ESG – porque o governo e as empresas brasileiras devem falar sobre sustentabilidade

Qual o real tamanho dos danos à reputação do Brasil, e consequente, das empresas e marcas brasileiras, especialmente do agronegócio, causadas pelas queimadas que ocorreram no último ano? 22% da soja e 17% carne bovina produzidas na região da Amazônia e do Cerrado causaram desmatamento, como disse a reportagem da Science?

A resposta a todas essas perguntas é “não sabemos ao certo”. Como disse com muita propriedade o General Mourão, vice-presidente da República e chefe do Conselho da Amazônia, “o governo perdeu o controle da narrativa.” E é justamente para recuperar esse controle que o Brasil deve adotar padrões ESG e o governo e as empresas brasileiras devem falar sobre sustentabilidade.

ESG: O que significa e porque você deve prestar atenção.

ESG significa Enviromental, Social and Governance, Ambiental, Social e Governança. É um critério que analisa qual o comportamento das empresas em relação a cuidados ambientais, sociais e de governança. Ou seja, o nível de preocupação que elas têm com o impacto de suas atividades no meio-ambiente e na vida das pessoas. E se fazem tudo isso com ética e transparência, dentro das normas legais.

Um estudo feito pelo Banco Itaú BBA com 58 gestores de investimento, 40 brasileiros e 18 de outros países, mostra que o tema meio-ambiente e sustentabilidade entrou no radar dos investidores. De acordo com a pesquisa, 50% dos fundos estrangeiros afirmaram que a sustentabilidade tem um peso muito importante em suas decisões de investimentos. Entre as gestoras nacionais, apenas 25% estão mais sensíveis ao tema. Mas ainda é um número alto.

Essa diferença, de acordo com o relatório do banco, se explica porque os fundos de investimento estrangeiros se anteciparam na adoção dos padrões ESG, pela maior oferta de ações relacionadas a produtos em outros países e a menor divulgação de informações relacionadas ao tema por um número significativo de empresas listadas no mercado brasileiro, quando comparadas a grupos internacionais.

O tema da sustentabilidade, que em um passado não tão distante só tinha peso significativo para consumidores mais engajados com essa causa e empresas que faziam desse o seu propósito de marca, não somente se tornou relevante para um número crescente de consumidores, como entrou na pauta de cada vez mais empresas e investidores, que na era das redes sociais, não podem se arriscar a serem acusados de insensíveis à questão.

Setores mais vulneráveis do ponto de vista do ESG.

O agronegócio brasileiro, apesar da esmagadora maioria das empresas do setor seguir padrões elevados na questão da sustentabilidade, é o que tem sido alvo das maiores críticas, tanto no Brasil como no exterior. A grande maioria dessas críticas é honesta, embora muitas pareçam ser fruto de falta de informação à respeito do que o agronegócio efetivamente faz pela preservação ambiental,  que pode gerar uma certa má vontade com o setor. E há uma minoria que tem o objetivo de garantir reservas de mercado contra produtos brasileiros mais competitivos.

O mesmo estudo do Banco Itaú BBA, apesar de não citar o agronegócio como fonte de preocupações ambientais, apontou outros setores importantes para a economia brasileira como potenciais fontes de preocupação dentro de uma avaliação que use o ESG como critério, que são os seguintes:

Papel e celulose

Siderurgia

Mineração

Em virtude dos incêndios na Amazônia, o Brasil se tornou alvo de uma torrente de críticas, que poderiam ter sido evitadas com uma estratégia de comunicação que mostrasse todos os esforços brasileiros para a preservação do meio ambiente, como já sugerimos aqui. E, independentemente do que é narrativa e do que é verdade, os gestores públicos e privados devem entender o tamanho do risco e tomar as atitudes corretas.

Não custa relembrar que a questão da sustentabilidade não trata somente da preservação do ar que respiramos, oceanos, árvores e rios, como se isso não fosse motivo suficiente. Trata também da preservação de empresas, marcas e empregos brasileiros, que dependerão cada vez mais da opinião que os consumidores terão sobre eles para que possam, inclusive, atrair o capital dos investidores. Brasileiros e principalmente estrangeiros.

