O fim do acordo com a Rússia que permitia as exportações de alimentos da Ucrânia

O fim do acordo com a Rússia que permitia as exportações de alimentos da Ucrânia

Moscou encerrou o acordo firmado meses atrás, com mediação da Turquia e da ONU, que permitia a exportação de grãos da Ucrânia para a Europa, África e Oriente Médio. No período de um ano em que esteve vigente, foram exportados cerca de 32 milhões de toneladas de alimentos, evitando a crise alimentar mundial. Quais as consequências do fim do acordo com a Rússia que permitia as exportações de alimentos da Ucrânia para o Brasil e o Mundo?

Como era o acordo que permitia as exportações de alimentos da Ucrânia

Único acordo firmado entre Rússia e Ucrânia desde a invasão que começou em fevereiro de 2022, o acordo permitia a exportação de produtos agrícolas ucranianos através do Mar Negro sem a interferência das forças russas, garantindo assim que países pobres, como os da África e  Oriente Médio, recebessem alimentos.

Esse acordo ajudou os preços internacionais dos grãos se reduzissem em 20% no período em que esteve vigente.

Por que a Rússia encerrou o acordo de exportações de alimentos ucranianos?

A Rússia encerrou o acordo porque suas exigências para melhorar suas próprias exportações de grãos e fertilizantes não foram atendidas. E afirmou também que os grãos ucranianos não chegavam em quantidades suficientes aos países pobres que deveriam atender.

Para a renovação desse acordo, a Rússia exige que os obstáculos colocados desde a invasão da Ucrânia às suas exportações de produtos agrícolas e fertilizantes sejam retiradas. Se não se chegar a um novo entendimento, a crise alimentar mundial voltará a castigar os países já mencionados acima.

No curto prazo, estima-se que não haverá falta de grãos, mas no médio e longo prazo, poderá haver falta, com repercussões para o aumento da inflação mundial.

Consequências para o Brasil

Com uma safra recorde, há possibilidade de o Brasil conquistar mais mercados para seus produtos agrícolas.  Por outro lado, também aumentariam os preços internos, causando uma pressão inflacionária que dificultaria a queda da Taxa Selic, considerada uma condicionante para a queda dos juros no Brasil, um fator fundamental para a retomada de um crescimento econômico mais vigoroso.

Com relação aos fertilizantes, um insumo estratégico para o nosso agronegócio, o Brasil manteve as importações da Rússia nesse último anos, mas diluiu os riscos, comprando também de outros países fornecedores.

As razões da Rússia

Essa é uma questão sobre a qual podemos apenas especular, mas que podemos tentar entender com base no contexto em que aconteceram tanto a celebração do acordo , quanto seu encerramento.

Quando a guerra se iniciou, é bastante razoável supor que a Rússia acreditava em uma vitória relativamente rápida, mas que afetaria suas relações com vários países do mundo. Nesse contexto, um gesto de caráter humanitário, como facilitar a exportação de alimentos, seria bom para sua imagem e beneficiaria sua diplomacia, quando esta estivesse se posicionando no pós-conflito imaginado por Moscou.

Como sabemos, não foi dessa maneira que a situação se desenrolou, com a Ucrânia, apoiada pelos Estados Unidos e países europeus, impondo uma forte resistência e um confronto muito mais desgastante do que os estrategistas russos imaginavam antes de iniciar a invasão.

Não temos informações sobre a situação política interna da Rússia, o que abre a possibilidade para algumas análises. Uma linha de raciocínio é que o desgaste militar na Ucrânia, somado ao efeito de sanções econômicas, estaria deteriorando o moral russo, que, mesmo com o auxílio que recebe da China, precisaria da receita das exportações para oxigenar sua própria economia.

Essa deterioração explicaria a recente rebelião de Yevgeny Prigozhin, que, embora tenha sido rapidamente neutralizada através de negociações, com o líder do grupo mercenário Wagner se exilando na Bielorrússia, mostrou o que poderia ser um sinal de fraqueza no governo russo.

Fim do acordo de exportação de alimentos ucranianos pode ser parte de uma nova estratégia russa

Embora um desafio tão ostensivo ao poder de Vladimir Putin seja uma novidade na política russa, é muito cedo para se decretar o ocaso do governante, no poder desde 1999. Pode ser, na verdade, uma nova estratégia, de prejudicar os interesses de países que apoiam a Ucrânia.

Há relatos de que combatentes do mesmo Grupo Wagner estariam envolvidos no golpe de Estado que derrubou o presidente do Niger, na região do Sahel, na África, o que tem o potencial de criar um conflito maior na região, já que países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental assumiram posição clara a favor do presidente deposto e Burkina Faso e Mali apoiaram o outro lado, ambos dando declarações fortes.

Os Estados Unidos e países da Europa Ocidental, que são os principais apoiadores, e garantem o esforço de guerra ucraniano, são direta ou indiretamente prejudicados por ambas as situações. A falta de grãos ucranianos no mercado tem o potencial inflacionário em todo o mundo, e a entre os países europeus ocidentais, a França, por exemplo, tem grandes interesses econômicos em suas ex-colônias, como o Niger.

Somados ao fato de que a aguardada contraofensiva ucraniana tem progressos lentos, já que o Exército Russo preparou suas defesas, o conflito tende a se estender indefinidamente.

Seria razoável supor que, da mesma maneira que a guerra é custosa e desgastante para a Rússia, faça parte de uma nova estratégia de Moscou torná-la também mais custosa e desgastante para os países que apoiam a Ucrânia, pensando, inclusive, em qual seria a posição de Rússia, Ucrânia, e seus respectivos aliados em eventuais negociações de paz.

Conclusão

Há necessidade de esforços diplomáticos para evitar a crise da insegurança alimentar, e eles têm boa chance de sucesso. O conflito no Leste europeu, entretanto, parece longe de acabar.

 

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Como o Brasil deve atuar comercialmente na Argentina, Mercosul e na América Latina

O Presidente argentino, Alberto Fernandez fez uma visita não oficial ao Brasil em de maio último, em caráter de cortesia, sendo recebido pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demais autoridades, com o  objetivo de discutir alternativas para incrementar o comércio exterior entre os dois países, que tem sido afetado pela grave crise econômica que nosso vizinho, e maior parceiro no Mercosul, atravessa há alguns anos.

Para o Brasil trata-se de um mercado muito importante, especialmente para a exportação de bens manufaturados, e justamente por essa razão, em tese, um aumento das trocas comerciais com a Argentina seria do interesse da indústria brasileira.

A crise econômica da Argentina

Entretanto, a crise econômica da Argentina tem raízes bastante profundas em decisões políticas e econômicas que o país tomou nos últimos 30 anos, que cobraram o seu preço em matéria de desenvolvimento econômico, social, qualidade da educação no país, que já foi considerado exemplo para a América do Sul, a até da inflação, que no continente, hoje só é abaixo da venezuelana, atingindo dígitos que não eram vistos desde o início da década de 1990.

A Argentina registrou uma inflação de 94,2% em 2022, e tem uma inflação anual de mais de 100% projetada para o ano de  2023, vários tipos de câmbio entre o peso e o dólar, reservas em moeda forte escassas, que não garantem o pagamento das importações e uma dívida em moeda estrangeira crescente, com pendências com o Fundo Monetário Internacional – FMI.

Recentemente, aprofundaram-se os mecanismos de trocas comerciais em moedas nacionais, com aperfeiçoamento dos sistemas dos Bancos Centrais brasileiro e argentino, o que inclui  e aventou-se também a possibilidade de utilização de moeda única no Mercosul, que para a realidade atual dos 4 países membros, é uma completa utopia.

A Argentina já tem um acordo como esse com a China há algum tempo, em que as trocas comerciais entre os dois países podem ser feitas em Peso Argentino ou Renminbi, a Moeda Chinesa, que é erroneamente chamada no Brasil de Yuan.

O acordo feito entre a China e a Argentina  foi interessante para os governos de ambos os países, visto que a Argentina tem uma escassez crônica de dólares e a China tem interesse em internacionalizar sua moeda.

Entretanto, o comércio entre países acontece, na verdade, entre as suas respectivas empresas. Para os exportadores brasileiros, que têm suas despesas em Reais, e eventualmente, em dólares, haveria somente riscos, e pouquíssimas vantagens em vender para a Argentina,  recebendo em moedas nacionais instáveis e voláteis, especialmente o Peso Argentino, tanto que em nenhum momento, foi aventada a obrigação de utilizar tal procedimento.

As exportações brasileiras para a Argentina

As exportações brasileiras para a Argentina aumentaram em mais de 20% em 2023, segundo estimativas do Ministério da Fazenda, mas as poucos brasileiros estão comemorando, pois há mais de 200 empresas brasileiras com dificuldades em receber de importadores argentinos, e vem reduzindo as suas exportações para mitigar os riscos.

Como desestímulo extra, em uma medida que poderia ser considerada um protecionismo disfarçado, a Argentina ainda leva 180 dias para liberar as licenças de importações, o que é prejudicial às empresas brasileiras

O que foi discutido no encontro entre Lula e Alberto Fernandez

 No encontro entre Lula e Alberto Fernandez discutiram-se ações para a criação de estímulos de financiamento às exportações brasileiras via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principalmente dos produtos manufaturados, que caso seja aprovado, geraria um compromisso de a licença de importação cair para 30 dias.

Além disso, o Presidente Lula assumiu um compromisso de conversar com a Presidente do Banco de Desenvolvimento (NDB), mais conhecido como Banco dos BRICS, Dilma Roussef, para tratar da crise argentina e buscar soluções financeiras para o país vizinho.

A presença de produtos brasileiros no mercado argentino

Nos dois últimos anos, os produtos brasileiros têm perdido espaço na exportação de manufaturados para a Argentina para produtos chineses, em função do acordo de trocas comerciais entre a China e a Argentina, de operações em moedas locais (Renminbi e Pesos). Os saldos das exportações e importações tem sido liquidados em Renminbi.

Ninguém nega que a Argentina, um dos poucos países onde os manufaturados brasileiros são competitivos é um mercado muito importante paras nossas exportações, e que deve haver esforços econômicos, comerciais e diplomáticos para fortalecer a nossa presença lá. Mas seria tolice negar que também existem riscos.

