria vir com as reformas econômicas tão necessárias para nos tornar mais competitivos e atrair mais investimentos.
E não custa novamente lembrar: Para que os cenários positivos se concretizem é preciso vacinar toda a nossa população. E assim que possível, contribuir para a vacinação de outros países mais pobres. Somente assim poderemos voltar a ter um grau de incerteza normal, para que empresas e famílias possam programas seus investimentos e consumo.