mudanças climáticas e protecionismo

Mudanças climáticas não devem ser pretexto para protecionismo disfarçado

Com o alegado motivo de combater as mudanças climáticas, a União Europeia anunciou que vai instituir uma taxa de carbono para reduzir emissões de gases de efeito estufa, que irá atingir inicialmente aço, cimento, alumínio e eletricidade.

A medida aparenta ser bem-intencionada, visto que nesse momento, pelo menos, não atinge produtos do agronegócio, o que poderia encarecer a alimentação,  e o mundo assiste assustado, e impotente, a desastres  naturais como enchentes em diversos países europeus e na China e ondas de calor no sempre frio Canadá, fenômenos causados pelas mudanças climáticas.

Se alguém tem explicação melhor para as alterações climáticas que não o excesso de emissões de gases de efeito estufa, tal explicação ainda não apareceu, então, conter sua emissão é não somente necessário, mas urgente! E, com exceção dos conspiracionistas que ganharam voz com as redes sociais nos últimos anos, mas que atualmente se converteram em “especialistas” em vacinas, todos concordam que mudanças climáticas são um problema muito sério.

Como é a Taxa de carbono da Europa

A taxa de carbono da Europa foi batizada de mecanismo de ajuste de fronteira de carbono (CBAM, em inglês) , e conforme falamos, ela inicialmente impõe uma sobretaxa a aço, cimento, alumínio e eletricidade importados de outros países que não tenham um legislação ambiental tão rigorosa quanto a europeia.

A medida faz parte do chamado pacote Fit for 55, – em que o bloco europeu busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em pelo menos 55% até 2030, ficando abaixo dos níveis de 1990.

Por que a taxa de carbono da Europa está causando polêmica

A questão polêmica é que essa taxa aparentemente só serviria para proteger as indústrias da União Europeia de concorrentes estrangeiros com legislações ambientais menos rigorosas, e por isso mesmo, com custos mais baixos, e até da fuga dessas empresas europeias para produzir nesses lugares de depois exportar para os países do bloco. Os exportadores de Rússia, China, Turquia e Ucrânia estariam entre os maiores afetados.

O Brasil não seria muito afetado nesse primeiro momento, mas é dado como certo que o nosso agronegócio poderia ser alvo de uma ampliação dessa medida, já que existe a questão das emissões causadas pela pecuária bovina, mas mesmo assim, se opôs fortemente à medida.

Preocupação ambiental ou protecionismo disfarçado?

A questão que se coloca é que o efeito estufa não respeita fronteiras. Existe a degradação ambiental causada por indústrias poluidoras que normalmente se restringe ao seu entorno e às regiões onde estão localizadas. E existe o efeito estufa, que causa, como o próprio nome diz, o aquecimento global.

Então, se questiona a postura europeia de, pelo que indica esse raciocínio,  utilizar a questão ambiental como um pretexto para proteção de mercado, porque nada indica que tal medida poderia forçar, ou ao menos induzir, países de fora do bloco a adotar legislações mais rigorosas a respeito das emissões de gases de efeito estufa.

Por outro lado, não seria a primeira vez que governos do Bloco Europeu utilizariam a questão ambiental como mero pretexto para protecionismo de mercado.

Não somos ingênuos a ponto de ignorar que esse tipo de atitude não é inesperada, faz parte da política real. Países defendem seus interesses e os políticos desses países atendem às demandas de eleitores e grupos de pressão.

Mas não deve ser ignorado que a questão das mudanças climáticas é séria e urgente. A resolução das questões ambientais globais avançaria muito mais se o problema não fosse descredibilizado por ações oportunistas e principalmente  unilaterais, sem qualquer tipo de negociação com as partes envolvidas.

E quando se fala em soluções multilaterais, do outro lado do Mundo, a China abre o maior mercado de carbono do mundo.

 

perspectivas agronegócio 2021-2030

Perspectivas do Agronegócio para o Brasil e o mundo de 2021 a 2030 

As perspectivas do agronegócio, tanto para o Brasil como para os países do mundo que são grandes produtores agropecuários são animadoras para os próximos 10 anos. O período 2021-2030 não  verá um crescimento tão exuberante como o ocorrido entre 2011 e  2020, porque o consumo da China não crescerá nas mesmas proporções.  Mas ainda assim, as empresas brasileiras do agronegócio podem se animar, embora haja também grandes desafios a serem superados.