Os riscos para o Brasil de um empréstimo para a Argentina

As empresas brasileiras que exportam para a Argentina já estão tendo dificuldades com seus recebíveis, e não se pode simplesmente transferir os riscos para o BNDES, ou até para o  Banco dos BRICS, que para se envolver com a operação, teria de ter a concordância dos países membros, além do Brasil: Rússia, Índia, China e África do Sul.

E, visto que a China já organizou seu próprio sistema de comércio bilateral com a Argentina, qual seria o interesse de Pequim em autorizar uma ajuda financeira que teria como principal objetivo, permitir que os exportadores brasileiros sejam mais competitivos no mercado argentino contra os produtos chineses?

Aventou-se a possibilidade de, para não prejudicar o Brasil, a argentina oferecer como garantia aos eventuais empréstimos brasileiros, suas exportações de commodities, como soja, petróleo, entre outras, mas não se explicou como, em caso de inadimplência, essas garantias seriam executadas.

Alternativas para fomentar as exportações brasileiras para a Argentina e outros países da América latina.

Uma das ideias levantadas por especialistas em Comércio Exterior seria a reativação do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR), extinto em 2019, pelas autoridades brasileiras, em função de alguns créditos não honrados pelos países latino americanos.

O mecanismo do CCR era administrado pelos Bancos Centrais dos países latino americanos que utilizavam um sistema de compensações quadrimestralmente, entre exportações e importações, com garantias dos referidos. Tal instrumento incentivou sobre maneira as trocas comerciais entre os países latino americanos.

O NDB- Banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) poderia garantir a linha de crédito à Argentina, e a utilização do CCR,   a compensação necessária, diluindo riscos.

Conclusão

A volta do CCR seria um tema para reflexão de nossas autoridades, pois pode ser uma alternativa para fomentar as trocas comerciais da América Latina. As mudanças ocorridas no mundo, como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a reversão da Globalização Econômica deixaram o mundo completamente desorientado de políticas de estímulos ao comércio internacional, e nos obrigam a sermos criativos.

Além disso, preservar as relações entre o Brasil e a Argentina, o Mercosul e os demais países latinos americanos é importante para retomar a liderança brasileira na região,  como foi no passado. Mas sem expor as empresas brasileiras a riscos exagerados.

 

 

 

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As visitas do presidente lula à China e aos Emirados Árabes Unidos

As visitas do presidente Lula à China e aos Emirados Árabes Unidos, com uma comitiva de autoridades e empresários se mostrou positiva do ponto de vista econômico, visto  que a China é o principal parceiro comercial do Brasil, destino de aproximadamente 25% de nossas exportações, e os Emirados Árabes Unidos são um país importante em uma região também muito relevante comercialmente para nós.

Para se ter uma ideia dessa relevância comercial, em 2022 as exportações do Brasil para os 22 países árabes alcançaram USD 17,74 Bilhões, uma alta de 23,06% em relação a 2021, sendo que os principais itens vendidos para eles foram açúcar, frango e minério de ferro.

Acordos comerciais fechados entre o Brasil e a China na visita de Lula

Na visita de Lula foram assinados 15 acordos em nível do governo federal e outros acordos em nível dos estados e do setor empresarial, e serão criados mecanismos para a facilitação do comércio entre os dois países. Um dos mais importantes é o acordo para certificações sanitárias e para entrada de produtos animais.

Foi assinado também um acordo com a Vale para a construção de uma ferrovia no Pará, um projeto que prevê um investimento de aproximadamente R$7,00 bilhões, além de vários acordos nas áreas de energia e construção de navios para o transporte de celuloses, assinado entre a brasileira Suzano e a empresa chinesa Cosco, e acordos para pesquisa, desenvolvimento e inovação, que devem beneficiar a indústria de manufaturados no Brasil.

Transações internacionais em moedas nacionais: Dólar, Real ou Renminbi?

Sobre o acordo financeiro para transações de comércio exterior e de investimentos em moedas nacionais dos dois países, Real e Renminbi, ao invés do Dólar, é absolutamente prematuro fazer qualquer previsão se vai, ou não, dar certo, pois depende essencialmente das empresas que atual importando e exportando, e da conversibilidade das moedas no futuro.

É evidente que a China tem uma visão, um planejamento estratégico de longo prazo, que inclui ter sua moeda como padrão de comércio internacional. Mas, para uma maior internacionalização de uma moeda, no caso, o Renminbi, elas deve se tornar mais conversível, ou seja, precisa ser aceita em qualquer banco dos países estrangeiros, além de destacar o fator estabilidade, que a torna mais atrativa quando um país quer formar reservas cambiais.

As reservas cambiais brasileiras, até 2022, eram formadas nas seguintes moedas:

dólar norte-americano: 80,34%

euro: 5,04%

renminbi (China): 4,99%

libra esterlina (Reino Unido): 3,47%

ouro: 2,25%

iene (Japão): 1,93%

dólar canadense: 1,01%

dólar australiano: 0,97%

Não há a menor dúvida de que a China, além de um parceiro comercial muito importante para o Brasil, tem um planejamento estratégico, e deve ser levada à sério em tudo o que se propõe a fazer.

Mas, independentemente disso, inclusive do quanto a economia do gigante asiático cresceu, uma mudança de padrão do uso de uma moeda internacional depende de mudanças que, se forem acontecer, ainda não estão claramente colocadas no horizonte visível. Convém se preparar para todas as possibilidades, observar e aguardar.

Acordos comerciais fechados entre o Brasil e a os Emirados Árabes Unidos na visita de Lula

Na viagem aos Emirados Árabes Unidos, foram reforçados laços econômicos e políticos na região, sendo que o fundo Mubadala assinou um acordo para produzir combustíveis limpos na Refinaria na Bahia.

Guerra na Ucrânia é questão complexa, em que o Brasil não tem como interferir

A guerra na Ucrânia é uma questão complexa, que envolve diretamente, a Ucrânia (obviamente), a Rússia, um país que é parceiro do Brasil no BRICS, e indiretamente a China, nosso maior parceiro comercial, os Estados Unidos, nosso segundo maior parceiro comercial, e praticamente todos os países da Europa. Muitos deles, também países com os quais o Brasil mantém excelentes relações diplomáticas e comerciais.

O conflito, que já se estende por mais de um ano, chegou a um status de impasse, que infelizmente, não tem um fim previsível no horizonte, sendo a única certeza a de que já causou profundas mudanças na geopolítica mundial.

Com sua tradição de neutralidade e pacifismo, além de diplomacia conhecida por sua competência e credibilidade, o Brasil poderia, sim, dar sua contribuição para um processo de negociação que leve ao fim do conflito. Mas seria prudente esperar um momento mais adequado para isso.

O papel internacional do Brasil

Não temos como interferir no conflito entre Rússia e Ucrânia nesse momento. Mas isso não significa nenhum tipo de complexo de vira-latas ou de falta de confiança nas capacidades e potencialidades do Brasil, porque temos condições de ser players mundiais em duas questões importantes para todo o planeta. A preservação do meio-ambiente e a segurança alimentar.

ESG e Segurança Alimentar são oportunidades de atrair investimentos internacionais

O mundo está em transformação e os padrões ESG (meio ambiente, sustentabilidade e governança) terão um peso cada vez maior nas relações internacionais e na destinação de investimentos.

O Brasil é um candidato natural a líder regional e mundial na questão ambiental, que é importante para o público e os tomadores de decisão das principais empresas do mundo. O atual governo deve buscar um posicionamento propositivo nessa área, colocando as necessidades de investimento para a preservação do meio ambiente, assim como as ações de governança para oferecer segurança aos investidores, garantindo relações equilibradas entre os países.

Brasil  pode se posicionar como garantidor da segurança alimentar

Outra grande oportunidade para o Brasil é que nossa imagem, no mundo, a Marca Brasil, é diretamente relacionada a “real food”, alimentos de boa qualidade. É uma excelente oportunidade para posicionar o Brasil não como um exportador, mas como o garantidor da segurança sanitária e alimentar de vários países, entre eles os do  Sudeste Asiático e Oriente Médio.

Oportunidades para as empresas brasileiras com as viagens de Lula

Cabe ao setor empresarial brasileiro avançar na presença constante no mercado chinês e no mercado árabe, aproveitando as oportunidades abertas pelo governo e incrementar nosso comércio exterior, investir nesses mercados e receber investimentos deles.  E às empresas brasileiras que ainda não  se prepararam para dar esse passo, fazê-lo o mais rápido possível.

Como dizia Peter Drucker: “ O futuro não se prevê, se cria”.

1 ano invasão da Ucrânia

Como a invasão da Ucrânia, que completou 1 ano, mudou as relações internacionais

Em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia invadiu a Ucrânia, quebrando um paradigma de quase 80 anos de Paz na Europa, no que se refere a um país invadir outro com o objetivo de anexar territórios.  Quando o conflito havia completado um mês, escrevemos esse artigo com nossas previsões sobre as consequências para a economia, o comércio e a política internacionais.

Passados 12 meses do início do conflito, analisamos agora quais das nossas previsões foram certeiras, e quais não foram, pois adivinhar o futuro continua sendo uma arte tão ingrata quanto sempre foi. Mas o certo é que a invasão da Ucrânia, que completou1 ano, mudou as relações internacionais

A Economia da Rússia não entrou em colapso

Imediatamente após a invasão da Ucrânia, foram impostas sanções econômicas duríssimas contra a Rússia. O efeito que isso traria era incerto, porque sanções econômicas semelhantes aplicadas contra  países com economias bem menores, apesar de terem causado dificuldades no dia a dia de suas populações, não fizeram com que os governos desses países mudassem os cursos de ação que motivaram tais sanções.

Obviamente, houve algum efeito, com a saída em massa de diversas empresas do país, da norte-americana Mcdonalds à francesa Renault, mas a economia da Rússia não entrou em colapso. Aliás, dadas as circunstâncias, pode-se dizer que a Rússia está “muito bem, obrigado”., continuando firme no mercado internacional, vendendo petróleo para China, Índia, e países do Oriente Médio. E mantendo todas as demais transações comerciais e financeiras com eles.