E não se trata somente de recuperar nossa credibilidade externa, coisa que não estamos conseguindo entrando em disputas de narrativa. Existem riscos que vão além disso, como as mudanças climáticas causarem um aumento da temperatura que nos faça perder culturas na zona central do país e na própria Amazônia.

O próprio governo brasileiro, cuja área econômica anunciou muitíssimo bem-vindas privatizações e concessões, deve se lembrar que o capital que espera atrair, na quantidade necessária, virá principalmente de grandes empresas e fundos de investimento. Mesmo que o Brasil seja um grande negócio para eles, e é, eles podem pensar duas vezes se o investimento gerar para eles uma crise de imagem.

 

4 Sugestões para tornar o Brasil um investimento atraente do ponto de vista do ESG

1) Lidar com a crise de imagem através de mensagem e linguagem únicas de setor público, entidades patronais, frente parlamentar agropecuária e Conselho da Amazônia a respeito do assunto;

2) Buscar desenvolver a agricultura regenerativa- meios de usar a terra-agricultura do século XXI;
3) utilização da bio economia na Amazônia;
4) criação da zona industrial verde bio econômica, talvez junto da zona franca de Manaus.

Obviamente, todas essas ações serão inócuas se não forem acompanhadas de uma fiscalização efetiva contra o desmatamento e o garimpo ilegais, que mesmo em pequena escala, podem causar um prejuízo de imagem muito grande. Mas é preciso começar por algum lugar.

Independentemente de qual seja a sua opinião sobre esse tema, não custa relembrar que estudos como esse feito pelo Itaú BBA abordam números. E os números falam mais do que as palavras.

retomada da economia

Cenários da economia e estratégias para a retomada de atividades

Depois de um período de quatro meses de quase paralisia em função da crise do coronavírus, a economia brasileira se prepara para a retomada das atividades, que foram total ou parcialmente interrompidas, dependendo do setor. Esse é um cenário que exige estratégias corajosas e pensamento fora da caixinha, porque apesar das dificuldades, também existem oportunidades no horizonte.

Para saber quais serão os obstáculos e as oportunidades, é necessário entender as especificidades de cada setor, os possíveis cenários macroeconômicos com que o Brasil irá lidar nos próximos meses e também o que restou do mundo pré-coronavírus que pode ser recuperado e o que está definitivamente perdido.

Resquícios do cenário pré-pandemia

A economia não estava aquecida antes do início da pandemia de covid-19. Embora não estivesse ruim como nos anos de recessão em que o Brasil teve PIBs negativos, o crescimento em torno de 1% dos últimos anos estava longe de ser exuberante. Mas havia boas perspectivas no horizonte e um crescimento mais vigoroso parecia uma questão de o governo se organizar politicamente e aprovar as tão aguardadas reformas econômicas liberalizantes.

Internamente, o mercado imobiliário dava sinais de recuperação após um longo período de baixa. O agronegócio continuava tão competitivo quanto sempre foi, com boas perspectivas internacionais, como o acordo com a União Europeia, com as únicas possíveis ameaças vindo mais de erros de comunicação do Brasil do que do fechamento de mercados internacionais ou o surgimento de novos concorrentes para disputar esses mercados.

A China se consolidava como player sério na disputa com os Estados Unidos pela liderança global, e o Mercosul continuava um bloco econômico muito mal aproveitado, com as oportunidades econômicas ficando em segundo plano por causa de disputas ideológicas entre países cujos governos tinham visões diferentes e interesses políticos internos de curtíssimo prazo.

Os cenários para a retomada da economia

Com a recessão mundial causada pela pandemia posta, os economistas discutem como será o gráfico da retomada da economia, sendo cogitados três cenários possíveis: Uma letra V, uma letra L e uma letra K, sendo cada uma delas a representação em um gráfico de linha dos cenários econômicos de curto e médio prazo, que podem afetar o longo prazo, dependendo de como o governo e as empresas brasileiras agirem.

A recuperação em letra V

Um cenário de recuperação em letra V é o mais otimista possível.  Se daria em uma situação em que a paralisação da economia tenha causado mais um adiamento do que uma desistência dos planos de consumo e investimento de pessoas físicas e jurídicas. E que, apesar da situação recessiva atual, haveria ainda capacidade suficiente dos atores econômicos para uma recuperação vigorosa, se houver estímulos governamentais.