 

A FAO Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em seu relatório anual sobre as perspectivas agrícolas do período 2021-2030, apresentaram a previsão de que que a produção agrícola sofrerá variações de preços em função dos acontecimentos climáticos, pragas e doenças animais e vegetais, alteração dos preços dos insumos e situação macroeconômica mundial.

 

A demanda mundial por commodities agrícolas até 2030

 

A demanda global por commodities agrícolas, incluindo as de uso não alimentar deverá crescer 1,2% ao ano até 2030. Esse crescimento é inferior à expansão média observada no período 2011-2020, que foi de  2,2% ao ano.

 

A razão disso é que a grande locomotiva econômica do mundo, a China, continuará importando muito, embora a taxa de crescimento anual dessa importação seja menor, 0,85%. A título de comparação, na década passada a importação de produtos do agronegócio do gigante asiático, e de outros países emergentes, aumentou em média 2,7% ao ano.

 

Uma outra questão são os biocombustíveis, cuja demanda até 2030 será menor do que foi  entre 2011 e 2020, já que a indústria automobilística tem acelerado a substituição dos veículos movidos por motores à explosão por veículos elétricos, o que explica a Tesla, pioneira na fabricação desse tipo de veículo ter atingido o  valor de mercado de 800 bilhões de dólares, superando não somente outras montadoras, como se tornando a

empresa mais valiosa do mundo em janeiro de 2021.

 

Obviamente a substituição de toda a frota mundial de veículos movidos por motores à  explosão por veículos elétricos ainda  vai demorar muito para acontecer, por razões cuja explicação necessitaria de um outro artigo, bem mais extenso. Mas é uma tendência que  está colocada.

 

O Comércio Internacional no fornecimento mundial de alimentos

 

O comércio internacional continuará a ser crítico para a segurança alimentar global, nutrição, renda agrícola e combate à pobreza rural. No mundo, hoje, em média, aproximadamente 20% do que é consumido internamente é importado, e essa é uma tendência que irá se manter ou até aumentar. Os países da América Latina, por exemplo, exportarão 34% de sua produção agrícola em 2030.

 

 

A produção e consumo mundial de alimentos vão cresces de 2021 a 2030

 

No mundo, espera-se que a disponibilidade de alimentos cresça 4% durante a próxima década, assim como o consumo de alimentos.

A alimentação terá também uma mudança qualitativa, especialmente nos países em desenvolvimento, influenciando positivamente as condições de saúde da população. Nesses países, onde a segurança alimentar muitas vezes é ou foi um problema, aumentará o consumo de proteína animal, especialmente carne bovina e de pesca.

 

Além da questão da qualidade da alimentação, a demanda mundial por alimentos também vai crescer porque a população mundial vai continuar crescendo, chegando a  8,5 bilhões de pessoas até 2030. E a boa notícia é que será possível produzir alimentos para todas essas pessoas de forma sustentável.

 

Como a produção mundial de alimentos irá aumentar

 

O aumento de 4% da produção agrícola mundial previsto para 2030 acontecerá da seguinte maneira:

 

87% aumento da produtividade

 

6% expansão do uso da terra e

 

7% do aumento da intensidade de cultivo.

 

A expansão na produção de carnes e peixes que garantirá o aumento no consumo dessas proteínas de origem animal será resultado de ganhos de produtividade. A ampliação do rebanho contribuirá significativamente para o crescimento da produção pecuária em economias emergentes e países de baixa renda.

 

O papel do Brasil no crescimento da produção de alimentos de 2021 a 2030

 

O Brasil continuará sendo um dos principais fornecedores mundiais de alimentos, incluindo carne bovina, e tenderá a aumentar sua produção, mesmo com um ritmo menor do crescimento da demanda chinesa, ou até com a própria China qualificando novos fornecedores para diminuir sua dependência do Brasil, como colocamos nesse artigo.

 

Também, o Brasil continuará dominando o mercado mundial de soja, ao lado dos Estados Unidos . A produção brasileira poderá crescer 17% e as exportações aumentarão no mesmo ritmo. Até 2030, o Brasil deverá representar 50% das exportações totais de soja. A China importa mais de dois terços do total mundial.