A Europa não entrou em uma espiral inflacionária descontrolada por causa dos preços da energia.

Com relação à inflação na Europa, o maior problema no continente nesse momento é o desemprego, embora a pressão inflacionária persistam, há uma acomodação dos preços, com o gás antes fornecido pela Rússia sendo suprido pelo fornecimento do Qatar e dos Estados Unidos.

A Rússia não conseguiu usar a ameaça do corte no fornecimento de gás como recurso militar.

Ao contrário do que se temia, o inverno na Europa não foi tão rigoroso, fazendo com que não somente não houvesse um aumento do consumo, e consequentemente, dos preços, pressionando a inflação, como a ameaça de corte do fornecimento não serviu como poder de dissuasão da Rússia contra os países da Europa Ocidental.

A Ucrânia ofereceu uma resistência maior do que qualquer um esperava. Inclusive Vladimir Putin.

Acreditamos que, quando decidiu pela invasão, Vladimir Putin esperava uma conquista sem dar um único tiro, como ocorreu com a anexação da Criméia em 2014, ou, no máximo, uma guerra que não passaria de duas semanas, com a Ucrânia tendo de aceitar todas as condições impostas a ela, restando ao resto do mundo protestar formalmente, mas aceitar o fato consumado.

O que surpreendeu Vladimir Putin, e muita gente ao redor do mundo, dado o tamanho e nível de tecnologia do arsenal russo, e também de seu exército, que tem a reputação de não brincar em serviço, foi a capacidade de resistência da Ucrânia. E, não podemos deixar de reconhecer, da liderança de Volodymyr Zelensky.

Quem é Volodymyr Zelensky

Volodymyr Zelensky, um ex-comediante que ganhou fama na TV foi alçado ao poder como consequência de uma onda de protestos que, em 2014, reuniu em um mesmo contexto uma profunda descrença com os políticos tradicionais da Ucrânia, e um dos dilemas nacionais que o país sempre teve antes da invasão, de se aproximar mais da Rússia ou da Europa Ocidental, já que sempre existiu, de fato, uma parte da população ucraniana com afinidades com a Rússia.

Nessa agitação política e social, que derrubou o então presidente pró-Rússia, Viktor Ianukovytch, foram eleitas também outras celebridades ucranianas, como por exemplo Vitali Klitschko, ex-campeão mundial de Boxe na categoria peso-pesado, prefeito da capital, Kiev, desde 2014, e que tem se comportado dignamente desde que a crise começou, pelo menos, de acordo com as notícias que chegam até nós.

Antipolíticos são um fenômeno já antigo, e até corriqueiro, em todas as democracias do mundo. Os norte-americanos, por exemplo, tem a figura do outsider. Mas é muito raro que celebridades utilizando sua fama para chegar à cargos políticos sejam capazes de entregar o que seus eleitores, muitas vezes pessoas descontentes, querendo protestar contra o famigerado “sistema”, esperam delas.

Então, não podemos deixar de comentar que é surpreendente a maneira como Volodymyr Zelensky conseguiu não somente inspirar sua população e seu exército a lutar, como trazer para o seu lado aliados de peso, como os Estados Unidos, os países da Europa Oriental e da Europa Ocidental, boa parte deles membros da OTAN, a Aliança do Tratado do Atlântico Norte, que hoje recuperou boa parte, senão toda, a relevância que tinha na época da Guerra Fria.

Mas, vale lembrar que os Estados Unidos e os países da Europa tem seus motivos para apoiar a Ucrânia com armas, munições e todo o tipo de recurso, como têm feito. Assim como tem evitado entrar no conflito diretamente, repetindo a lógica das guerras por procuração que aconteciam na época da Guerra Fria, como as ocorridas na Coreia, Vietnã e Afeganistão, tendo Estados Unidos de um lado e a então União Soviética do outro.

Da mesma maneira, os aliados da Rússia, especialmente a China, tem seus motivos para agir dessa maneira, como trataremos a seguir.

Porque a Guerra na Ucrânia é importante para a Europa

A invasão da Ucrânia trouxe para o cenário europeu situações que não eram vistas desde a Segunda Guerra Mundial, de países invadindo outros para conquistar territórios, e temores da época da Guerra Fria, de exércitos marchando a partir de Moscou em direção ao Ocidente. Esse temor é ainda mais forte em países como a Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, que já fizeram parte do império soviético, formalmente ou com governos fantoches.

Para esses países, e mesmo para a Alemanha, maior economia da Europa, não interessa uma crise humanitária ainda maior, com ainda mais refugiados fugindo da Ucrânia. Ou pior, que a aventura saia barata para a Rússia, a ponto de Vladimir Putin achar que vale a pena repeti-la, o que faria de qualquer país do Leste Europeu, especialmente as antigas repúblicas soviéticas, alvos.

Então, a Ucrânia dificilmente receberá armamento capaz de atingir profundamente o território russo, como por exemplo, a capital, Moscou, porque isso escalaria o conflito inimaginavelmente. Mas pode-se dar como certo que receberá todo o auxílio que precisar para causar o maior desgaste possível às forças russas e consequentemente, à sua economia e tecido social. Mesmo que isso encompride o conflito indefinidamente.

Porque a Guerra na Ucrânia é importante para a Rússia.

As afinidades culturais e étnicas entre russos e ucranianos foram o pretexto utilizado, para, supostamente, Vladimir Putin restaurar o prestígio mundial que a Rússia tinha no período do Império Soviético.

Passado um ano do início do conflito, que não tem um fim visível no horizonte, Não seria exagero afirmar que, nesse contexto, os objetivos de Vladimir Putin a essa altura sejam mais modestos, como uma “não derrota” que possa chamar de vitória. Se antes da guerra a Rússia já não era uma democracia propriamente dita, mas também não era uma ditadura escancarada, é razoável afirmar que as coisas mudaram.

 

A Rússia foi reorganizada em torno da guerra e da hostilidade em relação à Otan, a população se revoltou contra a possibilidade do alistamento militar forçado e muitos de seus cidadãos mais bem-educados saíram do país, minando suas perspectivas econômicas de longo prazo, já que a ajuda chinesa não será eterna. Nada disso, entretanto, passa perto de colocar a permanência no poder de Putin, pelo menos, por enquanto.

 

Putin, tido como um líder hábil, um enxadrista político, terá muitos problemas internos se a guerra se prolongar indefinidamente, e ele não tiver ao menos o discurso de uma vitória para apresentar perante seu público interno. O quanto esses problemas seriam capazes de desestabilizar sua posição, é algo que não temos como avaliar, ou prever.

 

Porque a Guerra na Ucrânia é importante para a China

Do ponto de vista da política mundial, não é exagero afirmar que os dois verdadeiros protagonistas da guerra sejam a China e os Estados Unidos, e no xadrez político mundial, Moscou seja uma coadjuvante de Pequim.

Quando começamos a escrever nossos artigos, em 2019, era perfeitamente razoável falar que não fazia sentido analisar a China de uma perspectiva de Guerra Fria, pois o gigante asiático estaria mais interessado em exportar mercadorias do que ideologias e a convivência entre os países que são democráticos, e os que não são, era uma espécie de cooperação em que ambos os lados ganhavam.

Hoje, não somente a China estaria mais empenhada em sua disputa com os Estados Unidos pela liderança mundial, como alguns analistas, como os da The Economist, afirmam que Pequim estaria em busca de uma “validação” de seu sistema político perante o mundo.

É uma análise que faz sentido, e que pode se concretizar em fatos. Ou não. A única certeza que se tem é que para a China a questão internacional mais relevante se chama Taiwan, e que do ponto de vista de Pequim, e talvez até do cidadão chinês médio, é uma província rebelde, e faz sentido retomá-la pela força, se necessário.

Os esforços dos Estados Unidos e de seus aliados para defender a Ucrânia são uma boa medida da resistência que forças chinesas iriam encontrar. E eventuais esforços de Pequim para diminuir essa união, já seriam vislumbres de uma Guerra Fria do Século XXI entre as duas maiores economias do mundo.

Porque a Guerra na Ucrânia é importante para os Estados Unidos

Para os Estados Unidos, confirmando nossas previsões, a Guerra na Ucrânia é uma oportunidade de retomar o protagonismo global que vem diminuindo desde a crise de 2008 e o fracasso na Guerra do Afeganistão, período em que, desde então, o peso político e econômico proporcional da China vêm crescendo, e o poder e influência dos Estados Unidos, diminuindo.

A invasão da Ucrânia de certa maneira, zerou o placar nesse sentido, colocando os Estados Unidos mais do que nunca em uma posição de protagonismo, embora isso tenha seu preço, porque Washington precisa demonstrar o quanto está disposta a defender tanto Taiwan em um hipotético  conflito contra a China, quanto seus aliados europeus.

O que esperar da Ucrânia em relação à guerra

Seria de uma incrível obviedade afirmar que o maior interessado no desfecho rápido desse conflito seja a Ucrânia, porque o conflito acontece lá. Com as grandes perdas humanas e materiais que está tendo, é razoável questionar porque os ucranianos não negociam uma paz que encerre o conflito, já que, apesar de todo o apoio recebido de outros países, quem sem dúvida paga o maior preço é o povo ucraniano.

A questão vai muito além de seu direito de a Ucrânia se considerar mais europeia ou russófila, mesmo lembrando que nesse momento, uma posição pró Rússia dificilmente seria bem vista dentro da  Ucrânia, mas do quanto Kiev teria de ceder para a Moscou para encerrar o conflito.

Nesse momento, apesar das dificuldades, Vladimir Putin não aceitaria menos do que o necessário para se declarar vitorioso no conflito, o que provavelmente incluiria porções consideráveis do território da Ucrânia . E, dependendo do que a Rússia exigir, como os territórios onde estão os principais portos ucranianos no Mar Negro, poderia significar a inviabilização econômica da Ucrânia no futuro.

Para os ucranianos não  resta outra alternativa, exceto continuar lutando.

