BR do Mar

BR do Mar estimula investimento em navegação de cabotagem no Brasil

A BR do Mar, como é conhecida a lei 14.301, publicada no Diário Oficial da União em 10/01/2022, atende a uma demanda antiga de empresas que transportam grandes cargas dentro do Brasil e sempre foram prejudicadas, perdendo competitividade pela nossa infraestrutura logística deficiente.

Juntamente com o fim do Acordo Marítimo com Argentina e Uruguai, que flexibilizou a questão da navegação de cabotagem no Mercosul, o que se espera agora é que, com os novos investimentos, o transporte de cargas fique menos dependente do transporte rodoviário, que encarecia demasiadamente os custos para cruzar as distâncias continentais do Brasil.

E a questão não é somente que um caminhão tem muito menos capacidade de carga, e portanto, ganho de escala, que um trem ou navio, modais logísticos mais usados nos países desenvolvidos. A questão é que nas estradas brasileiras qualquer carga está muito mais exposta a roubos ou acidentes. E tudo isso influi no famigerado custo Brasil, junto com a carga tributária e a má qualidade da educação.

Desde a industrialização brasileira por razões ideológicas ou de interesse da minoria beneficiada, aberturas de mercado sofrem oposição no Brasil. Mas é preciso reconhecer que o protecionismo, velado ou explícito, não criou empresas brasileiras capazes de competir com as estrangeiras, no Brasil ou no exterior. E que os consumidores brasileiros passaram anos pagando caro por serviços e produtos inferiores ao padrão mundial.

E quem perdeu foi a competitividade da nossa economia, como um todo, e nossa capacidade de atrair investimentos tanto de estrangeiros como dos próprios brasileiros, devido a criação de barreiras artificiais de entrada no mercado.

O que mudou com a BR do Mar

Com a BR do Mar, passa a ser permitido o afretamento de embarcações estrangeiras para serem usadas na cabotagem, diminuindo brutalmente o capital de entrada necessário, já que não é mais obrigatório ter um navio próprio. E as empresas brasileiras poderão agregar navios de subsidiárias estrangeiras, desde que estabelecidas no país.

Com relação aos contratos de trabalho dos tripulantes que operem em embarcações estrangeiras afretadas,  serão aplicadas as regras internacionais estabelecidas por organismos de regulação devidamente reconhecidos.

Benefícios da BR do Mar

 

Com a BR do Mar, há possibilidade de a capacidade da frota marítima dedicada à cabotagem crescer 40% nos próximos três anos, excluindo-se as embarcações que operam com petróleo e derivados.

No curtíssimo prazo espera-se que ainda em 2022 o volume de containers transportados anualmente, que em 2019, último anos antes da Pandemia, era de 1,2 milhão de TEUS(unidade equivalente a 20 pés ou cerca de 6 metros), chegue a 2 milhões de TEUS.

 

Com essa lei, que ainda precisa ser regulamentada pela Agência Nacional de transportes aquaviários (Antaq) e Ministério da Infraestrutura. será possível ampliar o volume de containers transportados por ano, saindo de 1,2 milhão de TEUS(unidade equivalente a 20 pés ou cerca de 6 metros), em 2019 para 2 milhões de TEUS em 2022.

Reporto deveria ter sido mantido

Nossa única crítica à BR do Mar é a não renovação da Reporto, a série de incentivos fiscais de redução de IPI, PIS/COFINS e imposto de Importação para compra de equipamentos e outros bens do segmento portuário, que foi extinta em 31/12/2021.

Compreendemos que a pandemia afetou grandemente a arrecadação tributária, o que levou à revisão de muitos incentivos fiscais. Mas o Reporto barateava o custo dos investimentos realizados pelos operadores. Estima-se que o fim do regime pode impactar até 40% da compra de equipamentos pelas empresas do setor.

Mas, apesar da questão do Reporto, a BR do Mar é positiva para o Brasil, e os setores da economia para quem os custos com logística têm um peso preponderante na formação de preços agradecem.