A recuperação em letra L

Esse é um cenário mais pessimista, em que o gráfico da recuperação econômica se assemelharia a uma letra L, porque a recuperação seria tão lenta que sua curva de subida se assemelharia a uma linha quase horizontal. A razão de um possível cenário como esse seria a falta de estímulos econômicos, ou que eles não chegassem a quem precisariam chegar, o que aumentaria o custo humano da crise.

A recuperação em letra K

Esse é um cenário mais complexo, que pode se configurar no Brasil, de curvas de recuperação diferentes para empresas e pessoas físicas de acordo com a sua renda e tamanho. A razão disso seria que, por mais que os governos tenham ciência da necessidade de estímulos econômicos e até a boa vontade de fornecê-los, a operacionalização desse processo se dá através do sistema bancário, que tem a capilaridade e a expertise para isso.

Então, por depender dos critérios do sistema bancário, empresas maiores e pessoas de maior renda tem um acesso maior e mais rápido aos estímulos governamentais, a juros menores, enquanto empresas menores e pessoas de baixa renda demoram mais para receber o estímulo econômico, que quando chega, é em quantidade menor e a juros maiores, tornando sua situação mais difícil.

Esse fenômeno já pode ser observado, com o dinheiro barato dos bancos centrais chegando com  facilidade às grandes empresas e estimulando a rápida revalorização de seus ativos, e sua capacidade de manter empregos. Por outro lado, as empresas menores e os trabalhadores informais, que são 70% da mão de obra dos países em desenvolvimento, segundo o Banco Mundial, não estão tendo acesso a esse dinheiro, e passam grandes dificuldades.

A recuperação econômica mundial

Essa diferença na velocidade de recuperação também poderá ser observada entre cada país. Os países mais ricos e em melhor situação fiscal, com maior capacidade de injetar dinheiro em suas economias, tendem a se recuperar mais rápido. Por outro lado, aqueles que estiverem em uma situação fiscal ruim, caso da maioria dos países em desenvolvimento, terão menos capacidade de injetar dinheiro em suas economias e terão uma recuperação mais lenta.

A situação da economia brasileira

Embora um gráfico de recuperação em letra K esteja se desenhando na economia brasileira, existem outros fatores que podem influenciar o cenário. Por um lado, embora o Brasil tenha uma economia e um mercado muito maior que a maioria dos países emergentes, é inegável que temos uma situação fiscal delicada, que precede a pandemia e compromete a capacidade do Banco Central de injetar dinheiro na economia sem causar déficit.

Por outro lado, a crise também poderá gerar oportunidades dentro do Brasil, no sentido de que nossas autoridades econômicas já sinalizaram que pretendem continuar a fornecer estímulos ao mesmo tempo em que prosseguem nas reformas liberalizantes. Essa equação coloca objetivos aparentemente contraditórios, já que para injetar recursos na economia é preciso possuí-los, sob o risco de gerar uma espiral inflacionária grave.

A solução dessa questão estaria em um ambicioso pacote de privatizações, que se, para muitos era uma questão ideológica, se coloca cada vez mais como imposição da realidade. Se antes as privatizações eram vistas somente como uma maneira de diminuir o tamanho do Estado, aumentar a sua eficiência e diminuir possibilidades de corrupção, hoje se colocam também como uma maneira de gerar recursos. Talvez a única, no montante que precisamos.

Colocadas a necessidade e a oportunidade, o que faltaria seria comunicá-la aos investidores estrangeiros, passando os sinais corretos, que seriam a segurança jurídica e a estabilidade política. E é justamente essa última que precisa de ajustes, pois em períodos recentes o Brasil se colocou em meio a polêmicas, especialmente relacionadas à questão ambiental, que não beneficiam de maneira alguma as empresas ou os cidadãos brasileiros.

A boa notícia é que autoridades e empresários no Brasil parecem ter percebido que a preservação ambiental não é somente uma questão de legado para as futuras gerações, mas também um poderoso argumento de comunicação para passar a mensagem correta a investidores e formadores de opinião em diversos lugares do mundo, como demonstram algumas ações de relações públicas e institucionais recentes.