A posição do Brasil em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia

Já havíamos colocado no passado recente que as relações com a China, nosso maior parceiro comercial, exigiriam habilidade.  Hoje, o mesmo vale para as relações com os Estados Unidos, nosso segundo maior parceiro comercial, e até com a Rússia, com quem o volume de comércio não é tão grande, mas não temos interesse em antagonizar, independentemente de termos ou não conseguido outros fornecedores para os fertilizantes tão importantes para o agronegócio.

Do ponto de vista exclusivo do agronegócio, até se poderia afirmar que os embarque mais lentos de milho e trigo da Ucrânia, devido às inspeções rigorosas dos russos, que já causaram uma queda de 29% dos embarques ucranianos de milho e trigo seriam uma oportunidade para qualquer produtor e exportador agrícola, inclusive o Brasil. Mas a situação é bem mais complexa, e seria de uma incrível miopia analisar a situação sob esse ponto de vista.

O presidente dos EUA, Joe Biden, já pressionou, de maneira mais ou menos velada, reconheçamos, por um posicionamento brasileiro pró Ucrânia. A Alemanha, por sua vez, foi mais longe, pois frente a recusa brasileira de enviar munições para a Ucrânia, vetou a exportação de 29 blindados Guarani fabricados pela IVECO no Brasil, mas que contém peças alemãs, para as Filipinas.

Sempre consideramos e afirmamos que o Brasil, que tem uma tradição histórica de neutralidade, deve buscar defender os interesses do Brasil. E, nesse ponto, faz sentido a estratégia brasileira, encabeçada pelo Presidente Lula, de se propor a mediar negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, pois, na pior das hipóteses, saímos da posição de um país pressionado a se posicionar para a de uma com algum protagonismo.

A questão é: Qual a probabilidade dessa, ou de qualquer outra proposta de mediação de um acordo de paz, ou mesmo um armistício, prosperar?

Quais as chances de negociações de paz entre Rússia e Ucrânia chegarem a um acordo.

O presidente Lula é um político hábil, tem uma imagem positiva no exterior e interlocução tanto com Zelensky quanto com Putin. Talvez mais com esse último. E talvez até pudesse ir mais longe do que a proposta de mediação feita pela China recentemente, que não foi aceita tanto pela Ucrânia quanto pelos países da OTAN, desconfiados quanto à aproximação política entre Pequim e Moscou.

A questão é que, para que negociações prosperem é preciso que ambos os lados estejam dispostos a entregar algo que possuem em troca de algo que desejam. E não vemos, conforme as posições em que se encontram Ucrânia, Rússia e seus respectivos aliados, essas condições nesse momento.

Tendências comércio exterior e investimento

Tendências para o Comércio Internacional e investimento estrangeiro no Brasil em 2023

2023 começou com sinais conflitantes para a economia brasileira. Se por um lado terminou 2022 embalada por um crescimento do PIB de 3,1%, pelo outro, o ano começou conturbado por agitações políticas internas e notícias ruins sobre a governança de uma das maiores varejistas brasileiras. Mas para entender como o mundo vai influenciar o Brasil, vamos analisar as tendências para o comércio internacional e investimento estrangeiro no Brasil em 2023.

O governo brasileiro que acabou de assumir, por um lado terá de lidar com um ambiente externo conturbado por algumas situações às quais terá de se adaptar. Pelo outro, é inegável que assume com “experiência no ofício” e um recall de imagem que pode ajudar. Se souber passar a mensagem certa para o mercado, pode extrair ganhos até de situações adversas, aproveitando oportunidades no comércio e nos investimentos.

Entre as incertezas que se colocam para o comércio e os investimentos internacionais estão a continuidade da pandemia da COVID-19 , a guerra Rússia-Ucrânia, sem esperanças de término no horizonte, a desaceleração econômica global, em função das recentes elevações das taxas de juros na Europa e Estados Unidos, que correm riscos de redução das atividades e até de recessão, e a China, que também não tem expectativas de crescimento acelerado.

Mas vamos falar de quais são as expectativas para as exportações e o crescimento, bem como de cada um dos fronts em que o Brasil deve atuar para ter uma boa performance em abrir, ampliar ou apenas manter posição no comércio Internacional e atrair investimento estrangeiro em 2023.

As perspectivas para as exportações do agronegócios brasileiro em 2023

Com referência às exportações do agronegócio, a expectativa atual de safra recorde de grãos neste ano vai beneficiar o embarque de commodities agrícolas, com uma combinação de volume e câmbio, apesar de que há projeções que os preços das principais commodities devem sofrer uma queda neste ano.

Quanto o Brasil exportará e importará em 2023

As exportações brasileiras totais projetadas para 2023 estão estimadas entre US$.325 bilhões a US$.360 bilhões, enquanto as importações deverão chegar entre US$.250 a US$.300 bilhões. O superávit comercial estaria entre US$.60 a US$.75 bilhões.
Alguns especialistas estimam um cenário mais pessimista, de um superávit comercial de US$.50 bilhões.

Qual será a participação dos negócios internacionais no PIB em 2023

A contribuição do setor externo para o Produto Interno Bruto (PIB) está estimado entre 0,6 a 0,7 ponto percentual, para o crescimento do PIB ao redor de 3,2% estimado para 2022.
Para o ano de 2023, a estimativa de contribuição se reduz para 0,3 ponto percentual, metade do ocorrido em 2022. O PIB de 2023, segundo estimativas, crescerá entre 0,5% a 1,0%.

 

 

 

A China em 2023

As perspectivas em relação à China apresentaram uma leve melhora, com o FMI prevendo um crescimento de 5,2% para o gigante asiático em 2023. Parece pouco quando se compara com os números do crescimento chinês desde o início do século, mas uma boa notícia quando se leva em conta um horizonte mais curto, como 2022, em que a China cresceu apenas 3,0%, primeira vez em 40 anos em que ficou abaixo da média global.

O FMI entretanto, alerta que a retomada chinesa provavelmente não terá muito fôlego, tendendo a cair para 4,5% em 2024 e tendendo a se manter abaixo de 4% nos próximos anos, pela lentidão em realizar reformas estruturais e retomar seu dinamismo empresarial.

Por outro lado, nada indica que o gigante asiático pretenda frear o aumento de seu gasto militar, que em 2022 foi de 230 Bilhões de dólares, preocupando países como a Índia, Japão, Austrália e claro, os Estados Unidos, com quem continuará tendo atritos, inclusive por Taiwan, o que continuará estimulando o processo de reversão da globalização econômica e nacionalização ou regionalização continental das cadeias de produção.

 

Como serão as exportações do Brasil para a China em 2023

A maior parte das nossas exportações para a China estará concentrada em minério de ferro, enquanto as exportações de proteína animal e soja estarão mais retraídas. O ponto positivo é a grande possibilidade de maiores exportações de milho, com a abertura do mercado.

Perspectivas em relação aos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, nosso segundo parceiro comercial, comprador de produtos manufaturados e investidor no Brasil, há preocupação com a possível recessão, mas devemos continuar investindo neste importante mercado, porque não somente ainda é a maior economia do mundo, como é também o maior poder político.

Como serão as exportações do Brasil para países do Sudeste Asiático

As exportações do Brasil para países do Sudeste Asiático tiveram resultados surpreendentes em 2022, e eles continuam abertos às exportações brasileiras. Países como Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã são excelentes mercados para os produtos brasileiros, e é preciso investir neles.

Como serão as exportações do Brasil para países do Oriente Médio

No Oriente Médio e Levante, a demanda por alimentos continuará crescente, para garantir a  segurança alimentar e sanitária da população. Então, é estratégico para o Brasil ampliar os negócios com países do golfo arábico, como Arábia Saudita, Bahrain, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã, que além de bons mercados para os produtos brasileiros, têm muito potencial de investimento através de seus fundos soberanos.

 

Como serão as exportações do Brasil para a União Europeia em 2023

Com a promessa do novo governo no que se refere à proteção ambiental, não somente há possibilidades concretas de aumentar as exportações do agribusiness para a União Europeia, como não haverá mais motivo plausível para que não seja destravado o acordo entre o Mercosul e o Bloco Europeu.

Como serão as exportações do Brasil para os países da África

No caso da África, há mercados já consolidados, como Egito, Nigéria e África do Sul, entre outros em que podemos crescer, como o Marrocos, que também apresentam oportunidades para exportação de máquinas e equipamentos, além das exportações tradicionais.

Como será a relação do Brasil com os países da América Latina

Há crises instaladas em vários países da América Latina nesse momento, inclusive o Chile,  que devem impactar negativamente nossas exportações de manufaturados, e espera-se que o Brasil volte a ter a liderança na região, que, reconheçamos, ficou em segundo plano nos últimos anos,  e que possamos aumentar o comércio entre os países.

Atração de investimentos estrangeiros para o Brasil em 2023

Em 2022 o Brasil também vinha de uma situação relativamente confortável no que se refere à atração de investimentos estrangeiros diretos (IDP), que somaram USD 77,1 bilhões, o correspondente a 4,9 % do nosso PIB. Isso se deveu tanto a algumas reformas liberalizantes que foram feitas, quanto a outros destinos, que seriam nossos concorrentes na atração desses investimentos, que não passam por um bom momento.

Os países do Leste Europeu, por exemplo, não são atrativos a investimentos estrangeiros nesse momento por causa da Guerra entre Rússia e Ucrânia. Já, os países da União Europeia, em razão do mesmo conflito, lidam com altas dos preços da energia, o que também assusta investidores, o que abre mais oportunidades para o Brasil.

Como o Brasil pode atrair mais investimentos estrangeiros em 2023

O Brasil pode atrair mais investimentos estrangeiros em 2023. Se nos basearmos no passado, é inegável que o Presidente Lula tem prestígio internacional, trânsito e carisma. E espera-se do novo governo que passe uma mensagem mais construtiva em relação ao meio-ambiente, já que os fundos de investimento estrangeiros tem critérios bastante rigorosos em relação ao ESG.

Há também, como já falamos várias vezes, as oportunidades trazidas pela desglobalização econômica, em que as cadeias de produção estão sendo retiradas de países da Ásia para serem realocadas em processos de nacionalização ou regionalização continental, o que é uma grande oportunidade para trazer algumas dessas cadeias para o Brasil ou o Mercosul, dando impulso à reindustrialização.

Como o Brasil pode atrair mais investimento estrangeiro e aumentar o comércio internacional. 