 

O papel da América Latina no crescimento da produção de alimentos de 2021 a 2030

 

A produção agrícola crescerá em toda a América Latina, mas o maior player do agronegócio na região continuará sendo o Brasil, A produção agrícola latino-americana crescerá 14% nos próximos dez anos, e valor líquido das exportações da região crescerá 31%, segundo os estudos. Mas esse crescimento, apesar de relevante, equivalerá a pouco mais da metade da taxa alcançada no período de 2011-2020.

 

Até 2030, a América Latina continuará a ampliar a sua participação no mercado mundial, sendo responsável por:

 

63% das exportações mundiais de soja,

56% das exportações de açúcar,

44% das exportações de pescado,

42% das exportações de carne bovina

33% das exportações de frangos.

 

A questão ambiental e a produção de alimentos.

 

A maior questão que o agronegócio no mundo, e especialmente no Brasil, terá de lidar nos próximos anos é a questão do impacto ambiental da agropecuária. O aumento esperado da produção agrícola pode se dar sem desmatamento, visto que  87% dela virá do aumento da produtividade, e apenas 6% da expansão do uso da terra, o que é muito positivo quando se  fala de alimentar um planeta que terá 8,5 bilhões de habitantes.

 

Entretanto, as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) provenientes da agropecuária deverão aumentar 4% nos próximos dez anos, com a pecuária respondendo com mais de 80% desse crescimento.

 

O desafio do agronegócio será tentar reduzir essas emissões onde for possível, e tentar compensá-las, por exemplo, plantando mais árvores ou  ajudando a preservar a vegetação nativa, onde não for. As mudanças climáticas são um problema real, uma questão que está sobre a mesa, que deve ser abordada com a seriedade que merece,

 

subsídios agrícolas

Subsídios agrícolas: como eles distorcem os preços internacionais dos alimentos 

 Os subsídios agrícolas sempre foram um fator a ser levado em conta no agronegócio. A princípio, eles se justificariam para dar alguma previsibilidade financeira a um setor que depende muito de condições climáticas que, além de imprevisíveis, são incontroláveis. Por mais que um produtor agrícola tenha um padrão de excelência em todos os seus processos, secas, geadas e pragas só são contornáveis até certo ponto. Ninguém pode negociar com a natureza.

 

A segurança alimentar de países inteiros depende de o agronegócio ter uma certa segurança, para que, na hipótese de o produtor agropecuário ser  vitimado por alguma catástrofe natural, ele tenha condições, e estímulos, para no período seguinte iniciar uma nova lavoura, garantindo que as pessoas tenham comida.

 

A justificativa é nobre. Mas talvez os subsídios agrícolas tenham se tornado um remédio cuja dose excessiva está prejudicando o paciente, pois está criando preços artificialmente altos.

 

Qual o volume dos subsídios agrícolas no mundo hoje?

 

Os subsídios agrícolas alcançaram o volume de US$.720 bilhões entre 2018 e 2020, em 54 países, de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Para se ter uma ideia do que significa esse volume, é como se a China, que tem um PIB de US$14,34 trilhões (2019), despejasse 5% de todas as riquezas que produz parta subsidiar a produção de alguma coisa. Seria impossível não causar uma distorção no mercado.

 

Quais os países que mais praticaram o subsídio agrícola

 

Embora os países da Europa, como a França, por exemplo, sejam os que mais comummente utilizam, e defendem com unhas e dentes os subsídios agrícolas, esse artifício é uma prática comum entre muitos países da OCDE. Noruega, Islândia, Suíça, Coreia do Sul e Japão oferecem subsídios e proteções contra a concorrência, por meio de tarifas que representam 40% a 60% da renda dos produtores.

 

Mas eles não são os únicos. Nos últimos anos, China, Índia e Indonésia se destacam entre os países que mais subsidiaram o setor agrícola. Esses países puxaram a fila dos 12 emergentes que mais despejaram subsídios agrícolas em suas economias.

 

Para se ter uma ideia do aumento dos subsídios, entre 2000 e 2002, os 12 países emergentes que mais subsidiaram injetaram US$.44 bilhões ao ano em suas economias. Entre 2018 e 2020, volume ficou em  US$.280 bilhões, numa expansão impulsionada pela China, India e Indonésia, não coincidentemente, três dos países que mais cresceram economicamente no mesmo período, e que estão fazendo com que a balança econômica do mundo penda para a Ásia.