Obviamente, ações de relações públicas serão somente um discurso vazio se não vierem acompanhadas de ações efetivas. Mas não se pode deixar de louvar iniciativas que buscam diminuir as tensões e incertezas, ao invés de potencializá-las, porque isso torna o ambiente de negócios melhor para quem trabalha e produz no Brasil, e mais atrativo para quem pretende investir aqui.

Dependerá única e exclusivamente do governo brasileiro passar a mensagem correta a investidores do mundo inteiro. O investimento saudita de USD 10 bilhões, anunciado na visita do Presidente da República em outubro de 2019, começou a se concretizar, com o Fundo Soberano da Arábia Saudita anunciando uma injeção, em valores ainda não revelados, no fundo de investimentos brasileiro Pátria.

Estratégias de retomada de atividades para as empresas brasileiras

As empresas brasileiras devem se preparar para um período de desafios. Não somente porque o mercado doméstico começará a retomada recessivo, e o mercado externo poderá ser uma boa alternativa, mas porque a recessão será global, o protecionismo aumentará, e competidores estrangeiros podem ver no Brasil a solução para os seus próprios problemas, às custas da participação de mercado e da margem de lucro das empresas brasileiras.

Então, as empresas nacionais devem se preparar para serem mais competitivas, encarando a concorrência estrangeira tanto nos mercados de outros países como no próprio mercado brasileiro. As estratégias a serem adotadas dependerão tanto do tipo de produto ou serviço que se deseja vender como das características dos mercados e dos consumidores que se quer atingir. Vamos a elas:

Internacionalização

O processo de internacionalização consiste na adoção de normas e procedimentos de padrão internacional, que levam a uma redução de custos, aumento da produtividade, adoção de novas tecnologias e melhora de produtos, gerando aumento da competitividade para disputar os mercados doméstico e externo.

Para quem é internacionalização é recomendada

Cabe à empresa identificar qual o seu próprio DNA, no sentido de entender as características do seu negócio, de seu produto, do mercado que pretende disputar, de quem são seus principais concorrentes, os potenciais clientes e como eles percebem valor em produtos e serviços. E com base em todas essas informações, definir sua estratégia.

Por exemplo, uma empresa que vá disputar um mercado unicamente com base em preços, com produtos comoditizados, ou que tenha uma estratégia baseada em diferenciação do seu produto, inclusive se buscar atender a nichos de mercado, pode obter muitos lucros passando por um processo de internacionalização.

Internacionalização 2.0.

O processo que chamamos de Internacionalização 2.0 é detalhado aqui, e envolve a logística e o uso intensivo de tecnologia adaptado ao mundo pós-pandemia. Mas o que as empresas mais devem prestar atenção é às estratégias de marketing que irão utilizar, envolvendo a promoção de suas marcas e o seu posicionamento.

As estratégias de posicionamento são as mais variadas possíveis, dependerão muito de qual produto ou serviço se está promovendo, e para qual público-alvo. Mas para quem está pensando em atingir os principais mercados do mundo, algumas pesquisas feitas com consumidores no Brasil e no exterior já apresentam algumas informações interessantes, que configuram uma tendência.

A primeira delas vem de uma pesquisa feita pela consultoria LLYC, que indicou que 73% dos consumidores na Europa e América Latina  dão preferência à marcas que valorizem a experiência do consumidor e tenham propósito, ou seja, existam para contribuir com um mundo melhor, o que, pela associação automática entre Brasil e a causa ambiental, pode ser uma grande oportunidade para as empresas brasileiras.

A segunda vem de uma pesquisa feita pelo  Boston Consulting Group , que entrevistando 3249 pessoas na China, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, África do Sul e Brasil, constatou que elas dão importância a causas como redução das emissões de carbono, não associação com práticas ilegais, e reposicionamento da cadeia de suprimentos.

Conclusão

No mundo pós-pandemia de Covid-19, as ameaças estão colocadas, bem como as oportunidades. As empresas brasileiras podem agir de maneira passiva e reativa, esperando que a situação da economia e de seus mercados melhore, para que a delas melhore junto. Em resumo, se segurar e contar com um pouco de sorte. A outra maneira é agir de maneira proativa, para aproveitar as oportunidades que o mundo pós-coronavírus irá criar.

Independentemente de qual seja a estratégia escolhida, é sempre bom lembrar que a sorte favorece quem se prepara.