Rússia x Ucrânia

Conflito entre Rússia e Ucrânia traz mais incertezas para a recuperação econômica mundial

A Rússia invadiu a Ucrânia. Contrariando previsões mais otimistas, que consideravam que a ameaça de invasão seria apenas um instrumento de pressão para frear a aproximação de Kiev com a Europa Ocidental e sua eventual adesão a OTAN, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, tropas russas entraram na Ucrânia, e no momento em que escrevemos esse artigo, cercam Kiev, e o mundo acompanha com apreensão.

O custo humano de qualquer conflito como esse é invariavelmente alto. Assim como é alto o custo político para os países diretamente envolvidos na situação, e o custo econômico, que pode afetar fortemente até aqueles que não tem relação alguma com o conflito, alterando preços do petróleo, gás natural e alimentos, encarecendo os preços das commodities, e gerando mais inflação, assunto que vamos abordar nesse artigo.

O peso geopolítico da Rússia

A Rússia, além do seu passado como União Soviética, que ainda está presente no imaginário de muita gente, chama mais a atenção do mundo pela enorme extensão territorial, peso militar, diplomático e político do que pelo tamanho de sua economia. Com um PIB de USD1.48 trilhão de dólares, é o 11º país mais rico do mundo,  sendo superada em riqueza por tigres asiáticos como a Coréia do Sul e potências emergentes como a Índia.

Entretanto, olhando mais fundo nos números para entender como são formados, em alguns aspectos a Rússia pode ser considerada profundamente integrada com outros países, pois é uma grande produtora e exportadora de petróleo, gás natural, fertilizantes e trigo.

São produtos tão importantes para tantos países, que criam uma situação bastante paradoxal. No complexo, altamente volátil e totalmente imprevisível cenário geopolítico do Leste europeu nesse momento, não resta alternativa honrosa às chamadas potências ocidentais além de impor pesadas sanções econômicas à Rússia.

Fazer menos do que isso seria politicamente desastroso, tornando a situação mais difícil do que já é. Mas ir além disso seria simplesmente impensável, com consequências imprevisíveis. Nenhuma delas positiva.

Entretanto, seria uma imensa ingenuidade acreditar que tais sanções, por mais duras que sejam, já não façam parte do cálculo de ganhos e perdas feito pela Rússia antes de tomar o rumo que tomou.  Existe a possibilidade real de que os países que dependem fortemente dos produtos exportados pela Rússia, inclusive o Brasil, sejam os grandes afetados por essa situação.

A presença da Rússia na economia mundial

Além do seu valor em si, medido em dólares, produtos exportados pela Rússia são itens de primeira necessidade em muitas economias importantes, afetando as atividades produtivas, a locomoção, a alimentação  e nos países de inverno rigoroso, o aquecimento de empresas e residências.

Cerca de 40% do gás natural e 25% do petróleo  consumido na Europa vem da Rússia. Se em uma situação normal essa dependência já seria muito significativa, o processo de mudança para uma matriz energética mais limpa tentada pelos países europeus, que incluiu o desligamento de centrais nucleares e a diminuição do uso de fontes de energia de alta emissão de carbono, como a queima de carvão, a tornou ainda maior, porque as tecnologias limpas e seguras ainda não se mostraram capazes de um fornecimento estável e confiável.

Em um estágio anterior da crise atual, quando a Moscou reconheceu a independência de províncias ucranianas pró-Rússia,  a Alemanha suspendeu o gasoduto russo Nord Stream 2, que ligava os dois países e era razão de polêmicas entre os países europeus.

Guerra entre Rússia e Ucrânia afeta preços do petróleo e gás natural

O preço do barril de petróleo superou, na data da invasão,  os US$.100,00. E a não ser que a Arábia Saudita aumente sua produção diária, ampliando a oferta, não deve cair tão cedo. Ocorre que o país do Golfo Arábico é um aliado da Rússia na OPEP, e, pelo menos em um primeiro momento, dificilmente irá contra os interesses russos.

Gás natural

Sanções contra a Rússia podem afetar também a oferta de gás natural, especialmente na Europa. Embora países como o Qatar também sejam grandes produtores, e possam aumentar a oferta do produto, se assim desejarem, existe ainda uma questão logística, de levar o gás liquefeito até os grandes centros consumidores, que não tem como ser resolvida rapidamente.