Como já falamos anteriormente, existe hoje uma conjuntura internacional que torna o Brasil comparativamente mais atraente que outros destinos para investimentos estrangeiro. Mas uma economia do tamanho da brasileira, com uma população, e um mercado consumidor potencial, de 220 milhões de pessoas não pode se contentar em ser destino preferencial de investimentos somente quando outros destinos estão com problemas.

É preciso ter estratégia!

Para efeitos de curto prazo, é recomendável empreender novas missões comerciais e participar de feiras e exposições internacionais, para aumentar a nossa participação no mercado mundial.

Pensando no médio prazo, mas começando imediatamente,  é necessário fazer as chamadas reformas estruturais, como a administrativa, tributária e política, reduzindo a burocracia, e melhorando a performance dos acordos comerciais, aumentando nossa competitividade como economia,

Além disso, é muito aconselhável investir na construção de uma marca Brasil, em que a origem brasileira de produtos e serviços seja um agregador de valor, como a tecnologia japonesa, a engenharia alemã, o design italiano e até o café colombiano, citando um caso de sucesso de um país da América Latina.

E, finalmente, pensando no longo prazo, é necessário um investimento em educação de base, não somente com verbas, mas com a estratégia correta, para que o Brasil se torne também um polo de inovação tecnológica.

moeda única mercosul

Moeda única no Mercosul não é prioridade. Ou possibilidade real.

A ideia de instituir uma moeda única no Mercosul foi levantada recentemente pelo embaixador da Argentina, sendo, acertadamente, em seguida desmentida pelo Ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad.

Nesse artigo, colocamos nosso ponto de vista sobre porque uma moeda única no Mercosul não é uma prioridade, ou possibilidade real. E também porque insistir nesse ideia faria com que nos desviássemos do foco de onde estão as grandes oportunidades para o Mercosul.

O próprio embaixador argentino, em seguida, explicou que a ideia não seria substituir as moedas nacionais dos países do Mercosul,  mas formatar uma moeda única para as transações comerciais entre eles, sem depender do dólar.

Independentemente das explicações e intenções, a polêmica já estava lançada. E como entre teoria e prática vai uma grande distância, o ministro fez bem em desautorizar a ideia, pois o complexo e demorado processo de instituir uma moeda única nos desviaria da verdadeira oportunidade para o Mercosul: receber as cadeias de produção que estão sendo desglobalizadas e remontadas em uma lógica de nacionalização e regionalização continental, sobre as quais já temos falado há pelo menos 2 anos.

Porque criar uma moeda única para o Mercosul seria complexo e demorado.

Para se criar uma moeda única para o Mercosul, que seria utilizada por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, teríamos de passar antes por todas as etapas de uma integração econômica regional, que seriam: Zona de livre comércio perfeita; União aduaneira com a adoção integral da Tarifa Externa Comum; Mercado comum, com livre circulação de pessoas e capitais; Harmonização de políticas macroeconômicas; Integração total das cadeias produtivas.

A situação do Mercosul Hoje

Zona de Livre Comércio: Não há no Mercosul uma Zona de Livre Comércio, com exceção do setor automotriz, regido por cotas, e do setor de açúcar, também administrado.

União aduaneira : Em relação à União aduaneira, há várias perfurações da Tarifa Externa Comum, com excepcionalidades de regimes especiais, como por exemplo, listas de exceções, ex-tarifários, reduções do imposto de importação para a Argentina, Uruguai e Paraguai para compras de bens de capital e equipamentos de terceiros países, entre outras perfurações.

Política Comercial Comum: Não há uma política comercial comum para terceiros países, nem no caso do setor do agribusiness, ponto forte do bloco. Esse, que aliás, será uma exceção nos processos de desglobalização econômica, seria um campo de atuação em que os quatro parceiros poderiam atuar em mais sintonia, uma oportunidade que todos os países da região vem deixando passar há tempos.

Aliás, pouco se avançou nos aspectos institucionais, que fazem com que os países do Bloco considerem o Mercosul um ator a ser considerado em seus interesses, e instância mais relevante nos acordos comerciais.

Se por um lado, há negociações em andamento com Singapura, Coreia do Sul, Canadá, Líbano e Tunísia, pelo outro o acordo comercial com a Mercosul – União Europeia está paralisado e o Uruguai quer fazer um acordo comercial individual com a China e países do Sudeste Asiático, quebrando as regras do Bloco e enfrentando fortes resistências do Brasil, Paraguai e Argentina.

União Monetária: Finalmente, não faz sentido falar em união monetária, como se chamaria quando vários países tem uma única moeda, quando a Argentina tem cerca de 14 tipos de câmbio para o dólar, instabilidade monetária e cambial, com reservas em moeda forte escassas, e inflação anual em 2022 projetada em 100%.

No caso brasileiro, há uma alta volatilidade cambial, e a inflação anual deve fechar ao redor de 6%. Alta para os padrões desejados, mas controlada, ao contrário do que ocorre com nosso vizinho.

Entretanto, mesmo que resolvêssemos todos esses problemas, o que seria uma condição necessária para uma união monetária no Mercosul, talvez não seja suficiente para que a ideia seja interessante para o Brasil, como explicaremos a seguir, fazendo uma comparação com a única união monetária conhecida, a criação da Zona do Euro, na União Europeia.

Brasil não está preparado para uma moeda única no Mercosul

Prever o futuro continua um ofício tão arriscado quanto sempre foi, mas se podemos aprender algo com a experiência passada da União Europeia é que o Brasil não está preparado para uma moeda única no Mercosul, e não tiramos essa afirmação de nenhum tipo de “complexo de vira latas”, ou coisa do tipo.

A União Europeia, que começou sua integração econômica com a Comunidade Econômica Europeia em 1957, assinou o Tratado de Maastricht para a criação da União Europeia 45 anos depois, em 2002, e levou mais 7 anos para a implantação do Euro, em 2009. Foram anos para a harmonização macroeconômica, com metas de inflação e fiscais, de acordo com o Tratado, e mesmo assim, nem todos os países da União Europeia adotaram o Euro.

Dos 27 países, atualmente membros da União Europeia ,visto que o Reino Unido saiu no célebre, ou infame, BREXIT, sem jamais abrir mão da Libra Esterlina, apenas 20 países usam como moeda o Euro, a saber: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo,
Malta, Países Baixos, Portugal e a partir de 2023, a Croácia.

Já Bulgária, Romênia, República Tcheca, Hungria, Polônia, Dinamarca e Suécia optaram por utilizar suas próprias moedas.

Alemanha é o elo mais forte da corrente da União Europeia

Apesar de toda a lição de casa feita para permitir a integração econômica e monetária, ela não foi indolor. Mesmo tendo entre seus membros alguns dos países mais ricos do mundo, como Alemanha, França e Itália, manter uma moeda forte para todos os países que adotaram o Euro, em certos momentos teve altos custos, divididos entre todos os países membros, mas cuja maior parte da conte coube à Alemanha, o mais rico e industrializado do bloco.

Como alguns devem se lembrar, menos de 10 anos depois que o  economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O’Neil cunhou o termo BRICS como o acrônimo que indicava Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul como economias emergentes e oportunidades de investimento, surgiu o termo PIIGS, que como você deve saber, significa “porco” em Inglês, se referindo à performance econômica muito ruim de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha.

Trocadilhos cruéis à parte, o fato é que a partir de 2010, todos esses países precisaram de socorro econômico, inclusive da União Europeia. E a maior parte dessa conta coube justamente à Alemanha.

O que a Alemanha ganhou com muitos países adotando o Euro

O uso de uma moeda é um comportamento humano aprendido, que depende de percepção. As pessoas acreditam que uma moeda vale que há impresso nela, e sabem que outros também acreditarão nisso, porque existe algo que garante isso. E o que garante o valor do Euro é o Banco Central Europeu, e as economias às quais ele está vinculado, que usam e acreditam na moeda. Especialmente as mais fortes, como a Alemanha.

O Euro permitiu que todo o continente europeu, incluindo os países mais pobres e instáveis, tivessem a mesma moeda que as potências econômicas. Estas, por sua vez, conseguiram que mercados aos quais já estavam integradas logisticamente, tivessem uma moeda forte o suficiente para consumirem suas manufaturas.

Quando a Crise dos PIIGS eclodiu, a Alemanha, e os demais países ricos e industrializados do Bloco Europeu, não tinham muita alternativa além do socorro financeiro. Além de não interessar para eles que os mais frágeis quebrassem, se isso acontecesse, haveria também uma desvalorização brutal da moeda que eles mesmos usavam.

Foi um preço alto para manter a economia, e a política, estáveis no continente. Mas os europeus já pagaram preços muito mais altos na primeira metade do século passado, quando deixaram que crises econômicas desintegrassem o tecido social. E aprenderam com isso.

Porque uma moeda única para o Mercosul é inviável

Transportando a história, e as situações pelo qual os países da Zona do Euro passaram, e atribuindo à maior economia da América Latina, o Brasil, um papel correlato ao da Alemanha na União Europeia, será que o Brasil, que apesar de uma situação fiscal melhor que a maioria de seus vizinhos, ainda luta para se manter equilibrado, teria condições de recomendar, e até ajudar outros  países membros do Mercosul em um ajuste fiscal?

E se, mesmo após esses hipotéticos ajustes, mesmo assim houvesse percalços, como os que ocorreram com Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, o Brasil teria condições de socorrer financeiramente Argentina, Uruguai ou Paraguai, promovendo um resgate financeiro como o feito com esses países europeus na década passada?

Ou seja, é preciso mais que a vontade política de governos para uma união monetária. E para que uma moeda comece a ser usada em comércio internacional, aceita não somente por governos , mas também por pessoas e empresas, não basta querer. Isso extrapola o limite do poder dos governos.

Prova disso é que mesmo com todo o poder econômico, e consequentemente político, da China, o Renminbi, a moeda chinesa, que nós erradamente chamamos de Yuan, corresponde a apenas 6% das transações econômicas internacionais do mundo. 85% delas, por outro lado, acontecem em Dólar Americano.