Perspectivas para o comércio internacional e cenários econômicos em 2022

As perspectivas para o comércio internacional em 2022 são ainda bastante incertas, já que o ano começa com as mesmas variáveis negativas que impactaram o segundo semestre de 2021, como o surgimento da variante ômicron, a inflação alta em diversos países, causada pela desestruturação dos sistemas de produção e caos logístico, e pela escassez de energia, além de incertezas políticas, que podem complicar os cenários econômicos em 2022.

Todas essas variáveis já estão colocadas, só não sabemos ainda como evoluirão, e que peso terão no desempenho das principais economias do mundo, e consequentemente, do comércio internacional. E olhando o copo meio cheio, já estão precificadas.

Todavia, se o biênio 2020-2021 nos ensinou algo, é que enquanto a questão da Covid-19 não estiver resolvida, com a vacinação em escala mundial, lidaremos com um grau de incerteza muito maior do que o normal. Mas empresas, governos e famílias não podem ficar paralisados, esperando o que pode, ou não, acontecer. Precisam planejar seu consumo e investimento.

Na nossa opinião, os vencedores de 2022, independentemente da área de atuação, serão aqueles que souberem encontrar oportunidades dentro do cenário e investirem para aproveitá-las, fazendo esse investimento com flexibilidade e margem de manobra para lidar com surpresas.

Posto isso, vamos falar do que já sabemos.

Caos logístico continua em 2022

Foram praticamente 2 anos de embarques, desembarques e transporte de mercadorias e matérias primas  entre os principais portos do mundo adiados ou atrasados por causa da Covid-19. E não há muito o que se possa fazer a respeito, exceto esperar que as coisas voltem ao normal, já que ampliar portos, ou construir novos é uma operação cara e demorada.

A boa notícia é que, salvo pelo surgimento de outra variante além da ômicron, ou alguma outra surpresa desagradável, a estimativa é que o caos logístico esteja resolvido até o terceiro trimestre de 2022.

Energia continuará escassa e cara na Europa em 2022

Por que a energia se tornou tão cara, e escassa, na Europa é uma pergunta simples que tem uma resposta complicada, pois há muitos fatores políticos e tecnológicos envolvidos.

Segundo dados da Agência Europeia do Meio Ambiente, historicamente 77% da energia consumida na Europa vem da queima do petróleo, gás natural e carvão, 14% de centrais nucleares e 9% de fontes de energia renováveis, como a eólica. Mas para atingir seus objetivos ambientais, a União Europeia aumentou a dependência da energia eólica e tem desligado várias centrais nucleares e aumentado o uso da energia eólica.

O problema é que as fontes de energia limpa se mostraram menos confiáveis do que se esperava, e principalmente os geradores de energia eólica não tem se mostrado capazes de manter um fornecimento estável.

Uma opção seria o gás natural. Ocorre que os preços dessa comoditie também estão altos devido à demanda da China, que vai se manter como o maior mercado para praticamente tudo em 2022, e limita o fornecimento para a Europa.

A Rússia, que em 2019 era a origem de 27% do petróleo e 41% do gás natural consumidos na União Europeia poderia atender à demanda de gás e estabilizar o preço da energia no bloco. Mas vários países, inclusive os Estados Unidos, se opõem a aumentar a dependência energética da Rússia em um momento de crise política entre russos e ucranianos, que alguns temem poder chegar a uma invasão, como ocorreu em 2014, com Moscou anexando a Crimeia

Acordo entre inimigos históricos pode influir no preço do petróleo

Se o antagonismo entre as duas maiores potências militares do mundo é um complicador na questão do preço do gás natural, e da energia, como um todo, na Europa, há a possibilidade de uma delas, os Estados Unidos, atuar para diminuir os preços de outra fonte de energia, que embora seja finita, e poluente, tenderá a ser vista com outros olhos em um cenário tão adverso, o petróleo.

Uma das opções que se coloca seria um novo acordo diplomático entre Estados Unidos e Irã, dono de imensas reservas, para aumentar a oferta de petróleo no mundo e assim diminuir o valor da commoditie.

Obviamente o otimismo em relação a esse acordo não pode ser exagerado, já que as relações norte-americanas com o país persa , com alguns poucos momentos de distensão, são péssimas desde 1979, e pioraram ainda mais no início de 2020.  Mas podemos ter esperança de que o pragmatismo político em busca de uma recuperação econômica mundial fale mais alto.