O peso da Ucrânia na economia mundial

Com um PIB de US$ 155,6 bilhões, a Ucrânia não tem o mesmo peso geopolítico da Rússia, mas por ser o palco do conflito, obviamente o mundo não poderá contar, por um bom tempo, com os produtos que o país do Leste Europeu exporta, e isso também terá um impacto econômico.

17% do milho consumido no mercado mundial vem da Ucrânia, ficando atrás em exportações apenas dos EUA, Brasil e Argentina. Juntas, Ucrânia e a Rússia exportam 30% do trigo comprado no mundo. Essa proporção chega a 50% nos mercados do Oriente Médio e Norte da África.

A posição da China no conflito Rússia x Ucrânia

Conflitos militares dentro da Europa, ainda mais com a participação de um país da importância da Rússia, não tem como ser vistos como uma questão regional, como ocorre com vários outros conflitos em andamento no mundo. Eles se tornam automaticamente questões globais. Por essa razão, a aliança entre a Pequim e Moscou deixou de ser uma questão regional para ter também um alcance global já que a China apoiou a Rússia no conflito com a Ucrânia.

Consequências para o Brasil do conflito Rússia x Ucrânia

Infelizmente, o conflito terá um efeito negativo em um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira, o agronegócio. 85% de todos os fertilizantes utilizados na agricultura são importados, e cerca de 24% vêm da Rússia e 3% de Belarus.

A dependência é significativa. Por isso, a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento visitou o Irã para diversificar os fornecedores e encontrar parceiros naquele país. Mas mesmo assim, não se pode esperar que o abastecimento não seja comprometido e os preços subam, afetando diretamente os preços dos alimentos e causando inflação no Brasil.

Por não ser membro da OTAN, o Brasil não vai bloquear exportações para Rússia ou Ucrânia, mas é evidente que haverá dificuldades quanto ao transporte marítimo. Mas se há algum consolo para países como Brasil e Argentina, que serão prejudicados pela alta volatilidade cambial e pela inflação, é que o aumento dos preços das commodities pode trazer ganhos adicionais aos exportadores.

Mas, se formos fazer uma conta de ganhos e perdas do ponto de vista econômico, sem esquecer o aspecto humano, que certamente é trágico, é que as perdas, especialmente pelas incertezas geradas, são muito maiores que os ganhos, especialmente em um mundo que mal se recuperava de uma pandemia e que ainda lida com o caos logístico que ela causou.

acordo livre comércio Brasil-Chile

Acordo de livre comércio Brasil-Chile trará oportunidades para importadores e exportadores

O acordo de livre comércio Brasil-Chile foi oficializado pelo Decreto no. 10.949 de 26/01/2022, que  promulgou o 64o. protocolo adicional ao Acordo de Complementação Econômica no. 35, incorporando o  acordo de livre comércio entre duas das economias mais competitivas da América Latina, que já internalizaram o acordo, que passou a ter validade a partir da promulgação.

 

Brasil e Chile tem, historicamente, boas relações diplomáticas e comerciais, dada a proximidade geográfica entre os dois países e a complementariedade de suas economias. O comércio de bens entre os dois países foi completamente  liberalizado pelo ACE ( Acordo de Complementação Econômica) no. 35 de 1996, o primeiro do Mercosul com outros países, eliminando as alíquotas de importação no intercâmbio bilateral.

 

Como é o acordo Brasil-Chile de livre comércio.

 

O acordo ampliado Brasil-Chile é o mais atualizado em termos de abrangência de temas como serviços, investimentos, compras governamentais, indicação geográfica de produtos, barreiras sanitárias e fitossanitárias  e simplificação aduaneira. Ele permitirá aos empresários brasileiros acesso a um mercado de US$. 11 bilhões anuais em licitações públicas chilenas, nas áreas de serviços portuários, construção civil e tecnologia para informação. No total, serão 17 áreas cobertas pelo novo tratado,

 

Agronegócio

 

Para o setor do agronegócio, uma das grandes vantagens é o estabelecimento do mecanismo para aprovação imediata dos estabelecimentos exportadores de produtos de origem animal, reduzindo custo com a habilitação dos frigoríficos. Com relação à certificação de produtos orgânicos, um mercado que ainda é de nicho, mas cada vez mais interessante, os dois países reconhecem mutuamente os seus sistemas de certificados.