 

Quais os países que mais subsidiam a agricultura (valores para o período 2018-2020)

 

China US$.234,4 bilhões

União Europeia, US$.100,8  bilhões

EUA US$.94,3 bilhões.

Índia US$.123,1 bilhões

 

Cabe lembrar quer o Brasil também subsidia sua agricultura, mas o volume é muito menor, US$.4,6 bilhões.

 

 

Por que os subsídios agrícolas prejudicam os consumidores

 

Mais da metade dos subsídios agrícolas despejados no mundo atualmente não tem nenhuma função além de distorcer os preços do mercado mundial, beneficiar uma minoria de produtores agrícolas, o que interessa a muitos governos por uma questão de política doméstica e, mesmo que não seja a intenção, penalizar os consumidores, jogando para eles a conta.

 

Entre 2018 e 2020, os consumidores do mundo pagaram um excedente de US$.272 bilhões para adquirir alimentos. Ou seja, o que essas pessoas pagaram mais caro para se alimentar, sob a forma de preços mínimos estabelecidos pelos governos, é mais do que o equivalente ao PIB do Vietnã, que não é uma economia qualquer, mas um dos Novos Tigres Asiáticos.

 

Os Subsídios Agrícolas não financiam o aumento da produtividade do setor no Mundo

 

Uma das justificativas de diversas escolas econômicas para proteção de mercados, o que inclui os subsídios agrícolas, é desenvolver a competitividade de indústrias locais. Entretanto, de todo esse montante colocado em subsídios governamentais à agricultura no mundo, apenas 6% foram efetivamente investidos em inovação na agricultura.

 

Ou seja, os consumidores do mundo não pagaram mais caro para se alimentar para que, em algum momento no futuro, pudessem pagar mais barato em função de inovações tecnológicas ou ganhos por aumento da eficiência operacional da produção. Pagar mais caro hoje apenas garantiu que se pagará mais caro amanhã.

 

É um dinheiro gasto para manter um setor pouco competitivo, sem expectativa de retorno direto para o contribuinte, que no final das contas paga duas vezes por isso: Quando paga seus impostos, e quando vai ao supermercado.

 

O quanto os subsídios encarecem os alimentos para o consumidor.

 

É possível fazer uma média.  No caso da China, que é a maior produtora agrícola do mundo, os preços subsidiados pagos aos agricultores entre 2018 e 2020 tornaram os preços finais pagos pelos consumidores em média  10% mais elevados que a cotação mundial. No Brasil, Austrália, Nova Zelândia, Chile e África do Sul, esse sobrepreço, no mesmo período, ficou abaixo de 5%.

 

Existe solução para a questão dos subsídios agrícolas?

 

A questão é política, e dependeria principalmente do quanto cada país aceitaria ganhar ou perder com uma liberalização das regras do comércios internacional.

 

No caso do Brasil, nosso agronegócio é o mais competitivo do mundo. Temos preço e qualidade para disputar todos os mercados de alimentos do planeta. Mesmo levando em conta que deixamos a desejar em matéria do uso de técnicas avançadas de marketing para agregar valor aos nossos produtos e à designação made in Brazil.

 

Por outro lado, nossos produtos manufaturados ainda dependem de um mercado relativamente fechado para conseguir competir com as importações dentro do próprio mercado brasileiro. E menos ainda têm conseguido fazer isso nos mercados externos.

 

Mesmo que os países que subsidiam pesadamente seus produtores agrícolas aceitassem retirar, ou ao menos diminuir esses subsídios, dificilmente aceitariam fazer isso sem exigir a contrapartida de uma maior abertura do mercado brasileiro de manufaturados, o que gera um impasse político aparentemente insolúvel, que se estende já por décadas.

 

O que o Brasil pode fazer em relação aos subsídios agrícolas.

 

O Brasil pode e deve trabalhar para negociar acordos bilaterais que incluam a abertura de mercados onde nossos produtos agrícolas seriam muito competitivos, mas são prejudicados por subsídios. Mas terá muito mais força para isso se não tiver um flanco vulnerável em relação aos manufaturados feitos no Brasil.

 

Por isso o Brasil precisa investir na competitividade de sua indústria, tornando sua economia mais atrativa  aos investimentos que trarão essa competitividade.

 

Fica a dica para reflexão.