Onde estão as oportunidades para o Mercosul

Conforme falamos anteriormente, os descomunais esforços e recursos necessários para uma empreitada que nem sabemos se é possível, e cujo retorno, caso acontecesse, seria totalmente incerto, nos desviariam da grande oportunidade que se apresenta para o Brasil e para o Mercosul, que é a reversão da globalização econômica, que está acontecendo no exato momento em que escrevemos esse artigo.

Durante a crise dos respiradores, no início da Pandemia, o mundo enxergou os riscos de concentrar a produção de qualquer item em um único lugar, por mais competitivo que ele seja. Fábricas que antes estavam na China e outras partes da Ásia estão sendo movidas para outros países mais próximos dos centros consumidores, quando não para os próprios, mesmo que os custos de produção neles sejam mais altos, em nome da segurança logística.

Já tendo um arcabouço legal de integração, que sim, precisa ser aperfeiçoado, e alguma integração logística, que tem grandes possibilidades, inclusive se pensarmos em navegação de cabotagem, o Cone Sul é um forte candidato a concentrar grande parte da produção industrial da América do Sul.

Uma oportunidade e um alerta

Essas oportunidades criadas pela desglobalização econômica apareceram porque desde 2020 ocorreram dois fatos inesperados e imprevisíveis: a pandemia, e mais recentemente, a invasão russa na Ucrânia.

Mas cabe o alerta de que as oportunidades não ficam esperando eternamente para serem aproveitadas.

como fazer bons negócios com o MArrocos

Como fazer bons negócios com o Marrocos, o país que surpreendeu na Copa do Mundo do Qatar

O Marrocos chamou a atenção do mundo na Copa do Mundo da FIFA no Qatar -2022.  Enquanto todos esperavam que seguisse a trajetória das seleções “participantes” meras coadjuvantes das potências futebolísticas, o Marrocos surpreendeu, eliminando Bélgica, a campeão mundial de 2010 Espanha, e Portugal, de Cristiano Ronaldo, chegando às semifinais, sendo parada somente pela França, campeã da Copa da Rússia e que em 2022, no Qatar, ficou com o vice-campeonato depois de uma disputa alucinante com a Argentina.

 

Quem gosta de futebol afirma, com razão, que a Copa de 2022 foi a Copa de Messi, coroando o gênio da bola argentino como o maior de sua geração e um dos maiores de todos os tempos, trazendo a Copa do Mundo para a Argentina depois de 36 anos.  E diga-se de passagem, em um momento em que os argentinos precisam muito de um alento.

 

Mas também foi a Copa do Marrocos, que protagonizou uma história que, a seu modo, é tão inspiradora quanto a de Messi, se tornando o primeiro país africano a avançar até uma semifinal de Copa do mundo, e coincidentemente, na primeira vez em que esse evento foi realizado em um país árabe. Aproveitando o momento, vamos falar mais sobre como fazer bons negócios com o Marrocos, o país que surpreendeu na Copa do Mundo do Qatar

 

Onde fica o Marrocos

 

O Marrocos fica no Norte da África, mais precisamente na região conhecida como Magrebe, que inclui também a Tunísia e a Argélia. O Marrocos tem uma extensão territorial de 446,5 mil km², e faz fronteira com a Argélia, com o Saara Ocidental, um território que não é um país, e com a Espanha, a quem pertencem as cidades de Ceuta e Melilla.

 

O Marrocos é banhado pelo Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo, possuindo uma localização estratégica em termos geográficos, está situado entre s Europa, África e Oriente Médio.

 

 

A história e cultura do Marrocos

 

O Marrocos tem vestígios de ocupação humana que datam da pré-História, e seu nome é derivado de Marrakesh, ou Marraquexe, uma de suas principais cidades. A maioria da população é berbere, mas o país tem influência das civilizações fenícia, cartaginesa, romana, vândala e bizantina,  antes de ser conquistado pelo Império Árabe, que deixou como legado a religião muçulmana, que é seguida por quase 100% da população.

 

No Marrocos se fala duas línguas. O Árabe e o Tamazigue, que vem de Tuaregue, uma das línguas berberes.

 

O Marrocos no Imaginário Ocidental

 

Além de toda a milenar história cultural, com a presença de tantas civilizações, o Marrocos sempre esteve presente no imaginário ocidental pela forte presença europeia na região nos séculos IXX e XX. Em 1904 a França e a Espanha, em sua fase de potências coloniais, dividiram o território do Marrocos entre si, sendo quem em 1904 a França estabeleceu formalmente um protetorado.

 

Quando a França foi dominada pela Alemanha, durante a II Guerra Mundial, o Marrocos também passou para o domínio dos alemães, assim como boa parte do Norte da África. É justamente nessa época 1942, que foi produzido Casablanca, filme que trazia Humpfrey Bogart e Ingrid Bergman nos papeis principais, e foi responsável por muito da imagem que o Ocidente tem a respeito do Marrocos.

 

O sistema político do Marrocos

 

O Reino do Marrocos é uma Monarquia Constitucional desde sua independência da França, em 1956, sendo que o Rei exerce o papel de chefe de governo. O Atual Rei do Marrocos é Maomé IV, no trono desde 1.999. Como outras Monarquias Constitucionais, o Marrocos tem também um Primeiro Ministro, indicado pelo rei, que desde 2021 é Aziz Akhannouch.

 

A Economia do Marrocos

 

O PIB do Marrocos é de US$,143,5 bilhões, e seu PIB Per capita é de US$.3.763,00, em números de 2021. O pais tem 38 milhões de habitantes, e as principais cidades são Rabat (sua capital), Casablanca, Marrakesh, Tanger, Agadir, Fez, Meknes, Essaovira e Quazazarte.

 

A  economia do Marrocos é diversificada, com indústrias fortes na agricultura, turismo e manufatura. Nos últimos anos, há um expressivo crescimento no número de empresas de tecnologia, contabilizando mais de 2000 startups no primeiro semestre de 2022, e permanece sólida devido às exportações e ao boom de investimento privado no país, especialmente no Turismo.

 

O crescimento econômico do Marrocos

 

A pandemia da COVID 19 causou, em 2019, a primeira recessão no Marrocos desde 1995. Mas a economia se recuperou e cresceu 5.7% em 2021, com previsão para crescer  3,1% em 2022 e 3,7% em 2023, de acordo com o FMI – Fundo Monetário Internacional.

 

As relações comerciais entre Brasil e Marrocos

 

As exportações brasileiras para o Marrocos somaram US$.1,009 bilhão de janeiro a novembro de 2022 e as importações no mesmo período alcançaram a US$.2,033 bilhões, com déficit comercial para o Brasil de US$.1,024 bilhão.

 

As exportações brasileiras para o Marrocos

 

Os principais produtos brasileiros exportados para o Marrocos em 2022 foram:

Animais vivos,

Produtos químicos,

Máquinas e equipamentos de transporte,

Bebidas,

Celulose,

Melaços,

Carnes de aves frescas e congeladas,

Açúcar

Cereais, principalmente soja e milho,

Pimenta do reino,

Café

Trigo,

Tabaco,

Veículos,

Equipamentos médicos e odontológicos,

Máquinas agrícolas como colheitadeiras e pulverizadores.

 

As importações brasileiras do Marrocos

 

O Marrocos exporta para o Brasil os seguintes produtos:

pescados, como a sardinha

Fosfatos e fosfatados,

matéria-prima para fertilizantes.

 

Oportunidades para os exportadores brasileiros no Marrocos

 

É interessante observar que apesar da pauta exportadora do Brasil para o Marrocos ser bem mais variada que a importadora, o valor importado é muito maior do que o exportado, quase o dobro, o que se explica pela matéria prima para fertilizantes, insumo vital para o agronegócio brasileiro, e que se tornou problemático desde a invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra que ocorre desde então.

 

Mas existem oportunidades para os exportadores brasileiros fazerem bons negócios com o Marrocos com os seguintes produtos:

 

Cafés especiais,

Frutas tropicais,

Material genético animal avícola (ovos férteis e pintos de um dia) e bovino,

Erva mate,

Castanha de baú,

Castanha do Brasil,

Açaí

Máquinas e implementos agrícolas.

 

Oportunidades para os importadores brasileiros no Marrocos

 

Os importadores brasileiros podem ainda fazer bons negócios com o Marrocos, importando frutas vermelhas congeladas, azeite de oliva, azeitonas em conserva e óleo de organ, produto utilizado para a culinária e o setor de cosméticos.

 

Investidores do Marrocos no Brasil

 

Em 2022 o governo marroquino autorizou o lançamento de um fundo soberano, com um orçamento de 4,1 mil milhões de euros, para estimular o investimento público, mas ao contrário de outros fundos soberanos, esse ainda não atua no Brasil, mas a A OCP- Companhia Ofice Chérifiendes Phosphates, a maior empresa de fertilizantes do Marrocos está presente no nosso mercado desde 2010, com sete escritórios no país.

 

Acordos comerciais de que o Marrocos faz parte

 

O Marrocos tem acordos de livre comércio com a União Europeia, Estados Unidos e Países Árabes, sendo um país a ser observado pelos empresários de comércio exterior por seu mercado e por ser também um hub para reexportação para outros países africanos, árabes e europeus. E não podemos deixar de falar, um país a ser observado pelo que sua seleção de futebol pode fazer.

crise-econômica argentina não tem saída indolor

A crise econômica da Argentina não tem saída indolor

A crise econômica da Argentina não tem saída indolor. É temerário iniciar um artigo pela sua conclusão, mas quando analisamos as medidas de curto prazo tomadas pelo governo argentino para vencer a hecatombe econômica da escassez de reservas internacionais, é possível perceber um padrão nas medidas de curtíssimo prazo, que tentam poupar a Argentina das dores dos ajustes que precisa, mas ao mesmo tempo perpetuam sua tragédia.

A crise de reservas internacionais da Argentina

A crise de reservas internacionais da Argentina não é novidade. Ela ficou evidenciada no acordo feito com a China no início de 2022 para permitir o comércio entre os dois países em moeda chinesa. Esse acordo sem dúvida foi conveniente para ambos os parceiros, porque a Argentina não tem reservas em dólar suficientes para as necessidades do país e a China tem intenção de fazer com que o Renminbi seja mais aceito internacionalmente.