 

Telecomunicações e Tecnologia da Informação

 

Nas telecomunicações, o acordo Brasil-Chile eliminará a cobrança do roaming Internacional para dados e telefonia móvel, com reflexos positivos para os negócios e para o turismo entre os dois países, que já tinham um volume considerável. O prazo para a eliminação do roaming é de 1 ano a partir da vigência do acordo.

 

Certificados de Origem

 

Serão implementados certificados de origem digitais, reduzindo os custos de tramitação e emissão desse tipo de documento para cerca de 30 minutos.

 

Indicações geográficas

 

Uma parte importante dos certificados de origem, quando a comprovação da origem agrega valor ao produto e pode ser tão ou mais importante que a própria marca, como é o caso da cachaça brasileira e do pisco chileno. Além , é claro dos vinhos chilenos, bastante apreciados e com boa reputação no mercado brasileiro.

 

Trâmites aduaneiros

Os trâmites aduaneiros entre  Brasil e Chile serão simplificados  , com reconhecimento mútuo dos operadores econômicos autorizados (OEA), proporcionando maior agilidade na liberação de cargas internacionais, incrementando a corrente de comércio entre o Brasil e o Chile, que atingiu US$. 11,45 bilhões no ano de 2021.

 

 

Principais produtos exportados pelo Brasil para o Chile

 

Em 2021, o Chile foi o quinto principal mercado para as exportações brasileiras, depois de China, Estados Unidos, Argentina e Países Baixos. O volume de vendas brasileiras ao Chile nesse período foi de US$. 7 bilhões.

 

Os principais produtos exportados pelo Brasil foram:

 

Petróleo bruto,

Automóveis,

Carne bovina,

Ônibus,

Carnes de frango

Autopeças

 

Principais produtos importados do Chile pelo Brasil

 

O Brasil também é um bom mercado para os produtos chilenos. O volume de importações brasileiras do Chile atingiu, em 2021, o valor de US$.4,45 bilhões. Os principais produtos importados pelo Brasil no período foram:

 

Cobre,

Pescados,

Bebidas alcoólicas e vinhos,

Frutas e nozes

Adubos e fertilizantes.

 

Investimentos internacionais entre Brasil e Chile

 

Os investimentos brasileiros no Chile montam a US$.5,5 bilhões, enquanto os investimentos chilenos no Brasil, representam US$.7,2 bilhões. Os setores de ambos os países que podem ser beneficiados são principalmente aqueles vinculados à indústria de transformação, automobilístico, petrolífero e de carnes (bovina, suíno e de aves).

 

Empresas brasileiras devem apostar no mercado chileno. E vice-versa

 

O Chile, apesar de ser um país territorialmente pequeno, e com uma população de 19 milhões de habitantes, pouco mais do que a do estado do Rio de Janeiro, de 16 milhões de pessoas, e menos do que a da região da Grande São Paulo, que tem 22 milhões de pessoas, tem o maior PIB Per Capita da América do Sul.

 

Número com PIB, e o PIB Per Capita podem ser enganosos quanto ao potencial de um mercado. Muitos países que apresentam números altos desses índices muitas vezes têm economias pouco diversificadas, o que muitas vezes pode significar que somente uma parte reduzida da população tem renda para consumir.

 

Mas esse, definitivamente, não é o caso do Chile. A economia chilena não somente é bastante diversificada, com serviços respondendo por boa parte da riqueza do país, como isso resultou no maior IDH –  índice de Desenvolvimento Humano da América Latina. Ou seja, o Chile é um país onde a população, como um todo,  tem um padrão de vida médio  bastante alto para os padrões de América do Sul, refletido em poder de consumo.

 

Outro ponto é que o Chile tem uma longa tradição de liberdade econômica e mercado aberto, com poucas barreiras protecionistas e boa aceitação dos produtos brasileiros, inclusive os industrializados, como mostra a pauta exportadora brasileira para o Chile, que colocamos acima. Uma notícia excepcionalmente boa para a indústria brasileira, que sofre para se manter competitiva no mercado internacional e até no doméstico.

 

Que venham novos acordos como esse. tanto em nível da América Latina, quanto do Mercosul.

 

Precisamos abrir mais mercado para produtos brasileiros.