França na presidência da União Europeia pode dificultar ainda mais acordo com o Mercosul

Em uma questão que interessa diretamente ao Brasil, o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que há um bom tempo está parado porque precisa da ratificação de todos os Estados que fazem parte do bloco europeu, assim como do sul-americano, tem poucas chances de avançar em 2022.

O maior obstáculo que se coloca no horizonte é a ascensão da França à liderança rotativa da comunidade europeia. Se os franceses historicamente demonstram contrariedade com a ideia porque os produtores agrícolas daquele país temem a competição do agronegócio brasileiro, o discurso protecionista deve ganhar ainda mais força com Emanuel Macron vendo o avanço da direita em ano eleitoral.

Em 2022, especialmente, o conflito de interesses e até eventuais trocas de farpas entre os governos de turno do Brasil, que também terá eleições, como veremos a seguir e França, deverá aumentar, porque isso já ocorreu em um passado recente.

Independentemente do que é narrativa e do que é verdade nas críticas mutuas, caberá à diplomacia brasileira, historicamente dotada de quadros competentes, colocar a bola no chão e buscar os melhores interesses do Brasil.

Economia do Brasil em 2022 vai conviver com boas e más notícias

Chegando finalmente ao Brasil, terminamos 2021 com a inflação alta, pressionada pela crise hídrica, que levou ao aumento dos custos da energia, já que diferentemente dos Europeus, nossa matriz energética é principalmente hidrelétrica, desvalorização do Real frente ao Dólar e outras moedas estrangeiras, crise de abastecimento, caos logístico, preços administrados e pela própria indexação.

Indústria, comércio, serviços, agronegócios brasileiro em 2022

Há boas notícias no horizonte econômico brasileiro, vindas da agropecuária, agricultura e indústria extrativa, que poderão representar um bom desempenho para o PIB do Brasil  em 2022. O setor de serviços também poderá ter um bom desempenho no ano, contribuindo para o crescimento do PIB atendendo tanto à demanda reprimida de serviços como hotelaria e turismo, quanto às novas necessidades criadas pelas mudanças trazidas pela pandemia.

A indústria brasileira, por outro lado, continuará tendo dificuldades em 2022, tanto em função de problemas que podemos considerar crônicos, como infraestrutura precária e falta de investimento em inovação, além dos problemas circunstanciais, como os juros em alta e as crises de abastecimento e logística que já mencionamos.

Investimento externo no Brasil e inflação

Caso haja aumentos expressivos da taxa de juros norte-americana, isso poderá tornar os títulos americanos mais atraentes para investidores internacionais, que tenderão a retirar recursos de países emergentes, como é o caso do Brasil, para aplicar nos Estados Unidos. Se esse cenário se concretizar, a repercussão imediata é a desvalorização do Real frente ao Dólar e aumento da inflação.

Eleições 2022 e a polarização política e social

A polarização política, que já é uma característica do nosso tempo, aumentará naturalmente em ano eleitoral, com os candidatos fazendo suas críticas e oferecendo suas soluções tanto para os problemas crônicos do Brasil como para aqueles trazidos pela pandemia. Questões como o desemprego e a inflação, que contribuem para aumentar as necessidades da população e as demandas sociais serão tema central das campanhas e debates.

É natural que em cenários como esse, eleições aumentem incertezas políticas. O que não sabemos ainda é se, ou o quanto, o cenário político gerará incertezas econômicas a ponto de influenciar decisões de consumo das famílias ou de investimentos das empresas.

Teremos de esperar para ver.

Conclusão

Há, sim, dificuldades no horizonte, bem como algumas oportunidades. Seríamos irresponsáveis se nossas perspectivas para o comércio internacional e cenários econômicos em 2022 indicassem algo diferente disso.

Mas todas essas dificuldades já foram identificadas e precificadas. Lidar com elas fará parte de uma trajetória de recuperação de uma crise que atingiu de maneira devastadora o mundo inteiro, quase simultaneamente, e por essa característica, talvez não tenha paralelos na História.

Olhando por esse prisma, caso não haja nenhuma outra surpresa desagradável, poderemos, sim, considerar o copo meio cheio.