Mas dado o tamanho da crise, esse foi apenas um paliativo. Em setembro de 2022, as reservas em dólares da Argentina estavam em torno de 2 bilhões de dólares, segundo o Banco central do país. Muito pouco para um país que tem um PIB de 383,1 bilhões  de dólares, em números de 2020.

A crise é tão grave que nem o crescimento do PIB em “números chineses”, 6,9% no segundo trimestre de 2022, consegue amenizá-la, já que a inflação também é altíssima, somente abaixo no continente americano da inacreditável inflação da Venezuela, de 700% ao ano. Em setembro de 2022, a Argentina já atingia 83% de inflação acumulada em 12 meses.

Esse nível de perda de valor da moeda nacional é uma catástrofe econômica que somente os brasileiros com 50 anos de idade, ou mais, conheceram. E com certeza não tem saudades, porque as consequências sociais, especialmente para os mais pobres, são enormes e, principalmente, perversas.

Os muitos câmbios Dólar-Peso Argentino

A Argentina tem hoje 15 tipos de câmbio diferentes entre o Dólar e o Peso Argentino, sendo que alguns deles já ultrapassaram em mais de 100% o câmbio oficial, e todos são, com o perdão da expressão, gambiarras criadas para evitar um aumento de impostos que irritaria ainda mais um povo que já está no limite de sua paciência. E fazer com que os cidadãos argentinos utilizem para consumo seus dólares guardados em casa.

Entre as excentricidades cambiais, há um Dólar especial para a importação de bens de capital e insumos para indústria, garantida por lei aos importadores no câmbio oficial. Por outro lado, para incentivar as exportações de soja, foi criado o dólar-soja com cotação a 200 pesos por dólar. Contudo, há um imposto de exportação para as vendas externas da commodity, que  tem incentivado o contrabando de soja para o Brasil, prática ilegal.

E, obviamente existe um mercado ilegal da moeda norte-americana, o dólar blue. A sua cotação em 18/10/2022 era de 283,00 pesos por dólar e o câmbio oficial é de 150,75 Pesos Argentinos.

Os efeitos da crise econômica argentina para o Brasil

Sem rodeios, a crise econômica na Argentina é péssima para o Brasil. Não somente porque nosso vizinho é, apesar da crise, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, e mercado em que nossos produtos manufaturados ainda conseguem competitividade, como também porque pode nos custar oportunidades.

O mundo vive um momento de regionalização continental das cadeias de produção, em que, por causa do caos logístico causado pela pandemia de COVID 19, e pela guerra na Ucrânia, muitas industrias estão saindo da China e de outros países da Ásia para locais em que fábricas  e mercados consumidores possam estar mais próximos entre si, diminuindo riscos logísticos.

Se esse cenário se concretizar, termos vizinhos com os quais já somos economicamente integrados, inclusive do ponto de vista de normas e regulações, garantidas pelo Mercosul, e uma logística que tende a se aprimorar com as amarras protecionistas que foram retiradas da navegação de cabotagem, tanto no litoral brasileiro, quanto entre nós e nossos vizinhos do Cone Sul, a própria Argentina, e o Uruguai, seria uma grande vantagem competitiva.

Entretanto, dado o grau de instabilidade política e social que uma crise econômica dessas proporções pode causar, tudo se torna mais arriscado e imprevisível, inclusive uma integração econômica mais profunda.

O perverso efeito social da crise econômica

As crises econômicas que a Argentina passou ao longo das últimas décadas inviabilizaram governos e chegaram a derrubar presidentes. Mas, se nada indica uma deterioração social como a ocorrida na Venezuela, de onde as pessoas fugiam atravessando a fronteira com o Brasil, criando uma crise de refugiados em Roraima, nada indica também uma melhora substancial que possa tirar a Argentina dessa crise.

É triste, mas não é incorreto afirmar que já faz anos que a Argentina está em um limbo econômico e social.

Por que a Argentina vive uma crise econômica aparentemente interminável

Como muitos países da América Latina, incluindo o Brasil, a Argentina tinha uma inflação altíssima na década de 1980 e passou por um processo de estabilização na década de 1990, atrelando sua moeda com uma conversibilidade forçada ao Dólar, dois anos antes do que foi feito no Brasil com o Plano Real, embora o plano de estabilização brasileiro tivesse diferenças do argentino no que se refere à conversibilidade forçada, que a Argentina adotou, e o Brasil, não.

Esse processo trouxe estabilidade às moedas argentina e brasileira , domando a inflação galopante e garantindo poder de compra à população, especialmente a mais pobre. Mas também trazia seus problemas, como a perda de competitividade das exportações, o que diminuía a capacidade de acumular reservas, e uma inundação do mercado interno por produtos importados com os quais a indústria local não conseguia competir.

O atrelamento ao dólar e a abertura do mercado às importações trazia esses problemas, mas foi o preço que se pagou para impedir o desabastecimento do mercado interno, uma consequência inevitável que ocorria quando se tentava estabilizar uma moeda em um país que tinha inflação na casa dos dois dígitos mensais. Por isso, era impossível mantê-la indefinidamente, e ambos os países tiveram uma saída traumática dela.

O Brasil abandonou o atrelamento do Real ao Dólar, adotando o câmbio flutuante,  em 1998, e a Argentina, em 2001. Se a saída do Brasil da paridade foi dolorosa, é inegável que o país fez ajustes para manter sua credibilidade internacional, que em certos momentos, foram  também dolorosos. A Argentina, por sua vez,  sempre buscou saídas indolores. E deu tão certo quanto daria tratar com analgésicos, tumores que precisam de quimioterapia, apelando a uma metáfora médica.

Entre os exemplos de “feitiçarias econômicas” tentadas na Argentina está o Corralito, quando em, 3 de dezembro de 2001, após a saída da paridade forçada entre dólar e peso, quase 70 bilhões de dólares em depósitos de poupadores foram congelados nos bancos, uma reação impensada a uma corrida bancária  que, até aquele dia, havia levado a uma retirada de fundos de 22 milhões de dólares em menos de três meses. Chegou a haver tumultos nas ruas , com dezenas de mortes.

A Argentina entrou em uma crise política com quedas em série de presidentes da República: Fernando de La Rua renunciou em 21 de dezembro de 2001, após um governo de 2 anos e 11 dias. Adolfo Rodrigues Saá, seu sucessor, durou apenas 7 dias no cargo, renunciando em 31 de dezembro de 2001, não sem antes dar um calote de mais de 100 bilhões de dólares, a maior moratória da história contemporânea, no dia 24 de dezembro de 2001.

Apesar do calote, que depois foi renegociado, a Argentina chegou a passar por período de crescimento econômico criado pelo super ciclo das commodities trazido pelo crescimento chinês, que também beneficiou o Brasil. Mas nunca fez os ajustes econômicos necessários, escolhendo uma política monetária expansionista, que gera uma prosperidade transitória, mas cobra um preço alto no momento seguinte.

Entre as questões que a Argentina evita encarar estão uma economia cada vez mais informal, o desemprego, a escassez de reservas e liquidez para fazer frente aos pagamentos da dívida, ,o alto e déficit nas contas públicas, que se justificam politicamente, e para consumo político interno, por gastos governamentais com forte componente de assistência social, que permanecem intocados devido ao temor de enfrentar os poderosos sindicatos.

Então, a Argentina se mantém indefinidamente com uma política de mitigação dos problemas, tratando sintomas ao invés de combater a doença, buscando uma saída indolor para sua crise econômica. Que, infelizmente, não existe.

relaçoes-Brasil-China

Relações com a China são estratégicas para o Brasil, mas exigirão habilidade no futuro.

As relações com a China são estratégicas para o Brasil, mas a configuração política mundial surgida após a pandemia de Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, que agravaram problemas que já haviam surgido desde a guerra comercial entre os Estados Unidos e China e a questão do gigante asiático em relação a Taiwan colocam questões que exigirão habilidade dos diplomatas e negociadores comerciais brasileiros no futuro.

Nos últimos 20 anos a China teve uma grande mudança de seu status mundial, passando de um país para onde empresas do mundo inteiro montavam suas fábricas em busca de custos de produção baixos ao posto de segunda maior economia do mundo, um país com indústrias e marcas próprias, dispostas a competir globalmente, e com uma classe média de 400 milhões de pessoas, quase duas vezes a população total do Brasil, ávida por consumir.

Paralelamente a essa ascensão econômica, houve uma inevitável ascensão política, em que a China mostrou que não somente tem gás para ultrapassar os Estados Unidos, o que alguns esperam que aconteça por volta de 2030, como também para disputar com os norte-americanos a hegemonia política e militar do planeta.

Durante os primeiros anos do Século XXI, parecia haver um movimento de acomodação entre Estados Unidos e China. Por um lado, as preocupações de Washington no cenário mundial foram pautadas pelo atentado de 11 de setembro de 2001, e as subsequentes intervenções militares no Iraque e no Afeganistão, além de no plano doméstico, ter de lidar com a crise econômica de 2008.

A China, por sua vez, tinha um cenário político internacional mais tranquilo. Questões relevantes para Pequim, como por exemplo, o Tibet, perderam relevância midiática no Ocidente, o que fazia todo o sentido em um momento em que a China assumia o papel de locomotiva econômica do mundo. E Taiwan, que Pequim considera uma província rebelde, estava onde sempre esteve, reconhecida por poucos países como um país independente.

A isso, se somava o fato de que a China, independentemente de ser governada pelo Partido Comunista Chinês, há muito deixou para trás a lógica dos tempos da Guerra Fria, estando mais preocupada em exportar mercadorias do que ideologias. Não haver uma disputa ideológica tão evidente não significava, entretanto, que a convivência da China com outros países fosse sempre harmônica.

A disputa China x Estados Unidos

A Disputa China x Estados Unidos já vinha de administrações anteriores, mas ganhou os contornos de uma guerra comercial estridente e declarada durante a administração Trump, situação que juntamente com a disputa pelo 5G, colocou outros países, como a Austrália, em uma posição de confronto político com Pequim e de uma predisposição a uma subida de tom em suas relações.

A Pandemia de Covid 19, Guerra na Ucrânia e Taiwan

No auge da Guerra Comercial, aconteceu a Pandemia de Covid 19 que paralisou a economia global. As acusações contra a China, que nunca foram provadas, feitas no auge da crise ficaram para trás. Mas ficou claro para o mundo inteiro que a logística da globalização, de se fabricar barato na Ásia para os mercados consumidores de todo o mundo, era por demais vulnerável.

E mal a crise sanitária começou a arrefecer, a Rússia invadiu a Ucrânia, mostrando também as vulnerabilidades criadas na Europa pela dependência do gás russo, que Vladimir Putin utiliza como, literalmente, uma arma, já que a falta dessa comoditie na Europa Ocidental pode causar seríssimos problemas, desde a alta nos preços da energia, que já aconteceu, às pessoas não terem como se aquecer no rigoroso inverno europeu.

O que Taiwan tem a ver com a guerra na Ucrânia

Taiwan está a milhares de quilômetros das regiões onde acontecem os combates entre os exércitos russo e ucraniano, mas o desfecho do conflito no Leste Europeu pode ser muito importante para o destino da ilha de Formosa. E isso não tem a ver com o apoio que Pequim tem dado a Moscou no conflito com Kiev, mas com a mensagem que é passada.

É praticamente um consenso que Vladimir Putin avaliou mal a resistência que encontraria na Ucrânia e até onde o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, estaria disposto a ir para defender a Ucrânia, acreditando que a invasão seria semelhante à anexação da Criméia, que ocorreu sem resistência, em 2014.

A tenacidade do apoio à Ucrânia não seria um recado somente para Vladimir Putin a respeito de novas aventuras expansionistas no Leste Europeu. Seria também um recado para a China a respeito de até onde os Estados Unidos e seus aliados estariam dispostos a ir para defender Taiwan, protegendo um aliado histórico e impedindo que uma potência rival pela hegemonia global dominasse um território que produz 90% dos semicondutores usados no mundo.

Como as guerras influenciaram as decisões econômicas e políticas

O Brasil é, por tradição, um país pacífico. Sem poderio militar que possa impor muito longe de suas fronteiras e sem ameaçar ou ser ameaçado por seus vizinhos sul americanos desde a Guerra do Paraguai, todas as questões de fronteira, disputas territoriais ou de prestígio político no continente estão pacificadas e resolvidas há décadas.

Por isso, e por estar geograficamente longe de onde os grandes conflitos mundiais aconteceram até hoje,  o Brasil desenvolveu uma mentalidade pacífica. A possibilidade de ter de entrar em conflito para defender nosso território de uma invasão estrangeira é algo tão distante que não faz parte da nossa mentalidade, e dificilmente fica em primeiro plano para tomarmos nossas decisões políticas e econômicas.

É uma história diferente, dos países europeus, dos Estados Unidos e da própria China.

A França e a Inglaterra, por exemplo, guerrearam 32 vezes entre 1.109 e 1.815, quando passaram a ser aliadas frequentes contra a Alemanha unificada por Bismark em 1871, situação que durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Rússia, que já tinha sido aliada, ou adversária, no passado, se tornou a União Soviética e assim, uma ameaça maior, que colocou as 3 potências da Europa Ocidental do mesmo lado, em que estão até hoje.

Os Estados Unidos, por sua vez, guerrearam durante seu processo de independência contra seu vizinho do norte, o Canadá, e contra seu vizinho do sul, o México, quando expandiram seu território para o Oeste. Quando essas questões foram pacificadas, se tornaram a potência global do século XX, quando lutaram e venceram a Primeira e principalmente a Segunda Guerra Mundial.

A própria China é um país com 5.000 anos de história e uma longa lista de conflitos, entre eles, ser invadido pelo Japão no século XVI e no Século XX, ser dominado pelo Império Britânico entre essas duas invasões, entrar em guerra com a vizinha Índia em 1962 e 1968 , invadir o vizinho Vietnã em 1979, e participar diretamente da Guerra da Coréia, quando o Exército Chinês entrou em conflito com o Exército Americano.

Esse rápido resumo das histórias brasileira, europeia, americana e chinesa, foi feito para explicar como nesses países o cálculo da segurança nacional do ponto de vista militar, diferentemente do que acontece no Brasil,  afeta com um peso muito maior as decisões políticas e econômicas.

Analisando as sinalizações que se tem com a invasão da Ucrânia, e a escalada da rivalidade entre norte-americanos e chineses, do qual a autonomia de Taiwan não tem como não fazer parte, é razoável pensar que os 30 anos de globalização econômica acelerada entre o fim da Guerra Fria e o início do atual conflito no Leste Europeu representem apenas um pequeno intervalo de paz e relativa harmonia em uma história, infelizmente, muito mais turbulenta.

Logo, se em nome de sua segurança nacional, empresas e países optarem por uma decisão que, pensando no curto e médio prazo, não é economicamente a mais racional, como reverter a globalização econômica em prol da renacionalização ou da regionalização continental das cadeias de produção, essa decisão será coerente com a sua história.

Como a posição geográfica tornou o Brasil um país mais pacífico.

A história do Brasil, também por uma questão geopolítica, é diferente da dos outros grandes players econômicos do mundo. Seria uma excessiva romantização dizer que os brasileiros são mais pacíficos por uma questão de caráter, mas o fato é que até hoje, por questões circunstanciais, e novamente, geopolíticas, nossas principais questões foram resolvidas com relativamente poucos conflitos.

Vamos analisar, por exemplo, o nosso próprio processo de independência e de formação como país, que comemorou 200 anos recentemente. Houve batalhas entre as forças leais a D. Pedro I as leais à Coroa Portuguesa na Província Cisplatina que hoje é Uruguai, Bahia, Piauí, Pará e Maranhão. Mas nossa metrópole colonial, Portugal, não tinha naquela época recursos para reunir uma força militar capaz de atravessar o Oceano Atlântico e reconquistar o Brasil.

Logo, não foi uma questão de um caráter essencialmente mais pacífico de brasileiros ou portugueses, mas uma questão de geopolítica e de circunstâncias econômicas que fez nosso processo de independência, e quase todas as outras questões de política internacional em que o Brasil se envolveu, ser mais baseado em negociações do que em conflitos armados, sendo talvez a única exceção o envio da FEB para se juntar aos aliados na Itália na 2ª Guerra Mundial.

Esse histórico de poucos conflitos nos trouxe duas grandes vantagens. A primeira delas é que o Brasil não tem que lidar com ressentimentos relativos a questões do passado. A segunda, que está muito ligada à primeira, é que temos um corpo diplomático historicamente muito competente. Ou seja, temos “soft power”.

Como o Brasil se insere na disputa entre China e Estados Unidos.

A China é nosso principal parceiro comercial nas últimas duas décadas, destino de 25% de nossas exportações. Uma relação comercial que nos interessa enormemente, como mostram alguns números, inclusive recentes, de transações comerciais.

Exportações brasileiras para a China

As exportações do agronegócio brasileiro, De 2018 até o mês de julho de 2022 somam US$ 444 bilhões , sendo que cerca de US$.265 bilhões (62%) foram destinados à China. Só de soja, que no período o Brasil exportou US$130 bilhões, a China foi destinatária de US$.93,6 bilhões (72%) do total.´

No caso do milho, há interesse da China em importar o produto do Brasil, o que aumentaria ainda mais a pauta exportadora brasileira para o gigante asiático, que nesse mesmo período absorveu 43% das exportações de celulose , 13% das exportações de açúcar e 7% das madeiras.No caso do algodão, as exportações desde 2019 até julho somaram US$.12 bilhões. A China foi responsável por US$.3,24 bilhões (27%) desse total.

Investimentos Chineses no Brasil

Com relação aos investimentos , segundo levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China, empresas chinesas investiram US$.5,9 bilhões em 28 projetos no Brasil em 2021, principalmente nas áreas de energia e infraestrutura. Um volume de investimentos que representou um aumento de 208% em relação a 2020. E no setor de petróleo , a China investiu US$.5 bilhões no Brasil, no mesmo período.

As relações Econômicas Brasil Estados Unidos

O fato de a China ser inequivocamente importante para o Brasil não significa que devemos deixar de lado outros relacionamentos comerciais importantes, como é o caso dos Estados Unidos, que é o segundo maior parceiro comercial, e com o qual temos também fortes laços culturais.

Conclusão

O Brasil deve manter as melhores relações tanto com seu primeiro, como com seu segundo maior parceiro no comércio exterior, China e Estados Unidos, respectivamente. Embora a geografia torne o aumento do poderio militar de Pequim compreensivelmente alarmante para os Estados Unidos e para países da bacia do Pacífico, como Austrália e Japão, ele não ameaça o Brasil diretamente, nos desobrigando de qualquer alinhamento automático.

Outro ponto é que se a reversão da globalização econômica realmente acontecer, uma boa parte da nossa pegada comercial não será afetada, porque ela é basicamente feita pela exportação de alimentos. Uma fábrica pode ser retirada da China, e remontada em outro local mais próximo do centro consumidor, e começar a produzir em um tempo relativamente curto, contanto que se esteja disposto a se pagar o custo maior de produção.

Por outro lado, plantações não podem ser movidas tão facilmente, porque uma lavoura, para ser produtiva na quantidade necessária, depende de condições de solo, clima e extensão de área que são específicas.

Criar variações de sementes adequadas a outros tipos de clima e solo é possível, como demonstra a experiência que transformou o estado de Mato Grosso no produtor de soja que é, que contou com muita pesquisa científica e um demorado processo de tentativa, erro e acerto, por parte de EMBRAPA e de outras instituições de pesquisa e universidades brasileiras. Mas as safras recordes que temos hoje são o resultado de um trabalho iniciado nos anos 1970.

Mas apesar de o Brasil ter percorrido um longo caminho antes de se tornar um case de sucesso no agronegócio, deitar-se em berço esplêndido acreditando que outros países não possam fazer o mesmo, se tornando nossos concorrentes no futuro, seria uma atitude míope, para não dizer arrogante. É justamente aí que entra o trabalho de nossos diplomatas e negociadores comerciais, de manter abertas as portas de todos os mercados para os produtos brasileiros.

Fica a dica para reflexão.